segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Curso História da Bahia e a Aula de Tupi.


Aula de Tupi no Curso de História da Bahia


De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça.
De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude,
a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.
(Rui Barbosa)


Diário de um Aprendiz – Anotações I


Desejo aqui expressar meus sentimentos e apreensões ao estar participando do Curso História da Bahia, coordenado pela Profª Drª Consuelo Pondé de Castro, presidenta do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia - IGHB, e como instrutora, Profª Drª Antonietta D’Aguiar Nunes. Entretanto, inicialmente, afirmo de que sou perfeccionista, embora possua muitas imperfeições, felizmente, temos aprendido com Paulo Freire que dizia que, “Não há vida sem correção, sem retificação”. Não queria que a busca pela escrita perfeita me fizesse mergulhar em profundas autocríticas e por isso, não dividisse com você, caro(a) leitor(a) – estas preocupações acerca do que eu já pensava os Povos Indígenas, seus patrimônios, particularmente, aqui, o lingüístico - sob o predomínio da Língua Tupi, e, ora o que venho assistindo neste Curso não apenas na condução da instrutora, Profª Antonietta, como na aula do segundo dia ministrada pela Profª Consuelo. Novamente me alio ao outro pensamento do mestre citado acima: “Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão”.

Profª Consuelo

Profª Antonietta

Os Povos Indígenas e, especificamente o idioma Tupi, tem sido motivos de grande paixão e pesquisa do meu autodidatismo. Palavras, frases ou textos maiores, nesta língua -, tenho incluído em minhas poesias, textos teatrais, performances, palestras, etc. Pesquiso tudo o que encontro pela frente com relação a este idioma e, como já entendo que há uma histórica confusão quanto o que se chamou e vem se afirmando ser Tupi, terei que ser seletivo quanto às fontes, afinal, posso ampliar ou não as discrepâncias ou erros de muitos autores em afirmar que essa palavra ou aquela expressão é ou não Tupi. Claro, adianto: não sou tupinólogo, contudo, haverei e havemos de ter maior cuidado neste sentido. Enfim, o pouco que sei estou dinamizando e não está morrendo dentro de mim. Como poeta, teatrólogo, pedagogo, diretor teatral – um misto de pesquisador e arte educador, tenho disseminado sobre a importância das Línguas Indígenas e de como a língua Tupi foi importante e continua sendo em nosso país, etc.

Bem. Embora tenha muito interesse na História da Bahia nos aspectos: implantação do CIA, episódios no Recôncavo, Guerras e Levantes, A Revolução do Alfaiates/Búzios, A guerra de Canudos, Revolução dos Malês, etc. Motivei-me bastante por esse Curso História da Bahia a fim de reencontrar a professora Antonietta a qual conheci no final dos anos 80 em virtude de suas pesquisas sobre a Freguesia de São Miguel de Cotegipe/Recôncavo, e, para rever também a professora Consuelo que iria ministrar a aula: “Falares do grupo lingüístico tupi-guarani”. Ambas as professoras são, ao lado dos ilustres professores baianos, como Cid Teixeira, Luis Henrique Dias Tavares, Luiz Roberto Santos Moraes, Maria Hilda Baqueiro Paraíso, Maria do Rosário Gonçalves, entre outros – reservas de notáveis conhecimentos, diante das quais haveremos de muito beber e saciar a nossa sede de saber.

Entretanto, ao longo da sua aula, Profª Consuelo nos apresentava seus pontos de vista com relação ao que, como, onde e com quem se vem investindo em cultura em nosso Estado, governos e empresas. Sem dúvida me associo firmemente a esses seus comentários. Tenho inclusive, trazido essa crítica ao longo de anos junto a políticos, empresários, artistas e produtores culturais, igrejas, universidades, comunidades quilombolas, indígenas, ribeirinhas, etc. Há um fosso, um despropósito nesses investimentos – aliás, eles têm um propósito. Um planejamento bem engendrado, articulado: dificultar o acesso da população, inclusive dos jovens a uma cultura de formação do caráter, da ética, de valores essenciais à melhoria da civilidade.

Nesses últimos dias escrevi às escritoras e professoras Eliane Potiguara e Graça Graúna sobre essa frieza e abandono a que estão submetendo as artes e cultura. Há uma poluição orquestrada, uma má vontade crescente no país, impetrada para que as pessoas diminuam o senso crítico, a capacidade de indignar-se a fim de que se avantaje uma certa “sociedade do espetáculo” que se regozije diante da mediocridade, da vulgaridade e que produza uns tipos de poluições. Os que produzem práticas assim ou que estejam descomprometidos com o contrário - têm mais espaço nas mídias e "investimentos".

Como diminuir os níveis altos de barbarismos/violência nos campos, cidades e no trânsito e a corrupção nos vários setores, enfaticamente na política, se não tivermos princípios, ações e exemplos altruístas, solidários e que formem cidadãos e cidadãs neste país e, isto, desde a sua geração no ventre da mãe, no ventre da família e no ventre social?!

Mas, voltando à aula da professora Consuelo: “Falares do grupo lingüístico tupi-guarani”.

É mais que necessário o esforço para contribuirmos na transformação da sociedade. A cultura e a educação de um povo são a alavanca para conquistarmos o que sonhamos, o que precisamos, o que precisa vir a ser. Sem essa utopia, babau: palavra Tupi que significa: acabou! Ficaremos na pindaíba (pescaria infrutífera) ou ficaremos de caju em caju (de ano em ano) – palavra e expressão da mesma língua – esperando pelo Super-Homem?
Ah, como gostaríamos de que a professora Consuelo tivesse mais tempo e investimentos dos governos para instigar a nhe’enga tupi e, em cursos vindouros, pudesse constituir, quem sabe, grupo(s) de monitores deste idioma!
Ao findar ela a sua aula – a última?! Desejamos profundamente: A’an-i! - “Não!”.
Meio aruru (triste, tristonho, zangado) Insisti-lhe-eu: Taujé? Ejori! – Ao que seria em português: Vamos? Vem!
Para finalizar as primeiras Anotações, afirmo a quem tomar conhecimento destas, de que, tenho estudado e pesquisado solitariamente (autodidata) a Língua Tupi em diversas fontes, particularmente em autores tais como: Eduardo de Almeida Navarro, José de Anchieta, Lemos Barbosa, Silveira Bueno, Aryon Dall’Igna Rodrigues, Teodoro Sampaio, Moacyr Ribeiro de Carvalho, Gonçalves Dias, Darcy Ribeiro, entre outros, sobretudo, nos três primeiros. Contudo, em virtude desse último contato com a professora Consuelo, ficou-me forte o interesse de me aprofundar nas obras do Mestre Frederico Edelweiss, voltadas ao Tupi, muito e porque não desejo estabelecer uma geléia tupínica no que escrevo com paixão. Enfim, foi muito salutar conhecer mais a respeito do que foi conhecida como essa língua-pedra-fundamental: Língua dos Tupinambá, Língua Geral, Língua Brasílica, Brasiliano, O Grego da Terra, Língua da Terra, Nheengatu, Abanheenga... e que erroneamente, foi chamada, escrita, cunhada e até “criada” como disciplina: “língua tupi-guarani”.
Parodiando Gregório Mattos, afirmo: “Triste Brasil! Oh quão dessemelhante”.

Crédito do Cartaz: http://www.ighb.org.br
Créditos das fotos: Créditos (fotos 2 e 3): Sabrina Gledhill ou
Fonte: http://picasaweb.google.com/111221205135580385924/SeminRioNacionalManuelQuerinoVidaEObra?gsessionid=xcRNACdfunNalHe7Zm4LjQ#

7 comentários:

  1. Comentário muito Feliz! como pesquisadores sabemos da importância histórico-cultural dos povos indígenas. Não acredito que o tupi seja uma língua morta, como colocou a professor Consuelo, acredito sim que o resgate é necessário, não só da língua, mas da cultura, da historia, dos fazeres indígenas,e resgatar pesquisar essa cultura é trazer a tona a nossa historia, somos descendente desse passado, que não está morto, por que vive na memória, na cultura oral, pintado nas cavernas, nos livros. Infelizmente estamos presos, a um sistema econômico avassalador, que só visa o lucro, o capital financiar da “credito” a pesquisa, á índio?! Isso é jogar dinheiro fora. Mas não podemos nos afogar e nadar contra a maré, acredito que nossas pesquisas cientificas são fundamentais e preciosas, e a comunidade indígena merece esse resgate, então levar para academia e defender essa cultura, para mim é primordial! Parabéns, amigo pelo seu trabalho, tenho certeza que nossa parceria rendera bons frutos!

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  2. Dema, acho fabuloso seu discurso e seu interesse pela história indígena na formação do nosso país. Volto àquela discussão sobre o Estatuto da Igualdade Racial, já é lei o "estudo da história geral da África e da história da população negra no Brasil nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio no âmbito do currículo escolar (Art. 11º e seu §1º), -o que é fabuloso também- mas precisamos também de Leis como essas para a história da população indígena no Brasil. Nossa ancestralidade ainda não ocupa o seu lugar. Que Deus te abençoe e ilumine nessa caminhada!

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  3. Claro Emili, querida amiga-pesquisadora! Fico feliz por sua visita, seu ponto de vista dinâmico, acolhedor e que com certeza me estimula e será também bom sinalizador para outros que como nós - crêem no resgate e preservação e investimento na(s) cultura(s) e história(s) dos nossos Povos Indígenas!!!

    Gratidão e, parceira, vamos em frente com a expressão tupi, mojar cecê: unir o que foi cortado!

    Beijos!

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  4. Ôi, Tan, que boa a sua visita e seu comentário. A marcha violenta e violentadora iniciada antes do famigerado "Ano de 1500 até os dias atuais", escrito e carimbado pela visão dos colonizadores, continua com sua força hedionda. Os povos indígenas continuam sem acesso à sua vida e cultura. Lutamos por "igualdade" para todo(a)s que estão
    aviltado(a)s nesse país tão desigual e injusto! Recebi como maravilhosa a Lei Nº 10.639/03 e a Lei Nº 11.645/08 a recomendo com maior veemência pois ela resgata as alinaças havidas entre os povos indígenas e afrobrasileiros que tinham e ainda têm um algoz em comum: o etnocentrismo europeista e desumano!

    Humanidade para tod@s!!!

    Gratidão!

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  5. Querido AR, nem tudo são flores com relação as leis 10639 e 11645; penso até que elas alimentam uma especie de separatismo. Já falamos até sobre isso, mas de uma coisa não devemos nunca nos desapartar: o Diálogo. É conversando que a gente pode combater a desumanição. Que Ñanderu nos acolha. G

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  6. Lindo, simples e fundamental: é isso! É nessa estrada que estamos fio por fio no mojar cecê - unir o que foi cortado!

    Que honra e alegria é tê-la sempre por perto!

    Que Ñanderu/Nzambe/Olorun nos acolham!

    Beijos!!!

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  7. G querida G, como me expresei acima: Lindo, simples e fundamental. Você sempre me enche de esperança e me retroalimenta nessa caminhada para dentro de nós mesmos e para "cima".

    Beijos do seu mano e aprendiz!!!

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