terça-feira, 26 de agosto de 2014

ÍNDIO CABOCLO MARCELINO - PROGRAMAÇÃO OFICIAL DO SEMINÁRIO

ÍNDIO CABOCLO MARCELINO

SEMINÁRIO

PROGRAMAÇÃO OFICIAL

LOCAL: OLIVENÇA/ILHÉUS (BAHIA - BRASIL).

24/09/2013 (QUARTA) - ALDEIA ABAETÉ TUPINAMBÁ EM SANTANA

- 8h30: Café da Manhã.

- 9h até 12h: RITUAL – PORANCY TUPINAMBÁ E ABERTURA GERAL. Com: Anciões, Caciques, Lideranças Indígenas, Comunidade Tupinambá e Indígena, Organizadores do Evento, Entidades, Demais Presentes.

- 12h: Almoço.

- 14h até 16h30: RODA DE CONVERSA: SAÚDE E LUTAS INDÍGENAS. Convidados: SESAI - Secretaria Especial de Saúde Indígena (a confirmar); CIMI – Conselho Indigenista Missionário (à confirmar); Povo Tupinambá e Demais Presentes.

- PORANCY DE ENCERRAMENTO.

- 19h: PROGRAMAÇÃO CULTURAL EM OLIVENÇA.

25/09/2014 (QUINTA) ESCOLA ESTADUAL INDÍGENA TUPINAMBÁ DE OLIVENÇA-EEITO EM SAPUCAEIRA.

- 8h30: Café da Manhã.

- 9h até 12h: RITUAL - PORANCY TUPINAMBÁ E RODA DE CONVERSA: HISTÓRIAS CULTURAS E RESISTÊNCIAS DOS POVOS INDÍGENAS.

Com: Profa. Dra. Maria Hilda Baqueiro Paraíso (UFBA – a confirmar); Profa. Dra. Flávia Cristina de Mello (UESC); Prof. Dr. Paulo Santilli (UNESP-Araraquara – a confirmar); Povo Tupinambá e Demais Presentes.

- 12h: Almoço

- 14h até 16h30 RODA DE CONVERSA: EDUCAÇÃO INDÍGENA E EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA. Com: Profa. Dra. Antonia Terra de Calazans Fernandes (USP - Observatório da Educação Indígena – a confirmar); Licenciatura Indígena do IFBA Porto Seguro; Licenciatura Indígena da UNEB - Teixeira de Freitas (a confirmar); Prof. Me. Erlon Fabio de Jesus Costa pela Direção da Escola Estadual Indígena Tupinambá de Olivença; Prof. Dr. Carlos José F. dos Santos do Programas Institucionais de Bolsas de Iniciação à Docência: PIBID (UESC); Educadores Indígenas; Fórum Estadual de Educação Escolar Indígena da Bahia; Secretaria Estadual de Educação da Bahia.

- PORANCY DE ENCERRAMENTO.

- 19h: PROGRAMAÇÃO CULTURAL EM OLIVENÇA.

26/09/2014 (SEXTA) - ALDEIA ITABOÃ EM ÁGUAS DE OLIVENÇA.

- 8h30: Café da Manhã

- 9h até 12h: RITUAL – PORANCY TUPINAMBÁ E A FALA DOS ANCIÕES – TERRA, CULTURA E MEMÓRIA. Com: Anciões Indígenas, Caciques, Lideranças Indígenas, Comunidade Tupinambá e Indígena, Organizadores do Evento, Entidades, Demais Presentes.

- CÉU, ESTRELAS E HISTÓRIAS. Com: Prof. Dr. Jules Batista Soares (UESC).

- 12h: Almoço.

- 14h até 16h30: RODA DE CONVERSA: DEMARCAÇÃO TERRITORIAL. AUTODETERMINAÇÃO E CRIMINALIZAÇÃO: ESTADO, JUSTIÇA E POVOS  INDÍGENAS.

Convidados: FUNAI: Regional e Local (a confirmar); AATR/Bahia - Associação de Advogados/as de Trabalhadores/as Rurais; Tribunal Popular; Povo Tupinambá e Demais Presentes.

- PORANCY DE ENCERRAMENTO.

- 19h: PROGRAMAÇÃO CULTURAL EM OLIVENÇA.

27/09/2014 (Sábado) – ALDEIA GWARINI TABA ATÃ NO SYRYHBA E ALDEIA JAYRY.

- 8h30: Café da Manhã.

- 9h até 12h: VIVÊNCIAS CULTURAIS, ÉTNICAS E AMBIENTAIS. Com todos presentes e o Povo Tupinambá.

- 12h: Almoço.

- 14h até 16h: VIVÊNCIAS CULTURAIS, ÉTNICAS E AMBIENTAIS. Com todos presentes e o Povo Tupinambá.

- 17h: ENCERRAMENTO: “PERSPECTIVAS, AÇÕES E LUTAS DOS POVOS NA LATINOAMERICA” E LEITURA DA CARTA DA V SEMINÁRIO: (Re)Criação do Grupo de Observadores Nacionais e Internacionais de Apoio à Luta do Povo Tupinambá de Olivença, pela demarcação de suas terras, contra a criminalização e violência.

PORANCY DE ENCERRAMENTO.

- 19h: PROGRAMAÇÃO CULTURAL. Apresentações.

28/09/2014 (Domingo) – PRAÇA CENTRAL DE OLIVENÇA – ALDEIA MÃE.

- 6h30: Café da Manhã.

- 7h: CONCENTRAÇÃO PARA A CAMINHADA TUPINAMBÁ DE OLIVENÇA ATÉ O CURURUPE (7 KM).
- CAMINHADA TUPINAMBÁ EM MEMÓRIA AOS MÁRTIRES DO MASSACRE DO RIO CURURUPE E AO ÍNDIO MARCELINO.


- 12h: Almoço.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

MUPOIBA repudia proposta de privatização da saúde indígena

Movimento de Povos Indígenas da Bahia repudia proposta de privatização da saúde indígena

               

O Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia (Mupoiba) entidade que reuni 143 comunidades indígenas de 22 etnias sendo elas: Tupinambá, Pataxó, Pataxó Hã-hã-hã-e, Kiriri, Tuxá, Tumbalalá, Atikum, Pakararé, Kaimbé, Pankarú, Pakararú, Xukuru-Kariri, Kariri-Xóco-Fulni-ô, Funi-ô, Potiguara, Tapuia, Kambiwá, Kapinawá, Xacriabá, Payaya, Kantaruré e Tuxi, totalizando um contingente de mais 56.800 indígenas distribuídos em 33 municípios, vem a público manifestar veemente repúdio a proposta de privatização da saúde indígena no Brasil.

Esta iniciativa está sendo arquitetada por meio da criação do Instituto Nacional de Saúde Indígena (INSI) que, segundo proposta apresentada pelo secretário Especial de Saúde Indígena, Antônio Alves, passaria ser a instituição responsável pela execução das ações de atenção à saúde direcionadas para nós, povos indígenas. Não é segredo para ninguém, muito menos para o governo, que as ações de atenção à saúde indígena são um verdadeiro desastre no Brasil.

No entanto, ao invés de caminhar no sentido de efetivar encaminhamentos aprovados pelos povos indígenas nas diversas conferências de saúde e garantir o verdadeiro controle social pelos povos, o governo pretende, também na área da saúde, retroceder em relação aos nossos direitos. Desse modo, consideramos uma afronta, após tantas tentativas e esforços empregados com o objetivo de melhorarmos a Política da Atenção à Saúde Indígena no país, ficarmos sabendo que o governo federal tem em suas mangas uma proposta pronta de "reforma" desta política. Feita às pressas e sem qualquer procedimento de consulta ou construção coletiva, esta proposta explicita uma postura colonialista do governo federal e um absoluto desrespeito aos povos indígenas de todo o Brasil.

Trata-se de mais uma proposta feita no ar condicionado dos gabinetes de Brasília, totalmente distante da realidade das aldeias indígenas. Pedimos ao Ministério Público Federal que intervenha nesse processo defendendo o direito coletivo dos povos indígenas a um atendimento público e de qualidade na política de saúde indígena. O Estado brasileiro não pode isentar-se dessa responsabilidade para com os povos indígenas. Informamos também que os povos indígenas da Bahia não aceitarão de forma alguma esta proposta e usará todas as formas legais para que tal proposta não seja efetivada, mas se as formas legais não forem suficientes estaremos preparados como sempre para derramar nosso sangue sobre este solo para que nossas crianças tenham de fato e de direito uma saúde de qualidade.

Por último, queremos reafirmar que sem o direito à terra tradicional ser respeitado não existe saúde para os povos indígenas, já que vivendo na beira das estradas, na periferia das cidades ou expulsos de nossos lugares ancestrais, não temos condições de exercer nossos modos de vida tradicionais.
 
Salvador, 14 de agosto de 2014

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Por uma Consciência Étnica - Carta de Garanhuns

Amig@s salve!
Por absoluta saudade da mana muito estimada, Graça Graúna (GG) e pelo quando ainda havemos de empreender esforço e ampliar parceir@s para desfraldar essa bandeira - Consciência Étnica - e mantê-la sempre motivada, posto abaixo a Carta de Garanhuns (PE). Antes da carta, porém, GG, assim escreveu:

Para uma consciência étnica

D. Pretinha (louceira), anciã da comunidade quilombola de Imbé - Capoeiras/PE
Foto: Roberto Tavares, com direção e arte do educador Agostinho Jessé.
Foto: Roberto Tavares, com direção e arte do educador Agostinho Jessé.

UMA EXPLICAÇÃO NECESSÁRIA: durante a Semana dos Povos Indígenas  2008, tive a alegria de reencontrar pessoas amigas durante um Ciclo de Debates no Teatro do Arraial, lá na Rua da Aurora, Recife, onde fiz a abertura do evento Ciclo de Debates de Cultura e História Indígena, a convite da Professora Magdalena Almeida (UPE) e dos amigos da Casa do Carnaval. Isto aconteceu no dia 22 de abril, à tarde; no intervalo para um cafezinho, encontrei Teresa Amaral e Roberto (Fundarpe); este último relembrou com entusiasmo da Carta de Garanhuns que fizemos no Festival de Inverno de 2003, quando coordenei a Primeira Oficina de Literatura Indígena. Tivemos participação de diferentes etnias: Payayá, Fulniô, Potiguar, Xukuru e mais um monte de gente bonita e guerreira que foi se juntando em prol de uma consciência étnica. A carta foi lida pelo poeta baiano Geraldo Maia, no encerramento do festival, no Parque Euclides Dourado. No palco, ficamos de mãos dadas: os poetas Ademario Ribeiro, Geraldo Maia e Juvenal Payayá que vieram da Bahia, e eu. Nesse ritmo também subiu ao palco o amigo Roberto e mais os coordenadores da oficina Ubanga Dikila: Banquete Cultural. Vale lembrar que antes do encerramento, juntamos nossas forças na comunidade quilombola do Castainho; lá, os encantados negros e índios tocaram nosso espirito para dançar o toré e plantar uma gamileira que, hoje, está bem frondosa; pertinho dela se vê e se sente a força do diálogo entre diferentes etnias. Quem for lá em Castainho, perto da gameleira, verá uma placa onde se lê, sem hífem, um nome que criei/sugeri para selar a nossa identidade: indígena e afrodescentente. E foi tanto choro de alegria na hora de plantar a gameleira, que veio uma chuvinha fina como sinal de aprovação da Mãe Natureza que guiou a todos(as) nós naquela sagrada manhã de 17 de julho de 2003, na terra das sete colinas, chamada Garanhuns. Assim, sem mais delongas, vamos à carta com saudações a todos os povos, para marcar a nossa presença no planeta (Graça Graúna).
CARTA DE GARANHUNS

Nós, abaixo assinados, reunidos na cidade de Garanhuns, Pernambuco, Brasil, durante o XIII Festival de Inverno de Garanhuns - 2003, comunicamos a todos os povos do planeta que o aprofundamento e a ampliação da consciência da identidade indígena e afrodescendente é a principal contribuição dos povos excluídos no processo de construção de um pensamento capaz de responder de forma efetiva e definitiva às questões relativas à sobrevivência e evolução dos povos que habitam atualmente o planeta.
Outra contribuição importante é a imediata articulação dos diversos setores organizados da sociedade no sentido de viabilizar as seguintes proposições:
1 - organizar acervos de literatura indígena e afrodescendente nas escolas, nos diversos níveis de aprendizado, incentivando na escolha dos livros escolares indígenas, africanos e seus descendentes;
2 - propiciar a aquisição de periódicos abordando a causa indoafricana para bibliotecas e escolas públicas;
3 - promover capacitações para educadores em torno da cultura indígena e afrodescendente;
4 - promover projetos, oficinas e seminários de intercâmbio cultural, ministrados por indígenas e afrodescendentes, buscando a inclusão do pensamento ancestral no cotidiano das escolas;
5 - incorporar a consciência ecológica indoafricana nas discussões e resoluções relativas ao meio ambiente;
6 - inventariar o patrimônio material e imaterial indioafrobrasileiro.

A importância desses aspectos ficou evidenciada ao longo dos trabalhos realizados pela oficina de Literarura Indígena Contemporânea no Brasil e a oficina Ubanga Dikila: Banquete Cultural.
Saudações amorosas a todos os povos!

Garanhuns, 17 de julho de 2003.

Fonte: http://ggrauna.blogspot.com.br/2008/04/para-uma-conscincia-tnica.html

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Relatos sobre a presença e resistência dos Xatanawa e as ameaças contra esse povo

Amazônia

Contato dos Xatanawa põe fim a resistência centenária

O descaso e a incompetência do Brasil e do Peru colocaram populações em "isolamento voluntário". Os sete indígenas que apareceram no Acre são sobreviventes
por Felipe Milanez e Glenn Shepard — publicado 07/08/2014 18:57, última modificação 08/08/2014 11:27
Reprodução
Índios Xatanawa
Imagem de dois dos sete indígenas que fizeram contato
Por Felipe Milanez e Glenn Shepard
Eles são jovens. Todos saudáveis. Corpos esbeltos, cabelos bem cortados, algumas leves pinturas no rosto. Carregam arcos e flechas bem feitas, bem apontadas, com as penas impecavelmente cortadas. Portam um cinto de casca de envira, que utilizam para segurar um machado, e amarram o pênis nesse mesmo cinto. Imitam animais da floresta com perfeição e cantam belas melodias características das sociedades falantes da língua Pano, como as músicas dos Kaxinawa e dos Yawanawa que se pode escutar em CDs. Por trás dessa bela aparição de jovens indígenas que tomaram coragem e decidiram passar a interagir com a violenta sociedade que os cerca, estão terríveis histórias de massacres – um provavelmente recente, e suspeita-se perpetrado por um narcotraficante. A história do “contato” dos Xatanawa é uma extraordinária história de resistência.
Vídeos e fotografias sobre a chegada de um povo tido como em “isolamento voluntário” em uma aldeia do povo Ashaninka, no Acre, têm provocado comoção nas redes sociais, questionamentos, comentários racistas, e ganharam atenção da imprensa nacional e internacional. Dois vídeos divulgados com exclusividade no blog do jornalista Altino Machado romperam com o silêncio da Funai, muda sobre os riscos do contato e apenas expressando-se em notas à imprensa cheias de mistérios. A notícia saiu desde o Jornal Nacional ao britânico Guardian. Tem merecido manchetes de portais sensacionalistas e até de revistas científicas como a Science. Quase sempre, a história dos massacres e da resistência dessa população é deixada em um segundo plano para dar espaço ao sensacionalismo, exotismo e colonialismo da relação com essa nação indígena.
Ideias tais como “emergiram da floresta” ou “saíram do isolamento”, “um grupo de índios isolados da civilização” que estão “vindo até nós” contribuem muito mais para esconder o real significado desse processo de aproximação e interação em curso. Nas caixas de comentários há sempre a surpresa pelo machado, terçado, a espingarda, ou a “carteira do Corinthians” portada pelos indígenas. “Será que a Funai vai, também, demarcar o Itaquerão?”
Essa perspectiva etnocêntrica contribui para se deixar de lado a responsabilidade dos Estados brasileiro e peruano em protegerem e dar garantias para que essa população possa continuar vivendo livre – e se quiser, mesmo contra o Estado.
Fronteiras de sangue
As câmeras que mostram os jovens indígenas poderiam também apontar para o outro lado dessa fronteira: o tráfico de cocaína do Peru, maior produtor mundial, e suspeito de ter cometido um massacre contra essa população; para a indústria madeireira peruana, ilegal e predatória, que abastece os Estados Unidos de mogno, também suspeita de violência e massacres por ali; para a indústria madeireira brasileira que falsifica documentos, mesmo no Acre, e está explorando o entorno das terras indígenas, e é uma das campeãs de conflitos e mortes; para a exploração de petróleo e ouro, avançada no Peru e em processo de prospecção no lado brasileiro, que contamina vastas áreas de floresta; para as obras de infraestrutura na América Latina, pelo IIRSA, e também o PAC, que impactam e destroem ambientes e vidas humanas que não são levadas em contas nas planilhas.
Foi somente após o contato desse grupo que fala língua da família Pano, e que a princípio se autodenominam Xatanawa, segundo identificou um dos intérpretes, é que o governo brasileiro decidiu liberar recursos para a construção e manutenção de quatro bases de fiscalização da Frente de Proteção Etnoambiental Envira. Foi feita a promessa de 5 milhões de reais e mais recursos de emergência para que não ocorram mortes decorrentes do contato. Essa população passa a viver uma situação de vulnerabilidade epidemiológica em razão de baixa imunidade a diversas doenças. Tempos atrás, metade iria morrer nos próximos meses. Será que agora é possível fazer diferente? Algumas experiências como o contato com os Korubo, em 1996, no Vale do Javari, e com os Arara da Cachoeira Seca do Iriri, em 1987, mostram que é possível, se houver uma equipe organizada, evitar epidemias e mortes.
Acontece que, para se construir equipe e estrutura, é necessária a chamada “vontade política”: o governo cumprir a lei e destinar recursos. As quatro bases de fiscalização que foram agora prometidas já eram uma demanda antiga do sertanista José Carlos Meirelles e passaram a ser também de seus jovens sucessores na Frente de Proteção Etnoambiental Envira, da Coordenação Geral de Índios Isolados, no Acre, como o dedicado indigenista Guilherme Daltro Siviero.
Há anos, Meirelles e outros indigenistas, como Terri de Aquino, alertam sobre a possibilidade de um eventual contato nessa área com um povo em isolamento voluntário. E alertam para a chance de um provável desastre humanitário. Isso nunca serviu, no entanto, para acordar os burocratas da chefia da Funai, do Ministério da Justiça e do Ministério do Planejamento. Mais fácil deixar sangrar em campo os dedicados funcionários, e depois culpá-los por “despreparo”, como alega reportagem recente publicada no jornal britânico Guardian. Como o próprio Meirelles desabafou em entrevista concedida à Revista Terra na semana passada: “Ou faz, dando estrutura, ou o estado brasileiro diz: tudo bem, mais um genocídio no meu currículo.”
Em 2007, já com suspeita de que um contato eventual poderia ocorrer com a vinda dos indígenas, Meirelles alertou em entrevista para Felipe Milanez sobre os riscos que ele temia: “Não temos condições de prover saúde e dar assistência, seria um massacre.” O risco agora é de um massacre epidêmico após essa população ter relatado que sofreu um massacre por um grupo fortemente armado.
Esses jovens Xatanawa que habitam as cabeceiras do Envira são, portanto, conhecidos há tempos pelo Estado brasileiro. Meirelles montou a primeira base de fiscalização na confluência do rio Envira com o igarapé Xinane em 1988. Ele já havia mapeado a região e encontrou esse ponto com equidistância do território de diferentes povos nessa situação de isolamento, em uma posição intermediária com as comunidades Ashaninka e também bem localizada para controlar a subida do rio: a partir dali, subindo as águas do Envira, estaria vigiado o acesso pela água.
A proteção do lado brasileiro da fronteira passou a ser eficiente. E, pelo lado peruano, passou a piorar após os anos 2000, quando Meirelles começou a perceber os resíduos da exploração madeireira no lado de lá, como tambores de combustíveis, sacos plásticos e pranchas de mogno descendo o rio. Se vinham todas essas tralhas de acampamentos ilegais, por que não poderia descer o rio também, por exemplo, uma carteira do Corinthians ou um machado boiando cravado numa tora, objetos encontrados com os Xatanawa?
Ameaças e riscos desde o início da década
O sertanista Meirelles e seus colegas na Coordenação de Índios Isolados e Recente Contato passaram a denunciar a situação de ameaça ao indígenas em isolamento na fronteira do Brasil com o Peru, região do Paralelo 10, no início da década. Em 2004, Meirelles foi atacado por um grupo Mashco Piro, levou uma flechada no rosto e quase morreu. Já desconfiava ele que a agressividade dos Mashco poderia estar relacionada com violência contra eles na região. Em 2005, um grupo de indígenas passou em aldeias e nas casas de ribeirinhos para se apropriar de alimentos e ferramentas. Meirelles tentou recursos do governo para repor esses equipamentos e tentar lançar, em sobrevoos, ferramentas às aldeias dos isolados.
As madeiras de sangue, como chamamos a exploração ilegal e predatória de madeiras nativas, cada vez mais penetraram os territórios dessas populações indígenas autônomas. Em 2006 e 2007 foram feitas denúncias internacionais da invasão de madeireiros peruanos no território brasileiro, que atingiam tanto comunidades Ashaninka quanto o território dos isolados. Nessa crise, durante uma reunião interministerial, um diplomata brasileiro falou sobre a necessidade de denunciar o Peru na Organização Mundial do Comércio.
Meirelles costumava dizer a amigos: “cada caixão de mogno nos Estados Unidos deveria vir com uma placa: aqui jaz um índio isolado que foi morto para essa madeira vir até aqui enterrar um americano”.
Na segunda metade da década, com a eminência do contato, e durante processos de reestruturações da Coordenação Geral de Índios Isolados (que passou também a trabalhar com os povos de Recente Contato – CGIIRC) em 2006, que passou a se falar, internamente no ambiente sertanista, da necessidade urgente de se constituir equipes preparadas para o contato. Em reunião interna da coordenação, em 2010, essas equipes foram longamente discutidas: elas deveriam sempre contar com a presença de um tradutor e agentes especializados de saúde.
Assim, há pelo menos uma década a possibilidade de um contato é tida como grande na Funai. Mesmo assim, a sucessão de chefes na pasta, desde Sydney Possuelo, Marcelo dos Santos, Elias Bigio, e hoje, Carlos Travassos, nunca conseguiram aumentar o orçamento e romper os entraves burocráticos interministeriais para o treinamento de equipes.
Desenvolvimentismo e os impactos que não aparecem nas planilhas
O advento do PAC, em 2007, trouxe novas pressões, que foram ampliadas com o PAC 2 em 2010. As Frentes de Proteção Etnoambiental foram duplicadas. Passaram de seis para as atuais 12 e a proteger 30 milhões de hectares. Em 2010, foi feita uma proposta para ampliação do orçamento da CGIIRC para 5 milhões de reais. Não houve resposta do governo. Em 2014 o orçamento foi de 2,3 milhões de reais, e grande parte foi gasto para as operações de desintrusão da Terra Indígena Awá, no Maranhão, onde o povo indígena Awá também vive risco de genocídio. Na hora de realizar as operações no Xinane para salvar os Xatanawa, faltou recurso.
Não é apenas dinheiro que o governo nega para os sertanistas. Faltam recursos, gente e estrutura. E não é apenas com relação às populações em isolamento. Esse é apenas um reflexo exposto da caótica política indigenista do atual governo, violenta de diversas formas contra os povos indígenas. Uma breve leitura no diagnóstico do relatório do Conselho Indigenista Missionário serve para expor o tamanho da tragédia em curso. A política de saúde indígena é uma tragédia geral, e a Funasa – atual Sesai –, desde que foi desmembrada da Funai no início dos anos 1990, nunca formou uma equipe especial para os contatos nem para o contato com os Karubo, no Vale do Javari, em 1996, nem com os Piripkura, em 2007: em ambas as situações os sertanistas da Funai tiveram de se virar como puderam convidando enfermeiros conhecidos e amigos.
Dar condições de trabalho e assumir a proteção aos povos indígenas em isolamento voluntário determinada pelo Estatuto da Funai (Decreto 7778) (“proteger os povos indígenas isolados, assegurando o exercício de sua liberdade, cultura e atividades tradicionais”) é uma regra muito pouco seguida no último século, desde que Rondon fundou o Serviço de Proteção ao Índio. Infelizmente, os vídeos recentemente divulgados mostram funcionários da Funai dedicados, mas sem os planos discutidos pela própria Funai de dispor de equipe de saúde especializada e treinada, junto de equipe de interpretes e sertanistas. Um dos indigenistas usava um corte de cabelo que assustou os índios, sem intérpretes, falam em portunhol, diziam “não” quando isso não significa nada (em Kayapó a palavra “nã” quer dizer “sim”, por exemplo). As equipes foram deslocadas às pressas, com aperto financeiro e estresse. A base Xinane, que poderia prover alimentos como banana, mandioca e frutas, estava abandonada.
A questão é que a história desse contato deve se repetir nos próximos anos em diferentes partes da Amazônia, como com um grupo Korubo isolado, no Vale do Javari, no Amazonas, ou com um grupo Yanomami, em Roraima, ameaçado por garimpos ilegais. Não são situações em que o Estado provoca o contato, como durante o desenvolvimentismo da ditadura, por exemplo, o caso dos Panará, atingidos pela BR 163, ou os Arara, na rota da Transamazônica. Mas é difícil acreditar que, hoje, o Estado brasileiro esteja preparado para dar proteção a essas comunidades que estão sendo vencidas pelas violentas frentes de expansão.
Dentro da CGIIRC há planos de constituição de equipes treinadas e preparadas. Mas é preciso multiplicar por dez o orçamento, segundo estimativa dos sertanistas, facilitar a contratação de mateiros e pessoas treinadas em campo e descontingenciar os gastos para que possam ser aplicados nas situações de urgência e de forma condizente com a necessidade de custos dessas regiões remotas.
O histórico: quem são os Xatanawa, ou Chitonahua, os “isolados do Envira”?
Os sete sobreviventes enfrentaram o medo do contato e visitaram a comunidade Simpatia do povo Ashaninka para pedir comida e materiais. Como não falavam a mesma língua, o encontro foi tenso. Apenas após a chegada de dois intérpretes Jaminawa (ou Yaminahua na grafia peruana) que a comunicação foi estabelecida. A língua que falam é um dialeto do Jaminawa, o que permite fluência na comunicação. Suspeitava-se a partir das fotografias e vestígios materiais da presença, com base em sua localização e adornos corporais, que estes indígenas pertenciam a um grupo falante da língua Pano isolado. Os intérpretes confirmaram essa filiação linguística e sugeriram que eles estão relacionados com o Chitonahua do Peru (escrito ‘Xitonawa’ na ortografia brasileira), porém eles se chamam “Xatanawa”, que significa: “Povo Arara”.
Alguns anos atrás, um pequeno grupo de cerca de 15 Chitonahua, fugindo de conflitos semelhantes com madeireiros, em 1996, refugiou-se ao longo do alto rio Minuya, no Peru. Estavam sendo atacados por madeireiros de mogno: a mencionada indústria madeireira de sangue. Dois jovens do grupo tinham ferimentos provocados por tiros de espingarda. Quase a metade do grupo havia morrido por doenças misteriosas que eles atribuíam a feitiçaria, mas que no entanto incluía gripe, malária e outras doenças contagiosas.
Os Chitonahua por sua vez são muito próximos dos Yora ou Nahua do alto rio Manu e do rio Mishagua, do Peru. Trata-se de um grupo guerreiro e resistente, que ganhou as manchetes internacionais, em 1983, quando atacaram um grupo de fuzileiros navais peruanos que acompanhava o então presidente do país Fernando Belaúnde. A comitiva dirigia-se para as cabeceiras do rio Manu para inaugurar a parte peruana da rodovia Transamazônica. Há uma fotografia famosa que mostra o presidente Belaúnde ao lado de um soldado com uma flecha Nahua no seu pescoço.
Essa resistência Nahua foi, em grande parte, responsável por impedir o que teria sido um projeto de estrada ecologicamente desastroso no coração da primeira e mais famosa área protegida do Peru, o Parque Nacional de Manu. No entanto, com intensa prospecção petroleira no seu território pela Shell Oil, e a recente invasão de madeireiros, os Nahua foram finalmente contatados em 1985. Em dez anos, a população foi reduzida quase pela metade, principalmente devido a doenças introduzidas.
Como os Chitonahua e, antes, os Nahua, o grupo que recentemente apareceu ao longo do rio Envira também contraiu doenças respiratórias e foi necessário tratamento médico de emergência.
Narcotraficante português é o principal suspeito de massacre
Os sete indígenas Xatanawa que vieram até a aldeia Ashaninka no Acre são verdadeiros sobreviventes. Eles detalharam aos intérpretes o crime de genocídio que teria sido cometido contra eles. A suspeita, pelas descrições físicas feita pelos indígenas, é que o massacre teria sido liderado por um narcotraficante português chamado Joaquim Antônio Custódio Fadista, com cerca de 60 e poucos anos.
Fadista organizou a invasão da base Xinane da Funai, em 2011, liderando um grupo fortemente armado. Desde então, a base Xinane foi desativada. Além do risco aos servidores, houve também limites orçamentários e de direitos trabalhistas. Acontece que Fadista foi duas vezes preso dentro do território indígena, em março e em agosto de 2011. Na primeira, pela PF, foi extraditado e retornou à região. Depois, pela polícia civil, foi liberado em seguida. Foi condenado por tráfico pela Justiça do Maranhão e do Ceará, e também em Luxemburgo, e é procurado pela polícia peruana. Impune no tráfico e, a princípio, até então, impune na prática de genocídio que deve ser investigada.
Na época, o sertanista José Carlos Meirelles enviou um e-mail para os “companheiros de luta e família” no qual dizia: “Como todos sabem a nossa base do Xinane foi invadida por um grupo paramilitar peruano, onde foi preso por uma operação da Polícia Federal, um único integrante. O famoso Joaquim Fadista, que já tinha sido pego aqui por nosso pessoal, foi extraditado e voltou. Com um grupo de pessoas cuja quantidade não sabemos.”
Carlos Travassos, coordenador de Índios Isolados na Funai, já suspeitava, na época, da prática de violência por Fadista. Ele havia relatado, em 2011, para este blog:  “Esses caras fizeram correria (como se chamavam as matanças de indígenas na época dos seringais) de índios isolados. Decidimos voltar para cá por conta de acreditarmos que esses caras possam estar realizando um massacre contra eles”.
Despois de capturado, foi encontrado em posse de Fadista pontas de flechas dos índios isolados e levantou-se ainda mais a suspeita do genocídio. Não houve investigação policial da denúncia dos sertanistas da Funai, nem no Brasil, nem no Peru. A descrição dos Xatanawa do massacre, segundo servidores da Funai, bate com a descrição física de Fadista, com a quantidade de pessoas e possíveis armamentos. O tráfico de cocaína vem a somar-se à indústria madeireira ilegal e a extração ilegal de ouro como as maiores ameaças físicas e diretas aos povos em isolamento voluntário na região.
Nações livres e autônomas: o isolamento como estratégia
Nas conversas entre os Xatanawa e os intérpretes também foram informados detalhes da existência de pelo menos oito populações indígenas isoladas que residem nesta remota região de fronteira entre Brasil e Peru, praticamente ao longo da linha do 10º paralelo sul.
Esses e outros grupos em situação semelhante hoje têm, de fato, conscientemente adotado o isolamento como uma estratégia para sobreviver em face da violência e da doença que foram levadas para essas regiões remotas durante o ciclo da borracha, entre 1895 e 1915. Na verdade, as primeiras referências ao Chitonahua remetem a 1895. Antes das correrias dos seringais, violentos massacres, esses grupos não eram “sem contato”. Estas sociedades participavam de intensas redes regionais, culturais e comerciais, amplos mecanismos de comércio interétnico, de trocas e de casamentos. Por esta razão, o termo “isolamento voluntário” foi cunhado pelo antropólogo Glenn Shepard em um relatório de 1996 sobre o estado de grupos isolados no Peru.
Shepard cunhou o termo “grupo indígena em isolamento voluntário” em virtude de avistamentos de índios nômades, nus, “sem contato”, no Rio de las Piedras e regiões próximas, na bacia do Madre de Dios no Peru onde a Mobil estava realizando prospecção para gás e petróleo. A ideia do termo era justamente para tentar superar as noções românticas e falsas geradas por termos como “índio não-contatado” de grupos na “Idade de Pedra” que tinham vivido numa espécie de Jardim de Éden até o presente.
A realidade é que os grupos autônomos remanescentes na Amazônia hoje são descendentes de grupos que, em resposta aos massacres, exploração e epidemias sofridos especialmente durante a Época da Borracha em adiante, escolheram o isolamento radical de todos os outros povos ao seu redor como último recurso para a sobrevivência. Nenhum grupo humano, em condições normais, vive isolado dos outros grupos ao seu redor: na Amazônia são testemunhadas na arqueologia e na etno-historia grandes redes de troca que alcançavam desde as regiões mais remotas da Amazônia até os capitais de grandes civilizações andinas e até a costa do Peru.
O isolamento é, portanto, um fenômeno recente na etno-história desses povos. E também altamente "moderno": o “isolamento voluntário” desses grupos é uma resposta à inovação tecnológica essencial da modernidade, o automóvel, e à demanda que isso criou nos mercados internacionais para borracha nativa da Amazônia no início do século XX. A industrialização provocou violência e o isolamento foi uma resposta a isso. Em certo sentido, esses povos que são tidos na imprensa sensacionalista como sendo da “Idade da Pedra” são tão modernos quanto qualquer outra pessoa em qualquer cidade, pois vivem o impacto dessa modernização. A verdade é que essa modernização distante trouxe para estas regiões terror, violência, mortes, massacres, escravidão.
"Isolar-se" transformando o modo de vida para o nomadismo, buscando refúgio em regiões distantes nas cabeceiras dos rios – onde não havia seringa – e evitar aproximação com a sociedade do entorno é, no fundo, uma estratégia política.
Contato e diplomacia: é preciso respeitar os Xatanawa
Em 1910, o Marechal Cândido Rondon escreveu que “Os índios não devem ser tratados como propriedade do Estado dentro de cujos limites ficam seus territórios, mas como Nações Autônomas, com as quais queremos  estabelecer relações de amizade”
As expressões correntes para designar essas relações diplomáticas e categorizar essas populações, sejam as correntes da imprensa, ou do governo, ou as da academia, são todas problemáticas e carregadas de preconceito. Primeiro, a própria ideia de classificar essas populações diversas em si é um limite e implica numa tentativa de dominação. Segundo, chamar de “isolados”, ou mesmo “autônomos”, significa dizer que há aqueles que não estão isolados, ou seja, nós, uma perspectiva etnocêntrica e preconceituosa, e a ideia de autonomia exclui toda a pressão externa e o interesse de algumas dessas por tecnologias, como machados, facões, armas de fogo.
Afinal, essas populações, como os Xatanawa, vivem mais ou menos onde sempre viveram, podendo ter adaptado seu território para se proteger das diferentes pressões que surgiram nos últimos séculos. O fato é que há 77 evidências de existir populações nessa situação de “isolamento voluntário”, uma situação em que passam a ser vulnerabilizadas a epidemias a partir do aumento das interações.
Ao longo do século passado, surgiu a função dos sertanistas como defensores humanitários dos povos indígenas. Foi o marechal Cândido Rondon quem deu essa conotação para a palavra – que até então designava os matadores de índios, como os bandeirantes. E a profissão se tornou uma especialidade do indigenismo para o contato com povos “arredios”, “bravos”, “isolados”, a partir do trabalho dos irmãos Villas Bôas na Fundação Brasil Central – que depois em 1967 passou a fazer parte da Funai, junto do Serviço de Proteção ao Índio.
Em toda a história dos contatos, seja durante a ditadura, seja antes, os sertanistas, como os Villas Bôas ou Chico Meireles, trabalhavam em condições sofríveis, com urgência para evitar o pior. A diplomacia sertanista consistia em se posicionar à frente das “frentes de expansão” para proteger os índios das guerras travadas pelos seringalistas, fazendeiros, pecuaristas, garimpeiros, ou do próprio governo, como no caso da construção de obras de infraestruturas, tais como a Transamazônica. Em 1987, por iniciativa dos sertanistas, liderados por Sydney Possuelo, foi criado o Departamento de Índios Isolados, e os processos de contatos passaram a ser evitados. A escolha passaria a ser dos povos indígenas. E o Estado brasileiro, por meio dos sertanistas, deveria realizar a proteção dos territórios para que essas populações que vivem de forma autônoma do Estado possam continuar a viver do jeito que desejam.
Essa política, hoje, vive um esgotamento, ao mesmo tempo que é mais garantida pela Constituição Federal e pela Convenção 169 da OIT. O esgotamento é que os planos desenvolvimentistas do governo não são alterados se eles impactam um território habitado por uma população nessa situação. Cria-se uma terra indígena, destinam-se recursos, mas se a Coordenação geral de Índios Isolados disser que não é possível realizar o empreendimento, é difícil imaginar, hoje, que ele não saia do papel por isso. E há 33 empreendimentos do PAC que impactam diretamente o território de povos indígenas considerados “isolados”, desde as usinas de Belo Monte, Jirau, Santo Antônio, Teles Pires, São Luiz do Tapajós, até estradas e hidrovias. Se o empreendimento for produzir risco de destruição do território e um consequente genocídio, ele não deve ocorrer. Acontece que, como declarou o sertanista José Carlos Meirelles, parece que o Brasil não tem vergonha de acrescentar genocídios ao seu currículo.
Fonte: http://www.cartacapital.com.br/blogs/blog-do-milanez/esqueca-mitos-coloniais-o-contato-dos-xatanawa-no-acre-poe-fim-a-uma-resistencia-centenaria-8896.html

Povos indígenas: cinco faces do genocídio



Survival International
Adital


Uma mulher aché pouco depois de ter sido capturada e retirada da selva, em 1972, Paraguai.

Em virtude do Dia Internacional dos Povos Indígenas, celebrado no dia 09 de agosto, a organizaçãoSurvival International expõe o caso de cinco povos indígenas e tribais que foram vítimas de genocídio durante o século XX, e adverte sobre um potencial genocídio que poderá ser cometido neste século.

Entre os povos indígenas que enfrentaram a violência genocida se encontram:
- Os achés, Paraguai: em um julgamento sem precedentes, que começou no passado mês de abril, a tribo dos achés levou o Governo do Paraguai aos tribunais pelo genocídio que sofreram. Os achés foram dizimados depois que os colonos realizaram verdadeiras caçadas humanas, em que a maioria dos homens era assassinada, capturaram os indígenas e os venderam como escravos durante as décadas de 1950 e 1960.
- Os akuntsus, Brasil: em 1985, investigadores do governo descobriram uma casa coletiva inteira que havia sido destruída, evidência do brutal massacre praticado por homens armados, que assassinaram a maioria dos integrantes da tribo akuntsu. Os cinco sobreviventes, que se mantêm com vida, são as últimas testemunhas desse genocídio silencioso.

Cinco akuntsus são os últimos sobreviventes de um genocídio silencioso no Brasil.

- Os jummas, Bangladesh: o exército de Bangladesh e uma onda de colonos desenvolveram uma campanha genocida baseada em assassinatos, violações, torturas e na queima de comunidades jummas. Um acordo de paz, em 1977, colocou fim às piores atrocidades, mas os assassinatos e o incêndio de aldeias jummas, assim como o roubo de suas terras e as detenções, continuam sendo praticados sem nenhum controle.


Os jummas sofreram uma campanha genocida nas mãos dos colonos e do exército de Bangladesh.

- Os yanomamis, limite fronteiriço entre Brasil e Venezuela: em 1933, os exploradores de ouroatacaram, brutalmente, a comunidade yanomami, de Haximú: 16 yanomamis morreram assassinados, entre os quais estavam anciãos, mulheres e crianças. Em uma sentença sem precedentes, quatro dos culpados foram condenados por genocídio. As ameaças continuam até hoje em dia.


Sobreviventes do massacre de Haximú, no qual 16 yanomamis morreram assassinados nas mãos de exploradores de ouro, mostram as urnas que contêm as cinzas de seus familiares.

-Os awás, Brasil: especialistas brasileiros qualificaram a violenta invasão e destruição da selva dos awás por madeireiros armados como genocídio. Um representante do governo brasileiro declarou, em 2011: "Se não foram adotadas medidas de emergência com rapidez, o futuro desse povo é a extinção”. Em janeiro de 2014, os invasores foram expulsos do principal território awá, graças àintensa campanha de pressão desenvolvida pela Survival.


Legenda 5: Karapiru, homem awá, presenciou o massacre de sua família por estrangeiros, Brasil.


Conheça a galeria da Survival "Cinco rostos do genocídio”.


A história voltará a se repetir?

No passado mês de junho, um grupo de indígenas isolados surgiu no Brasil, após ter atravessado, aparentemente, a fronteira com o Peru. Explicaram aos intérpretes que sua comunidade havia sofrido violentos ataques durante os quais a maioria dos anciãos havia sido assassinada e seus lares queimados.


Indígenas isolados que emergiram próximo da fronteira entre Peru e Brasil. Os especialistas advertem que poderá produzir-se "outro genocídio”. Funai

"Disseram que morreu tanta gente que não puderam enterrar todos e que os abutres comeram seus cadáveres”. Especialistas brasileiros advertiram que "outro genocídio” poderá acontecer se o território não for protegido dos madeireiros e dos traficantes de drogas, suspeitos de terem praticado essa atrocidade.
Stephen Corry, diretor da Survival International, movimento global pelos direitos dos povos indígenas e tribais, declarou: "As sociedades industrializadas submetem os povos indígenas a uma violência genocida, à escravidão e ao racismo, de modo que possam usurpar suas terras, recursos e mão de obra em nome do ‘progresso’ e da ‘civilização’. Desde o amanhecer da Era do ‘Descobrimento’, os povos indígenas foram vítimas inocentes de uma colonização agressiva de seus territórios. Retratando-os como atrasados e primitivos, os invasores justificaram a aniquilação cruel e sistemática que ainda seguem praticando até hoje. É hora de colocar fim ao genocídio”.

Esta não pretende ser uma lista de todos os casos de genocídio perpetrados contra os povos indígenas durante o século XX.

Fonte: http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=81901&grv=N