quarta-feira, 24 de outubro de 2012

CIMI e o suposto suicídio coletivo Guarani-Kaiowá

Amig@ leitor(a), recebi agora mensagem originada pela Assessoria de Imprensa o CIMI - Conselho Indigenista Missionário, e de pronto, a divulgo aqui dada a extrema importância do que está circulando nas mídias.
Leia a nota abaixo:
O Cimi entende que na carta dos indígenas Kaiowá e Guarani de Pyelito Kue, MS, não há menção alguma sobre suposto suicídio coletivo, tão difundido e comentado pela imprensa e nas redes sociais. Leiam com atenção o documento: os Kaiowá e Guarani falam em morte coletiva (o que é diferente de suicídio coletivo) no contexto da luta pela terra, ou seja, se a Justiça e os pistoleiros contratados pelos fazendeiros insistirem em tirá-los de suas terras tradicionais, estão dispostos a morrerem todos nela, sem jamais abandoná-las. Vivos não sairão do chão dos antepassados. Não se trata de suicídio coletivo! Leiam a carta, está tudo lá. É preciso desencorajar a reprodução de tais mentiras, como o que já se espalha por aí com fotos de índios enforcados e etc. Não precisamos expor de forma irresponsável um tema que muito impacta a vida dos Guarani Kaiowá.

O suicídio entre os Kaiowá e Guarani já ocorre há tempos e acomete sobretudo os jovens. Entre 2003 e 2010 foram 555 suicídios entre os Kaiowá e Guarani motivados por situações de confinamento, falta de perspectiva, violência aguda e variada, afastamento das terras tradicionais e vida em acampamentos às margens de estradas. Nenhum dos referidos suicídios ocorreu em massa, de maneira coletiva, organizada e anunciada.

Desde 1991, apenas oito terras indígenas foram homologadas para esses indígenas que compõem o segundo maior povo do país, com 43 mil indivíduos que vivem em terras diminutas. O Cimi acredita que tais números é que precisam de tamanha repercussão, não informações inverídicas que nada contribuem com a árdua e dolorosa luta desse povo resistente e abnegado pela Terra Sem Males.

Conselho Indigenista Missionário, 23 de outubro de 2012.


Veja abaixo, o vídeo sugerido para ser aqui divulgado:


Rox, gratidão!

AR

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Lei 11.645/08 e as Formações em Catu


LEI 11.645/08: 2ª FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM CATU

Por Ademario Ribeiro

                                                                  (Imagem Google)
No sábado, 20 de outubro de 2012, a Secretaria Municipal de Educação de Catu (SMEC), realizou o 3º Encontro da 2ª Formação Continuada de Professores acerca da implementação da Lei 11.64508.
A (SMEC) ao entender a importância dessa legislação e reconhecer os esforços do Serviço Social, nesse município, em prol do código de ética e com vistas às garantias das políticas pela igualdade racial, resolveu apoiar o programa que objetiva a sua implementação junto aos seus professores.
Zizelda Gonçalves Vieira, Assistente Social e militante do Movimento Negro, que já desenvolvia ações junto com professores de história, língua portuguesa e militantes da cultura, tais como, Vete Araújo, Paulo e Zenny Oliveira, entre outros -, em favor do citado código e pelas políticas da igualdade racial, assumiu a coordenação do aludido programa.
A Lei Nº 11.645/08 que determina o ensino da História e Cultura Africana, dos Afro-brasileiros e dos Povos Indígenas, nas escolas da Rede Pública e Particulares, ainda está por “pegar” – como poderíamos exemplificar numa palavra bem informal ao gosto coloquial – nos estabelecimentos de ensino. Entretanto, sabemos de alguns seminários e fóruns acontecendo em algumas poucas instituições e secretarias.
O município de Catu já teria dado seu start favorável a esse processo de implementação da referida lei, desde quando decretou a Lei Nº 860 de 12 de março de 2010, que intituiu o Programa Municipal de Educação para a Diversidade Cultural e Étnico-Racial, e no primeiro semestre de 2012, já se iniciou a Formação Continuada de Professores acerca da implementação da Lei 11.64508. Dessa forma ficou decretado o programa em consideração a fim de que se implementem a Lei Federal n 10.639 de 09 de janeiro de 2003 e a Lei n° 11.645, de 10 de março de 2008, do Parecer do CNE ° 03 de 10 de março de 2004 e da Resolução CNE/CP n° 1 de 17 de junho de 2004.
Art. 2° As escolas da Rede Municipal de Ensino de Catu incluirão os conteúdos de História e Cultura Afro-Brasileira e indígena nos programas, projetos, atividades e disciplinas de História, Língua Portuguesa, Literatura, Geografia, Artes e Ciências, em todas as disciplinas, e em especial de forma interdisciplinar.
Os professores, Antonio Cosme e Stael Kyanda Machado estão ministrando as aulas sobre História e Cultura da África e Afro-brasileira e para ministrar as aulas sobre História e Cultura dos Povos Indígenas, o professor Ademario Ribeiro. Estes estão à frente desse processo desde a primeira formação nesse município.
Abaixo, algumas fotos da 1ª e 2ª Formação, quando dos módulos  da a História e Cultura dos Povos Indígenas:








A certificação acontecerá no dia 06.12. 2012, contando com uma série de apresentações de materiais produzidos ao longo desse processo da 2ª Turma.

Suicídio entre os Guarani-Kaiowá


Hoje, 23 de outubro, mídias, redes sociais e instituições diversas no Brasil e no Mundo, estão discutindo, refletindo, sofrendo e clamando para que a Justiça Brasileira veja com atenção e respeito, particularmente, o que determina a Constituição Federal de 1988, como salvaguarda ao clamor dos índios Guarani-Kaiowá.
 
O Brasil precisa reconhecer o Brasil. Precisa rever posturas, leis, preconceitos e construir uma NAÇÃO! As indiferenças seculares contra os povos indígenas precisam ser barradas para dar lugar às garantias de direitos à vida, aos direitos humanos, à terra, aos seus modos de cultura enter outros! Não suportamos mais tanta barbárie, silêncios, omissões e desmados contra os povos indígenas!!!
 
Leia abaixo matéria veiculada pelo "Índios no Nordeste":
 
Os motivos da luta dos Guarani e Kaiowá pelos territórios tradicionais, tekoha guasu


“Ao lutar pela recuperação dos territórios, já nas terras reocupadas/retomadas, os Guarani e Kaiowá demonstram e acionam claramente a sua especificidade e condição de pertencimentos aos territórios de origem”, escreve Tonico Benites, Guarani-Kaiowá, mestre e doutorando em Antropologia Social do Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O artigo foi compartilhado pela Associação Brasileira de Antropologia – ABA.
 
Segundo ele, “os Guarani e Kaiowá têm ligação e conexão direta com os territórios específicos, considerando-se a si e aos territórios como uma só família, dado que o território específico é visto por esses indígenas como humano”.
 
Assim, “o processo de luta antiga pela reocupação e recuperação dos territórios tradicionais é uma ação exclusivamente indígena interconectada aos seres do cosmo Guarani e Kaiowá, ou seja, trata-se de uma concepção etnicamente diferenciada, eles sentem profundamente a importância de retornar ao território específico”.
 
Eis o artigo.
A pretensão deste artigo é fazer uma breve análise das motivações principais que levaram historicamente e ainda levam hoje os Guarani e Kaiowá a retornarem aos territórios tradicionais, tekoha guasu, de onde foram expulsos e dispersos. Além disso, pretende-se ressaltar os significados vitais dos territórios específicos reivindicados para os povos Guarani e Kaiowá. Esses territórios tradicionais estão localizados nas margens das bacias dos rios situados no cone sul do estado do Mato Grosso do Sul.
 
Como é sabido, no início da segunda metade do século XX, intensificou-se o processo de colonização oficial do sul do atual estado do Mato Grosso do Sul, e inúmeras comunidades Guarani e Kaiowá foram expropriadas e expulsas de seus territórios antigos, sendo, na maioria dos casos, transferidas e confinadas nas Reservas Indígenas e/ou Postos Indígenas do Serviço de Proteção dos Índios (SPI). Diante desse quadro, iniciativas de articulação e luta de várias lideranças Guarani e Kaiowá para retornar aos antigos territórios começaram a despontar no final da década de 1970.
 
Os grandes rituais religiosos – jeroky guasu – foram fundamentais para os líderes políticos e religiosos se envolverem nos processos de reocupação e recuperação dos territórios tradicionais específicos. A atuação, ação e valorização dos saberes Guarani e Kaiowá, rituais religiosos e a intermediação dos líderes religiosos nos processos de reocupação e recuperação de parte dos territórios tradicionais foram e são muito importantes para este povo. Nesse sentido, é importante explicitar que as manifestações rituais e religiosas observadas em situações de reocupação de territórios tradicionais expressam uma ação e concepção indígena bem específica e inteiramente desconhecida dos não indígenas, gerando diferentes reações e posições entre as diversas autoridades envolvidas em conflitos fundiários, tais como, fazendeiros e instituições do Estado brasileiro, e Justiça.
 
É relevante considerar que os Guarani e Kaiowá sentem-se originários dos espaços territoriais reivindicados, e que, nos últimos 30 anos, tendo sido privados da possibilidade de se reassentarem nos seus territórios tradicionais e sobreviver conforme seus usos, costumes e crenças, passaram a investir reiteradamente nas táticas de recuperação deles.
 
Em relação ao significado vital do território para o povo Guarani e Kaiowá é preciso observar em detalhe o modo específico de relacionamento desses indígenas com os seres invisíveis/guardiões (protetores/deuses) da terra, manifestados através de cantos e rituais diversos dos líderes espirituais. O respeito a esses seres humanos invisíveis e a forma de diálogo com eles marca uma diferença muito importante em relação à percepção e ao uso dos recursos naturais da terra. Este é um aspecto fundamental e determinante do relacionamento dos Guarani e Kaiowá com os territórios antigos. Ao lutar pela recuperação dos territórios, já nas terras reocupadas/retomadas, os Guarani e Kaiowá demonstram e acionam claramente a sua especificidade e condição de pertencimentos aos territórios de origem.
 
Importa observar que os Guarani e Kaiowá têm ligação e conexão direta com os territórios específicos, considerando-se a si e aos territórios como uma só família, dado que o território específico é visto por esses indígenas como humano Os Guarani e Kaiowá possuem um forte sentimento religioso de pertencimento ao território específico, fundamentado em termos cosmológicos, sob a compreensão religiosa de que os Guarani e Kaiowá foram destinados, em sua origem como humanidade, a viver, usufruir e a cuidar deste território específico, de modo recíproco e mútuo, portanto eles podem até morrer para salvar a terra. Há um compromisso irrenunciável entre os Guarani e Kaiowá e o guardião/protetor da terra, há pacto de diálogo e apoio recíproco e mútuo: os Guarani e Kaiowá protegem e gerenciam os recursos da terra, por sua vez, o guardião da terra vigia e nutre os Guarani e Kaiowá.
 
A compreensão dos espaços territoriais pelos Guarani e Kaiowá tem uma concepção cosmológica específica, sui generis, e uma fundamentação cosmológica e histórica que se enraíza em tempos passados. Assim, o processo de luta antiga pela reocupação e recuperação dos territórios tradicionais é uma ação exclusivamente indígena interconectada aos seres do cosmo Guarani e Kaiowá, ou seja, trata-se de uma concepção etnicamente diferenciada, eles sentem profundamente a importância de retornar ao território específico.
 
Dessa forma, a luta de recuperação das antigas áreas ocupadas pelos Guarani Kaiowá é realizada por meio de retorno ao território, caracterizado como um movimento pacífico e político-religioso exclusivo. Isto é, trata-se de uma articulação política, comunitária e intercomunitária de lideranças religiosas Guarani e Kaiowá.
 
Nesse contexto, destaca-se o papel da Aty Guasu, uma assembleia geral realizada entre as lideranças políticas e religiosas dos Guarani e Kaiowá a partir do final de 1970. Decisões vitais que afetam a todos, como decisões sobre a recuperação de parte dos territórios antigos, por exemplo, são discutidas religiosamente e acatadas. A Aty Guasu é definida como o único foro legítimo de discussão religiosa e de decisão articulada das lideranças políticas e religiosas dos Guarani e Kaiowá.
 
Por fim, o que se deve ressaltar, como conclusão parcial do que foi exposto, é a importância da continuidade histórica da luta político-religiosa das lideranças Guarani e Kaiowá.

Fonte: http://indiosnonordeste.com.br/2012/10/22/os-motivos-da-luta-dos-guarani-e-kaiowa-pelos-territorios-tradicionais-tekoha-guasu/  Acesso em: 23.10.2012 


 

 
Para ter acessar a Carta dos Guarani-Kaiwá na qual anunciam o suicídio eguir o link abaixo:
 http://blogapib.blogspot.com.br/2012/10/carta-da-comunidade-guarani-kaiowa-de.html?showComment=1351000559209
 
 

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Feliz Dia do(a) Professor(a)

Compartilho com vocês as felicitações alusivas ao Dia do Professor, vindas da Coordenação de Educação Escolar Indígena - MEC - SECADI.


domingo, 7 de outubro de 2012

Povos Indígenas e Ações Afirmativas: As Cotas Bastam?

Antonio Carlos de Souza Lima*

No Brasil contemporâneo, sabe-se – ou se quer saber – muito pouco sobre os 817.963 indivíduos que se autodeclararam indígenas para os pesquisadores do iBGe no Censo de 2010. sabemos que estão distribuídos em 230 povos, falando 180 línguas distintas, compondo cerca de 0,4% da população brasileira e habitando o território de todos os estados da Federação. Mais de duas décadas após a Constituição de 1988 e de sua declaração do Brasil como um país pluriétnico, é possível dizer que o “cidadão brasileiro médio” tem parcas informações sobre os povos indígenas no Brasil. Isto é reflexo da formação obtida desde o ensino fundamental até o médio, perpetuada no nível universitário, tanto na graduação quanto na pós-graduação.

Os que habitam em grandes cidades são-lhes, em geral, simpáticos, baseados em toda uma estereotipia romântica, presente em nossa literatura e reproduzida nos livros didáticos, que os coloca(va) como os proto-brasileiros – ironicamente! –, assegurando a soberania portuguesa e brasileira sobre o imenso território do país, apagando o passado não só colonial, mas também do Brasil que ecoa ainda hoje em grandes empreendimentos como a usina Hidrelétrica de Belo monte, que melhor se caracteriza pelas palavras invasão, genocídio, espoliação e escravidão.

Quando lhe é simpática, a mídia os mostra como habitantes das florestas, em simbiose com a natureza, o que ou não existe, ou se aproxima apenas de algumas situações na Amazônia, quando temos indígenas em todos os pontos do país, inclusive nas nossas grandes capitais. Mas ainda quando nelas habitam, mantêm vínculos com suas terras de origem: são populações autóctones, cujos direitos à terra a legislação reconhece, são originários, antecedem a presença de brancos e negros vindos pela colonização e o tráfico de africanos.

Os povos indígenas, cujas variadas formas de ação política viabilizaram mudanças significativas tornadas lei na Constituição de 1988 e na ratificação da Convenção 169 da organização internacional do trabalho, têm sido marcos contra desmandos dos poderes públicos que em todo esse período não cessaram de existir. Os povos indígenas pensam e reagem a tais imagens com indignação e com a clareza de que precisam se fazer presentes na esfera pública brasileira. Para isso, precisam estar preparados, como dizem muitas vezes, substituindo arcos e flechas, bordunas ou enxadas e machados, por canetas, computadores e diplomas.

Em função de muita luta desde os anos de 1970 até hoje, os indígenas tiveram suas demandas por terra materializadas em 678 terras indígenas dispersas por quase todos os estados da Federação brasileira, numa área total de 112.703.122 hectares. Na região da Amazônia legal, localizam-se 414 dessas terras, num total de 110.970.489 hectares que ocupam 21,73% desse espaço do território brasileiro, segundo estimativas do instituto socioambiental. As terras indígenas perfazem em torno de 13,1% de todas as terras brasileiras, sendo das mais ricas – e das mais cobiçadas – em recursos naturais (biodiversidade e recursos minerais), e das raras áreas preservadas num país cada vez mais devastado pelo extrativismo selvagem, pelas queimadas de florestas para transformá-las em carvão, ou abrir pasto a gado, à cana e à soja pelo agronegócio, pela exploração mineral. Na prática, muitas delas estão invadidas e os povos indígenas nelas encerrados não têm contado com políticas governamentais de suporte à sua exploração em moldes sustentáveis. Quando chegamos a estados da Federação de intensa presença indígena, sobretudo em municípios próximos a esses, de nossos “guardiões ancestrais do território”, os indígenas passam a inimigos que estariam melhor mortos, que são obstáculos ao progresso, à melhoria do Brasil, que há “muita terra para pouco índio”, e que “lugar de índio é em aldeia e não na escola”.



Em 2004, a Fundação Nacional do Índio estimava (imprecisamente) em 1.300 estudantes a presença de indígenas no nível superior. De lá para cá, o MEC, cumprindo determinações do Plano nacional de educação e de outras diretrizes que consolidavam os direitos indígenas a uma educação intercultural, bilíngue e diferenciada, investiu na abertura de editais que propiciaram a criação de 26 cursos de licenciatura intercultural dispersos pelo Brasil, atuando em regimes muito específicos de acordo com as realidades indígenas específicas a que se destinam. E, sim, nesse meio tempo, até a decisão de maio do STF, as ações afirmativas sob a forma de cota proliferaram, e temos hoje, na avaliação do MEC e dos movimentos indígenas, em torno de 8.000 estudantes indígenas no ensino superior.

Assim, se é indiscutível que a luta pelas cotas empreendida pelo movimento negro foi essencial para a ampliação da presença de indígenas na universidade, a demanda por inclusão no mainstream sociocultural, de formação para melhoria das condições de renda, de reparação histórica, tal luta não esgota nem dá conta das demandas indígenas no ensino superior. É preciso chamar a atenção de que a pauta das ações afirmativas não pode ser a mesma para todos os ditos “excluídos”. Não existe uma mesma e única exclusão, as razões históricas são distintas, os sistemas de preconceitos idem. Se tanto estudantes negros quanto estudantes indígenas precisam de suporte sob a forma de bolsas especiais, ou de acompanhamento de supervisores, que lhes permitam ultrapassar a necessidade de trabalhar em tempo integral e, em geral, o fraco ensino fundamental e médio por que passaram, se considerarmos que os indígenas podem ser falantes nativos de línguas ágrafas, tendo sido portadores de cosmologias que explicam o universo de modo radicalmente distinto da nossa forma, os pontos de contato e a grande proximidade aparente da exclusão ficam para trás.

Em primeiro lugar, na demanda indígena pelo ensino superior está colocada a busca de reconhecimento da necessidade do diálogo com seus conhecimentos tradicionais, o que implicaria uma verdadeira revolução do sistema de ensino superior no país, surgimentos de outros saberes, outros cursos, outras grades curriculares. Em segundo lugar, eles têm reivindicado a universidade enquanto espaço de formação qualificada de quadros não apenas para elaborar e gerir projetos em terras indígenas, mas também para acompanhar a complexa administração da questão indígena no nível governamental, distribuída entre diversos ministérios. Querem ter condições de dialogar, sem mediadores brancos, pardos ou negros, com essas instâncias administrativas, ocupando, de modo qualificado, autônomo e em prol de suas coletividades, os espaços de representação que vêm sendo abertos à participação indígena em conselhos, comissões e grupos de trabalho ministeriais em áreas como as de educação, da saúde, do meio ambiente, da agricultura, dos direitos humanos, para citar as mais importantes. desejam poder viver de suas terras, mesmo quando fora delas, aliando seus conhecimentos com outros oriundos do acervo técnico-científico ocidental, que lhes permitam enfrentar a situação de definição de um território finito.

Para isso, querem apreender seletiva e criticamente os conhecimentos da “grande tradição ocidental”. Querem participar de uma vida política da qual não se percebem parte, fazê-lo de modo a entendê-la e instrumentalizá-la, sem incorporá-la, senão ao seu modo e na medida de suas tradições e vontade de mudança. Bastam as cotas? Cremos que não. Há muito por começar a fazer.


* Antonio Carlos de Souza Lima é Co-coordenador do Laboratório de Pesquisas em Etnicidade, Cultura e Desenvolvimento (LACED)/Setor de Etnologia/Departamento de Antropologia do Museu Nacional da UFRJ

Disponível em: http://racismoambiental.net.br/2012/10/povos-indigenas-e-acoes-afirmativas-as-cotas-bastam/ Acesso em 07.10.12

Ou também: http://www.flacso.org.br/portal/infoflacso/infoflacso30/GEA_OPINIAO_N5.pdf







sábado, 6 de outubro de 2012

'Recusa' revê história de dois índios...

... únicos sobreviventes de uma etnia.


Dois índios, de uma tribo considerada extinta, vagam por fazendas de Mato Grosso. Há mais de 20 anos não havia sinal da sua etnia, os piripkuras. Mas essa dupla de sobreviventes se recusa a fazer contato com quer que seja. Não quer falar com homens brancos. Não quer ajuda. Juntos, eles apenas riem das histórias que contam um ao outro. Preferem ficar sós.
Em Recusa, espetáculo que entra em cartaz quinta, a cia. Balagan tomou esse episódio verídico como ponto de partida. Veiculada pela imprensa em 2008, a notícia surge como mote para a parceria entre a diretora Maria Thais e o dramaturgo Luís Alberto de Abreu. De posse da história, eles organizaram uma montagem que entrelaça diversos olhares.
Além dos dois índios piripkuras, também aparece uma dupla de heróis ameríndios, Pud e Pudleré. O fazendeiro que matou um índio e sua vítima. Macunaíma e seu irmão. "Tentamos aprender como multiplicar perspectivas. Em vez de tentar apreender o mundo por uma perspectiva só", explica Eduardo Okamoto, ator que divide a cena com Antonio Salvador. "Para esses povos não é possível nunca anular as diferenças, porque o mundo é feito delas. O que é um pouco diferente da tradição europeia e ocidental, em que há uma voz única, um só ponto de vista."



A vontade de apreender o mundo de outra maneira, que não a usual, já havia motivado a criação anterior da companhia. Em Prometheus - A Tragédia do Fogo enredos múltiplos e cenas descontínuas foram convocadas para recontar o mito grego. Recusava a dimensão heroica de Prometeu, titã que rouba o fogo dos deuses para entregá-lo aos homens. Nos dois espetáculos, organizam-se cosmologias diferentes da nossa: de um lado a grega, do outro a ameríndia. Um outro traço comum também aproxima as montagens: em ambas, os mitos criadores partem da figura de gêmeos. "São dois tratamentos completamente distintos para a ideia de duplo", pontua a diretora. "Para os gregos, o gêmeo de Prometeu, que é Epimeteu, precisa ser morto. No caso ameríndio, o duplo é necessário."

Novas maneiras de ver o mundo exigem também novas formas de narrar. "Foi um exercício. Eu estava cansado do modelo clássico. Então, foi um processo de se livrar das raízes, de pensar em uma narrativa que não se desenvolve de maneira linear", comenta o autor.

"Era uma busca por outras formas de fabular no teatro", complementa Maria Thais. "Não querer fazer o dramático. E descobrir quais possibilidades esse diálogo com uma nova mentalidade poderia oferece. Para o ator Antonio Salvador, era "a perspectiva de uma teatralidade que não é calcada no sujeito, na relação temporal".

Para compor a peça, Abreu partiu de uma série de discursos de naturezas distintas: além do episódio jornalístico, narrativas antropológicas, passagens míticas e discursos de entidades ligadas à causa indígena foram utilizadas. Também não faltaram canções e transcrições de relatos dos próprios indígenas. Durante a processo de pesquisa para construção da montagem, o grupo passou um período na aldeia Gapgir, em Rondônia. "Mas temos plena consciência de que esse não é o discurso deles. Não é a voz deles. Somos nós que estamos falando", ressalva a encenadora.
À primeira vista, Recusa condensa o registro de uma tragédia: os sobreviventes de um povo morto, condenados a desaparecer irremediavelmente, sem deixar rastros. Mas pode ser também um retrato de resistência. "É a imagem de que podemos recusar um modo de vida que é aparentemente universal, podemos não querer nos integrar", diz Maria Thais. "E é exatamente essa a atitude que eu almejo ter como artista."

RECUSA

SP Escola de Teatro. Praça Roosevelt, 210, Consolação, telefone 3775-8600.

5ª a sáb., 21h30; dom., 19 h. R$ 10.

Estreia 4/10. Até 16/12.

Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,recusa-reve-historia-de-dois-indios-unicos-sobreviventes-de-uma-etnia--,939960,0.htm





quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Eu apoio a causa indígena: Participe da Campanha


ASSOCIAÇÃO JUÍZES PARA A DEMOCRACIA


Rua Maria Paula, 36 - 11º andar - conj. 11-B - tel./ FAX (11) 3105-3611 - tel. (11) 3242-8018. CEP 01319-904 - São Paulo-SP - Brasil www.ajd.org.br - juizes@ajd.org.br


"Eu apoio a causa indígena"


Olá! As graves violações contra os povos indígenas continuam e aumentam a cada dia. É preciso que o Estado faça a sua parte. A Campanha que pede : (1) Urgência nos julgamentos, (2) Demarcação das terras e (3) é contra a PEC 215, já tem a adesão a sua adesão e de mais 7000 pessoas . Nosso objetivo é chegar a 20 mil assinaturas. Se cada assinante conseguir mais 3 pessoas para apoiarem a causa, chegaremos lá. URGENTE: Pedimos que divulgue a campanha da forma que lhe for possível.
Compartilhe no facebook, divulgue no twitter, coloque em blog, envie e-mails, fale com os seus amigos e familiares. Você pode ver a lista de assinantes (está em ordem numérica e alfabética) no site, e pedir para aqueles que não assinaram ainda que o façam.

IMPORTANTE: SE VOCÊ JÁ É ASSINANTE NÃO ASSINE NOVAMENTE PARA NÃO TERMOS DUPLICIDADE.


Participe! Passe o link da campanha para frente: www.causaindigena.org
 
E-mail: da AJD: juizes@ajd.org.br
 
Os povos indígenas não podem esperar mais.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Desenvolvimento Curricular e Educação Intercultural Descolonizante


Em Floresta/PE, campus do IFPE realiza seleção para curso na modalidade FIC

Categorias: Índios Nordeste, Notícias
por ÍndiosNE
01/10/2012

Estão abertas de 5 de outubro até 9 de novembro, as inscrições para o processo seletivo do curso Desenvolvimento Curricular e Educação Intercultural Descolonizante, oferecido pelo campus Floresta do IF Sertão-PE na modalidade de Formação Inicial e Continuada (FIC). Com carga horária total de 172h, o curso incluirá atividades presenciais e à distância, sendo ofertadas 50 vagas. Os requisitos para inscrição, os critérios da seleção e outras informações podem ser consultadas no Edital.

Objetivos do curso:

Possibilitar aos profissionais de educação pertencentes aos povos indígenas pernambucanos e às comunidades quilombolas no Sertão de Pernambuco aprofundar seus conhecimentos relativos ao desenvolvimento curricular, em especial quando pensado no contexto da educação intercultural descolonizante

Mais informações, incluisve, edital, em: http://indiosnonordeste.com.br/2012/10/01/em-florestape-campus-do-ifpe-realiza-selecao-para-curso-na-modalidade-fic/