quarta-feira, 31 de julho de 2013

Mostra Sonora Brasil: encontros e reencontros de raízes e artistas


 Hoje a noite do dia 31 eu e um grupo de colegas da Secretaria Municipal de Cultura de Simões Filho, artistas e produtores iremos ao Teatro do SESC-SENAC no Pelourinho, Centro Histórico de Salvador na Bahia. Lá assistiremos ao espetáculo TAMBOR DE SOPAPO com o Grupo ALABÊ ÔNI. Em junho de 1975 este teatro foi inaugurado com o espetáculo Bahia Livre Exportação com a direção do maestro Hamilton Lima, dos coreógrafos Graça Salles e Raimundo King e direção geral de Jurema Penna, numa produção do SESC-SENAC.

Então, estarei voltando ao teatro que tive a honra e alegria de inaugurar como ator, ainda bem novo ao lado dos grandes ensinamentos destas figuras de maior relevo da arte e cultura de nosso país. Alguns artistas que estiveram naquele elenco: Ademar Andrade (Banda Furtacor), Kal Santos, Reginaldo Daniel Flores (Conga), Ed Ribeiro (in memoriam), Badaró, Luis Alfredo, Jandira de Jesus,  Vânia Fonseca, Domingos Lima, Cosme Baiano, Manequim, Nega Tonha, Kari Keller, e tantos outros colegas de teatro, dança, música, artes plásticas.

Lembro ainda de que o espetáculo Bahia Livre Exportação apresentava trechos de vários autores baianos: Castro Alves, Gregório de Matos, Jorge Amado, Caetano Veloso entre outros e o texto base era de Jurema que também assinava  a direção geral. O espetáculo apresentava a Bahia ao mundo. Destacavam aspectos socioculturais e episódios tais como: o incêndio na Feira de São Joaquim, a dança, a música, a poesia, a capoeira, o maculelê, a culinária baiana, o cultos aos orixás, a vida dos capitães de areia, o aconchego dos baianos aos que visitam-nos, as igrejas, o samba,  o carnaval...e ao derredor a ditadura militar.

Também, nesta noite, acompanhando esse grupo, ao qual me referi acima, vai junto o Álvaro Di Amaro, filho da griô Sirley Amaro, lá de Pelotas (RS).  Conforme fui acolhido gentilmente pela Poliana Bicalho, produtora cultural e responsável pelo projeto de formação de público do SESC-SENAC, apresentaremos o Álvaro aos músicos do ALABÊ ÔNI em virtude dele ser também, herdeiro da dinastia do Tambor de Sopapo. Ministrando uma oficina em Salvador, o mestre Batista e griô Dilermando Martins montam quatro Tambores de Sopapo e o Álvaro passa a ser guardião de um. Hoje à noite ele o levará para apresentá-los aos alabês (nobres tamboreiros): Richard Serraria, Mimmo Ferreira, Pingo Borel e Kako Xavier.

Enfim, será uma noite muito especial!

Agradecemos a atenção e gesto cordial da Poliana Bicalho e ao Teatro do SESC-SENAC por oportunizar tão emblemático encontro e (re)encontro de artistas e com suas raízes e por sua programação que abraça a diversidade cultural do povo brasileiro!

Veja abaixo o release do Tambor de Sopapo:

Dia: 31/07 (quarta-feira)  Apresentação: ALABÊ ÔNI TAMBOR DE SOPAPO


O grupo gaúcho é formado por quatro músicos pesquisadores que se dedicam à recuperação da história do tambor de sopapo — o Grande Tambor, e traz ao palco do Sonora Brasil repertório de maçambiques, quicumbis, alujás e candombes, manifestações da cultura negra gaúcha ligadas à tradição religiosa e profana.

Como não houve continuidade histórica nas manifestações musicais onde o tambor de sopapo estava inserido no período colonial, especialmente nas charqueadas de Pelotas, os músicos participantes não fazem parte de nenhum grupo de tradição oral, mas sim representam um movimento que congrega músicos e pesquisadores, e que vem se expandindo no Rio Grande do Sul desde a década de 1990 buscando a valorização e revitalização das manifestações musicais oriundas da matriz africana que circulou pelo estado no período da escravidão.
Fonte: e-mail.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Povos tradicionais têm papel crucial na conservação da biodiversidade


Avaliação é da antropóloga Manuela Carneiro da Cunha, que participará de desenvolvimento de programa com o objetivo de estimular a aproximação entre a ciência e os conhecimentos tradicionais e locais (foto: Edu Cesar)
         
URL: agencia.fapesp.br/17584
Especiais

Povos tradicionais têm papel crucial na conservação da biodiversidade

22/07/2013
Por Elton Alisson
 
Agência FAPESP – Na região do alto e do médio Rio Negro, no Amazonas, existem mais de 100 variedades de mandioca, cultivadas há gerações por mulheres das comunidades indígenas, que costumam fazer e compartilhar experiências de plantio, chegando a experimentar dezenas de variedades em seus pequenos roçados ao mesmo tempo.
 
Exemplo de conservação da agrobiodiversidade por populações tradicionais, o sistema agrícola do Rio Negro foi registrado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 2010 como patrimônio imaterial do Brasil.
 
A partir da constatação de que essas práticas culturais geram uma diversidade de grande importância para a segurança alimentar, elaborou-se um projeto-piloto de colaboração entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e as organizações indígenas do médio e alto Rio Negro.
 
O projeto integrará uma iniciativa criada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com o objetivo de chegar a um programa que estimule a colaboração entre cientistas e detentores de conhecimentos tradicionais e locais.
 
A iniciativa foi anunciada por Maria Manuela Ligeti Carneiro da Cunha, professora emérita do Departamento de Antropologia da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, e professora aposentada da Universidade de São Paulo (USP), na abertura da Reunião Regional da América Latina e Caribe da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços de Ecossistemas (IPBES, na sigla em inglês), ocorrida no dia 11 de julho na sede da FAPESP, em São Paulo.
 
“O projeto-piloto será um bom exemplo de como é possível a colaboração entre a ciência e os conhecimentos tradicionais e locais, capazes de dar grandes contribuições para a conservação da diversidade genética de plantas – um problema extremamente importante”, disse Carneiro da Cunha, coordenadora do projeto.
 
“A conservação in situ de variedades de plantas, por excelência, pode e deve ser feita pelas populações tradicionais. O Brasil, ao promulgar o tratado da FAO [Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura] sobre recursos fitogenéticos, se obrigou a estimular essa opção”, afirmou.
 
Carneiro da Cunha ressalvou que, diferentemente do que costuma se entender, os conhecimentos tradicionais não são um “tesouro”. Não são apenas dados que devem ser armazenados e disponibilizados para uso quando se desejar, como foi feito com a medicina ayurvédica, na Índia. De acordo com a antropóloga, a sabedoria tradicional é um processo vivo e em andamento, composto por formas de conhecer a natureza, além de métodos, modelos e “protocolos de pesquisa” que continuamente geram novos conhecimentos.
 
IPCC da biodiversidade
 
Criado oficialmente em abril de 2012, após quase dez anos de negociações internacionais, o IPBES tem por objetivo organizar o conhecimento sobre a biodiversidade no planeta para subsidiar decisões políticas em âmbito mundial, a exemplo do trabalho realizado nos últimos 25 anos pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) em relação ao clima do planeta.
 
Para isso, o organismo intergovernamental independente realizará uma série de reuniões com pesquisadores da América Latina e Caribe, África, Ásia e Europa nos próximos dois meses, produzindo diagnósticos regionais que comporão um relatório sobre a biodiversidade do planeta.
Os documentos conterão as particularidades dos países de cada região e deverão levar em conta, além do conhecimento científico, a contribuição do conhecimento acumulado durante séculos pelas populações tradicionais e povos indígenas dessas regiões para auxiliar nas ações de conservação de biodiversidade.
 
“Uma das ações mais importantes do IPBES deverá ser o envolvimento de populações locais e indígenas desde o início do programa, chamando-as para participar do planejamento dos estudos, da identificação de temas de interesse comuns a serem estudados e do compartilhamento dos resultados”, disse Carneiro da Cunha.
 
“O IPCC, que iniciou suas atividades em 1988, só começou a pedir a contribuição do conhecimento dos povos tradicionais e indígenas para o desenvolvimento de ações para diminuir os impactos das mudanças climáticas globais depois da publicação de seu quarto relatório, em 2007”, contou.
 
Importância do conhecimento tradicional
 
De acordo com Carneiro da Cunha, os povos tradicionais e indígenas são muito bem informados sobre o clima e a diversidade biológica locais – e, por isso, podem ajudar os cientistas a compreender melhor as mudanças climáticas e o problema da perda da biodiversidade.
 
Esses povos costumam habitar áreas mais vulneráveis a mudanças climáticas e ambientais e são muito dependentes dos recursos naturais encontrados nessas regiões. Acompanham com minúcia cada detalhe que constitui e afeta diretamente sua vida e são capazes de perceber com maior acurácia mudanças no clima, na produtividade agrícola ou na diminuição de número de espécies de plantas e animais, por exemplo, apontou a antropóloga.
 
“Esse conhecimento minucioso é de fundamental importância. Até porque uma das limitações que esses painéis como o IPCC e, agora, o IPBES enfrentam é identificar problemas e soluções para lidar com as mudanças climáticas globais em nível local. Isso é algo que só quem mora há muitas gerações nessas regiões é capaz de perceber”, disse.
 
Segundo dados apresentados por Carneiro da Cunha e por Zakri Abdul Hamid, presidente do IBPES na abertura da reunião na FAPESP, há aproximadamente 30 mil espécies de plantas cultivadas no mundo, mas apenas 30 culturas são responsáveis por fornecer 95% dos alimentos consumidos pelos seres humanos; arroz, trigo, milho, milheto e sorgo respondem por 60%.
 
Isso porque, com a chamada “Revolução Verde”, ocorrida logo depois da Segunda Guerra Mundial, houve uma seleção das variedades mais produtivas e geneticamente uniformes, em detrimento de plantas mais adaptadas às especificidades de diferentes regiões do mundo. Diferenças de solo e clima foram corrigidas por insumos e defensivos agrícolas. Com isso, se espalhou uma grande homogeneidade de cultivares no mundo – levando à perda de muitas variedades locais.
 
“Houve um processo de erosão da diversidade genética das plantas cultivadas no mundo. Isso representa um enorme risco para a segurança alimentar porque as plantas são vulneráveis a ataques de pragas agrícolas, por exemplo, e cada uma das variedades locais de cultivares perdidas tinha desenvolvido defesas especiais para o tipo de ambiente em que eram cultivadas”, contou Carneiro da Cunha.
 
Um dos exemplos mais célebres dos impactos causados pela perda de diversidade agrícola, segundo a pesquisadora, foi a fome na Irlanda, que matou 1 milhão de pessoas no século XIX e causou o êxodo de milhares de irlandeses para os Estados Unidos.
 
Apenas duas das mais de mil variedades de batatas existentes na América do Sul haviam sido levadas para a Irlanda, no século XVI. Uma praga agrícola acabou com as plantações, levando à fome, uma vez que a batata já era o alimento básico na Irlanda e em outros países da Europa.
 
A partir daí, para evitar a ocorrência de problemas do mesmo tipo, vários países criaram bancos de germoplasma (unidades de conservação de material genético de plantas de uso imediato ou com potencial uso futuro). A medida por si só, no entanto, não basta, uma vez que as plantas coevoluem com os ambientes, que também mudam ao longo dos anos. Assim, é necessário complementar os bancos de germoplasma com ações de conservação in situ, ressaltou Carneiro da Cunha.
 
“É importante que se entenda que o conhecimento tradicional não é algo que simplesmente se transmitiu de geração para geração. Ele é vivo e os povos tradicionais e indígenas continuam a produzir novos conhecimentos”, ressaltou.
 
Entraves para aproximação
 
De acordo com a pesquisadora, apesar da importância da aproximação da ciência dos conhecimentos tradicionais e locais, o assunto só começou a ganhar relevância a partir da Convenção da Biodiversidade Biológica (CDB), estabelecida em 1992, durante a ECO-92.
A regulamentação do acesso ao conhecimento tradicional, previsto no artigo 8j da CDB, no entanto, ainda é um problema praticamente universal, afirmou a pesquisadora. “Peru e Filipinas já têm suas legislações. Mas ainda são poucos os países que editaram suas leis”, disse.
 
O Brasil ainda regula o acesso a recursos genéticos e aos conhecimentos tradicionais associados por meio de uma medida provisória e não se chegou ainda a um consenso para uma legislação nacional. “Não se pode ficar somente nessa atitude defensiva e acusar todo mundo de biopirataria, nessa ‘bioparanoia’ no país, que é um grande impedimento que teremos de superar”, avaliou.
 
É preciso estabelecer relações de confiança, afirmou a antropóloga, algo que só se consegue ao longo dos anos. Uma das formas ideais de se fazer isso, segundo ela, é quando a própria comunidade tradicional tem um problema para o qual está buscando solução e que também interessa aos cientistas.
 
Um exemplo disso ocorreu recentemente no âmbito do Conselho Ártico – organização intergovernamental que toma decisões estratégicas sobre o Polo Norte, reunindo oito países e 16 populações tradicionais, em sua maioria, pastores de renas.
 
Em parceria com as comunidades tradicionais transumantes (que deslocam periodicamente seus rebanhos de renas para regiões no Ártico, onde encontram melhores condições durante partes do ano), um grupo de pesquisadores dos países nórdicos, além da Rússia, Canadá e Estados Unidos, estudou os impactos das mudanças climáticas nos ecossistemas, na economia e na sociedade da região.
 
Feito em colaboração com a Agência Espacial Norte-Americana (Nasa, na sigla em inglês) e com diversas universidades e instituições de pesquisas, o estudo resultou em um relatório decisivo, intitulado Informe de Resiliência do Ártico (ARR, na sigla em inglês), divulgado em 2004.
 
“Essa talvez tenha sido a experiência mais bem-sucedida até agora de colaboração da ciência e dos conhecimentos tradicionais e locais”, avaliou Carneiro da Cunha. “É importante que os cientistas conheçam o que se faz nas comunidades tradicionais e, por sua vez, os povos tradicionais também conheçam o que se faz nos laboratórios científicos”, disse.
 

V Trajetória Internacional Índio Caboclo Marcelino

Recebi convite terno do parente, Prof. Dr. Casé - Libertad Volant, para participar do Seminário que apresento abaixo. Esse convite também estendemos à você.
 
 
 
V TRAJETÓRIA (SEMINÁRIO) INTERNACIONAL ÍNDIO CABOCLO MARCELINO & XIII CAMINHADA TUPINAMBÁ EM MEMÓRIA AOS MÁRTIRES DO MASSACRE DO RIO CURURUPE E À CABOCLO MARCELINO.
 
Seminário Índio Caboclo Marcelino
 

Apresentação

ABERTAS INSCRIÇÕES (2013) PARA
V TRAJETÓRIA (SEMINÁRIO) ÍNDIO CABOCLO MARCELINO

que irá ocorrer entre os dias 24 à 29 de Setembro 2013
NAS ALDEIAS TUPINAMBÁ EM OLIVENÇA/Ilhéus/Bahia
Quinta-feira, 25 de julho de 2013

Cinco Anos do Evento “Índio Caboclo Marcelino” e a “Caminhada Tupinambá”

2013:
Quando o Seminário Virou Trajetória
Olivença/Território Tupinambá (Ilhéus/ Bahia)
(de 24 à 29 de setembro de 2013)

“Jacy îandé Jacy
Mba-e pé moindy îandé taba
Tupã our tym
Isapé îandé taba

Ixé asô Xe sy Jacy
To-uri pitibõ
Ixé asó Xe uby Tupã
Pé îandé taba by

Ama mba’é Taba Ama
Supy Atã Tupã
Ama mba’é Taba Ama
Amaé Tupã Piain Ndêtã
Ama mba’é Taba Ama
Ama Paui Betã


Ama mba’é Taba Ama
Taba Tupinambá”
(Canção Ritual Tupinambá)

(“Jacy é nossa lua / Que clareia nossa aldeia / Tupã venha arramiar / Iluminar nossa aldeia / Eu vou pedir a minha mãe Jacy / Que ela venha a nos ajudar / Eu vou pedir a meu pai Tupã / Para nossa aldeia se levantar / Levanta essa aldeia, levanta / Com as forças de Tupã / Levanta essa aldeia, levanta / Olha Tupã seus os filhos / Levanta essa aldeia, levanta / Levanta sem demorar / Levanta essa aldeia, levanta / A Aldeia Tupinambá”)
http://www.youtube.com/watch?v=UL6kCQpBq_I

          É com esta canção ritual do Povo Tupinambá que iniciamos nosso convite para você participar da quinta versão do evento batizado como Índio Caboclo Marcelino: História, Cultura e Lutas dos Povos Indígenas do Brasil e da América Latina (de 24 à 28 de setembro de 2013) e da significativa Caminhada Tupinambá em Memória aos Mártires do Massacre do Rio Cururupe e ao Índio Marcelino (29 de setembro de 2013). Eventos realizados no Território Tupinambá localizado em Olivença (Ilhéus- Sul da Bahia).
Com este cântico inicia-se o rito do Porancy, realizado em diferentes momentos pelos Tupinambá de Olivença, especialmente, no início e fim de encontros importantes como serão os que aqui anunciamos. Lembrando que o Índio Caboclo Marcelino tem sua história relacionada ao desejo de discentes e docentes da Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC em tornar a temática indígena como um dos temas fundamentais desta instituição.
O evento nasceu em 2008 como uma atividade da disciplina História Indígena do Curso de História da UESC (Ilhéus/Bahia). Foi realizado, novamente, em 2009. Porém, em 2010 não aconteceu, ressurgindo em 2011 como uma resposta de um grupo de pessoas dentro e fora da UESC, indígenas e não indígenas, às perseguições, criminalizações, reintegrações de posse e prisões que sofria e ainda sofre o Povo Tupinambá de Olivença. 
          Em 2012 ocorreu o que chamamos simbolicamente a Retomada do Seminário pela Comunidade Tupinambá. No ano passado (2012) foi totalmente realizado nas Aldeias localizadas no Território Tupinambá, contando com a expressiva participação indígena na organização, concretização da programação, infraestrutura e atividades desenvolvidas. Num contexto marcado pela: autodemarcação territorial que os Tupinambá realizam no sentido que aconteça o mais rápido possível a demarcação de suas terras; e pela criação do Grupo de Observadores Nacionais e Internacionais de Apoio à Luta do Povo Tupinambá de Olivença.
          A experiência de 2012 foi marcante pela grande participação de pessoas vindas de outros países (Argentina, Colômbia, França), estados (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais), cidades, localidades e bairros de Ilhéus, Itabuna e região. Marcou também a expressiva presença indígena Tupinambá, Pataxó Hã Hã Hãe, Pankararu, Pataxó, Kariri-Xocó, Xukuru. O evento inteiramente realizado nas Aldeias localizadas: em Santana (Cachoeira Redonda); Aldeia Itapoã (Águas de Olivença); e Aldeia Gwarini Taba Atã (Syryhba). O ambiente de entendimento, compartilhamento e troca de informações e culturais foi o tom do evento em 2012 e, certamente, será o clima das atividades em 2013.
          O Índio Caboclo Marcelino vem ganhando expressão e importância também por seu caráter interdisciplinar (participam: historiadores, educadores, antropólogos, sociólogos, psicanalistas, geógrafos, jornalistas, profissionais da área jurídica) e, fundamentalmente, pela presença da população indígena. O Seminário é internacional porque conta com a participação de argentinos, colombianos e franceses. Entretanto, o conhecimento acadêmico e de diferentes culturas é colocado em diálogo constante com os saberes tradicionais numa relação de respeito e intercâmbio.
          O evento importa também por vivermos numa região (Sul da Bahia) formada por povos indígenas que ainda encontram-se na luta pela demarcação de suas terras ancestrais, contra a criminalização e perseguições que sofrem: Tupinambá, Pataxó, Pataxó Hã Hã Hãe. Não obstante, estas lutas não ocorrem somente nesta região. Os Povos Originários brasileiros e da latinoamerica cada vez mais se mobilizam pela conquista e manutenção de seus direitos e dos territórios tradicionais. Como consequência confrontam-se com politicas, normatizações jurídicas, administrativas e manifestações contrárias aos seus direitos. Enfrentam mesmo ações de violências através de reintegrações de posses, crimes de mortes, tortura, prisões, ações racistas, perseguições.
Por isto que a organização do Índio Caboclo Marcelino ocorreu através de reuniões na comunidade e ouvindo lideranças e caciques. Foi em algumas destas reuniões que o evento mudou de nome: deixou de ser chamado de Seminário para Trajetória. Esta palavra simboliza de forma mais clara o que significa o evento no contexto do Povo Tupinambá: caminhos que são percorridos secularmente, desde os tempos dos ancestrais remontando a ideia de memórias, identidades, culturas e lutas dos povos indígenas.
Assim, em 2012 ocorreu a retomada do Seminário pelo Povo Tupinambá e em 2013, no quinto ano de sua existência, surgiu seu novo nome: Trajetória Internacional Índio Caboclo Marcelino: História, Cultura e Lutas dos Povos Indígenas do Brasil e da América Latina. Quem sabe em 2014 o evento ganhe seu nome indígena?
As Aldeias e Áreas também foram escolhidas nestas reuniões como parte da comunidade indígena Tupinambá. A intenção é cada vez mais contar com a presença dos povos indígenas na organização do evento e em todos os seus momentos como participantes em suas mesas, oficinas, seminários, mostras de filmes e expressões culturais/rituais, a exemplo do Porancy. Portanto, é um evento que possui a UESC como uma das realizadoras porque surgiu incialmente na Universidade e tem entre seus organizadores estudantes e professores da Universidade. Entretanto, queremos que seja cada vez mais organizado a partir da Comunidade Indígena.
          A V Trajetória Internacional Índio Caboclo Marcelino envolve, assim, a comunidade indígena e não indígena. Por isto nas rodadas de conversa tem sempre a presença de índios e não índios. Nesta direção a parceria com a Jornada Mal Estar na Cultura – Medo só enriquece o evento pelo histórico cultural e social dos que formam o Projeto Etcétera e Tal... Psicanálise e Sociedade. Os horários do evento são diferenciados em decorrência das distâncias e da diversidade de lugares de seus participantes.
          Salientamos que esta Trajetória, que carrega em seu nome a importante figura do guerreiro indígena Caboclo Marcelino (veja texto sobre Marcelino neste espaço), tem como um de seus propósitos ser um evento que não fique restrito ao mundo acadêmico. O objetivo é que ele seja resultado da ação da comunidade local/regional, especialmente, a indígena. Por isto a ideia é que a Trajetória ocorra sempre no mês de setembro, próximo ao último domingo, quando acontece a Caminhada Tupinambá em Memória aos Mártires do Massacre do Rio Cururupe e à Luta de Caboclo Marcelino (29/09/2013).
     Deste modo, queremos que este evento não ocorra apenas por uma necessidade acadêmica ou resultante da obrigatoriedade constituída pela Lei 11.645, de 10 março de 2008, que: “estabeleceu as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”.      
Ao mesmo tempo, vale salientar que a proposta da Trajetória  é ampliar, aprofundar e contribuir com a discussão sobre a história, memória, cultura e lutas (passadas e atuais) dos povos indígenas do Sul da Bahia, mas também de outros lugares, no Brasil e na América Latina. Desejamos contribuir com a luta contra a criminalização, atentados e racismo que vivencia a população indígena brasileira e latino-americana na luta por suas terras ancestrais e reconhecimento étnico:
A força dos povos indígenas brasileiros, assim como da América, vem da natureza de “la Madre Tierra" - Pachamama". A luta pelas terras tradicionais não é para a obtenção de propriedades. É a luta pelo sagrado, pela natureza e por aqueles que mais a preservam: os índios. Quando um índio está na natureza ele não está só. Com ele estão: o sagrado, seus ancestrais, os parentes mortos e vivos. Como escreveu Aguirre Rojas sobre a luta indígena em Chiapas no México: "los dignos indígenas rebeldes de Chiapas hablan de la tierra la que para ellos, igual que para los indígenas ecuatorianos o bolivianos, y también para los índios brasileños (ou argentinos), no connota a un simple bien comercial y transferible, ni a un pedazo geográfico del terreno degradado a la condición de mercancía, sino más bien a la verdadera “Madre Tierra”, a la “Pachamama”, concebida como fuente general e imprescindible de la vida..." (SANTOS, Carlos José F. ”A Solidão na Metrópole: a cidade Pós-Moderna”. In: Ia. Jornada Internacional “Mal-Estar en la Cultura: la Soledad. São Paulo/General Del Pico: Proyecto Etcétera y Tal... psicoanálisis y sociedad - Digitado, 2011)
          Fazemos assim nossas as palavras que estão no sítio Índios Online: 
O Estado Brasileiro tem uma dívida histórica com os Povos Indígenas, é preciso mais que urgente que todos os cidadãos brasileiros somem forças para cobrar que esta dívida seja definitivamente paga com a demarcação dos Territórios Tradicionais. É por causa dessa inércia do Estado que somos obrigados a fazer por nossa conta e risco a auto-demarcação de nossos Territórios Tradicionais. Nós Indígenas não somos invasores de terras. Quando o Brasil foi invadido pelos portugueses, aqui já existiam os hoje chamados indígenas. Nossos ancestrais já habitavam este território chamado Brasil.
(http://www.indiosonline.org.br/novo/cacique-maria-valdelice-presa-injustamente/comment-page-1/#comment-15881).
Por fim, destacamos que cinco anos de evento como este é uma demonstração de quanto a força dos conhecimentos acadêmicos voltados para as diferentes comunidades, somada a energia dos saberes indígenas, podem produzir sabedorias alternativas e vivas.
Encerro evocando a energias dos encantados da natureza:
ORAÇÃO DO SOL
Oh grande espírito, cuja voz escuto nos ventos e cujo alento dá vida a todo o mundo.
Ouve-me!
Sou pequeno e fraco, sou pequeno e fraco, necessito de tua força e sabedoria.
Deixa-me andar em beleza e faz com que meus olhos possam sempre contemplar o vermelho e a púrpura do pôr-do-sol.
Faz com que minhas mãos respeitem tudo o que fizeste e que meus ouvidos sejam aguçados para ouvir tua voz.
Faz-me sábia e sábio para que eu possa compreender as coisa que ensinaste ao meu povo.
Deixa-me aprender as lições que escondestes em cada folha, em cada rocha.
Busco força, não para ser maior que meu irmão e irmã, mas, para lutar contra meu maior inimigo - eu mesmo .
Faz-me sempre pronta e pronto para chegar a ti com as mãos limpas e com o olhos firme a fim de que, quando a vida apooar, como se apooa o poente, o meu espírito possa estar contigo sem se envergonhar.
BEM VINDOS À: 
V Trajetória Internacional Índio Caboclo Marcelino: História, Cultura e Lutas dos Povos Indígenas do Brasil e da América Latina
&

Caminhada Tupinambá em Memória aos Mártires do Massacre do Rio Cururupe e à Caboclo Marcelino
Olivença – Ilhéus – Bahia
Território Tupinambá
AWÊRE !!!


Créditos/Fotos:
- Foto de Fundo do Ritual Porancy (2012): Naélia Cristina Forato 
- Foto Tema da Oca Tupinambá (2012): Mauricio Pinheiro

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Carta Pública dos Povos Indígenas do Brasil à presidenta da República Dilma Rousseff

Carta Pública dos Povos Indígenas do Brasil à presidenta da República Dilma Rousseff
Em reunião realizada com a presidente da República na tarde de hoje, 10, lideranças e organizações indígenas da APIB e distintos povos do Brasil reivindicam do governo, a construção de uma agenda positiva, com compromissos e metas concretas para atender as demandas dos povos indígenas.
 
A seguir, íntegra da carta entregue à presidente da República.
Carta Pública dos Povos Indígenas do Brasil à presidenta da República Dilma Rousseff
 
À  Excelentíssima Senhora
Dilma Rousseff
Presidenta da República Federativa do Brasil
Brasília-DF
 
Estimada Presidenta:
 
Nós lideranças indígenas de distintos povos e organizações indígenas das diferentes regiões do Brasil, reunidos nesta histórica ocasião com a vossa excelência no Palácio de Governo, mesmo em número reduzido, mas o suficientemente informados e profundamente conhecedores, mais do que ninguém, dos problemas, sofrimentos, necessidades e aspirações dos nossos povos e comunidades, viemos por este meio manifestar, depois de tão longa espera, as seguintes considerações e reivindicações, que esperamos sejam atendidas pelo seu governo como início da superação da dívida social do Estado brasileiro para conosco, após séculos de interminável colonização, marcados por políticas e práticas de violência, extermínio, esbulho, racismo, preconceitos e discriminações.
 
Estamos aqui, uma pequena mas expressiva manifestação da diversidade étnica e cultural do país, conformada por 305 povos indígenas diferentes falantes de 274 línguas distintas com uma população aproximada de 900 mil habitantes conforme dados do IBGE. E em nome desses povos que:
- Reiteramos o nosso rechaço à acusação de que somos empecilhos ao desenvolvimento do país numa total desconsideração da nossa contribuição na formação do Estado Nacional brasileiro, na preservação de um patrimônio natural e sociocultural invejável, inclusive das atuais fronteiras do Brasil, das quais os nossos ancestrais foram guardiães natos. Contrariamente aos que nos acusam de ameaçarmos a unidade e integridade territorial e a soberania do nosso país.
 
- Repudiamos toda a série de instrumentos político-administrativos, judiciais, jurídicos e legislativos, que buscam destruir e acabar com os nossos direitos conquistados com muita luta e sacrifícios há 25 anos, pelos caciques e lideranças que nos antecederam, durante o período da constituinte.
 
- Somos totalmente contrários a quaisquer tentativas de modificação nos procedimentos de demarcação das terras indígenas atualmente patrocinados por setores de seu governo, principalmente a Casa Civil e Advocacia Geral da União (AGU), visando atender a pressão e interesses dos inimigos históricos dos nossos povos, invasores dos nossos territórios, hoje expressivamente representados pelo agronegócio, a bancada ruralista, as mineradoras, madeireiras, empreiteiras, entre outros.
 
- Não admitiremos retrocessos na garantia dos nossos direitos, por meio de iniciativas legislativas
que poderão condenar os nossos povos a situações de indesejável miséria, etnocídio e conflitos imprevisíveis como já se verifica em todas as regiões do país, principalmente nos estados do Sul e no Estado de Mato Grosso do Sul.
 
- Rechaçamos a forma como o governo quer viabilizar o modelo de desenvolvimento priorizado, implantando a qualquer custo, nos nossos territórios, obras de infra-estrutura nas áreas de transporte e geração de energia, tais como, rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, usinas hidroelétricas, linhas de transmissão, desrespeitando a nossa visão de mundo, a nossa forma peculiar de nos relacionar com a Mãe Natureza, os nossos direitos originários e fundamentais, assegurados pela Carta Magna, a Convenção 169 e a Declaração da ONU.
 
Reivindicações
 
Diante deste manifesto, expressamos as seguintes reivindicações:
1. A incidência do governo junto a sua base para o arquivamento das Propostas de Emendas à Constituição (PEC) 038 e 215 que pretendem transferir para o Senado e Congresso Nacional respectivamente a competência de demarcar as terras indígenas, usurpando uma prerrogativa constitucional do Poder Executivo.
2. Reivindicamos o mesmo procedimento para a PEC 237/13 que visa legalizar o arrendamento das nossas terras, do PL 1610/96 de Mineração em Terras Indígenas, do PL 227/12 que modifica a demarcação de terras indígenas, entre outras tantas iniciativas que pretendem reverter os nossos direitos constitucionais.
3. O Governo deve fortalecer e dar todas as condições necessárias para que a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) cumpra devidamente o seu papel na Demarcação, proteção e vigilância de todas as terras indígenas, cujo passivo ainda é imenso em todas as regiões do país, mesmo na Amazônia onde supostamente o problema já teria sido resolvido. Não admitimos que a FUNAI seja desqualificada nem que a Embrapa, Ministério da Agricultura e outros órgãos, desconhecedores da questão indígena, venham a avaliar e supostamente contribuir nos estudos antropológicos realizados pelo órgão, só para atender interesses políticos e econômicos, como fizera o último governo militar ao instituir o famigerado “grupão” do MIRAD, para “disciplinar” a FUNAI e “avaliar” as demandas indígenas.
4. Para a demarcação de terras indígenas propomos a criação de um Grupo de Trabalho, com participação dos povos e organizações indígenas no âmbito do Ministério da Justiça e da Funai para fazer um mapeamento, definição de prioridades e metas concretas de demarcação.
5. Não aceitamos a proposta de criação de uma Secretaria que reúna a FUNAI com a Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), prejudicando o papel diferenciado de cada órgão.
6. Exigimos a revogação de todas as Portarias e Decretos que ameaçam os nossos direitos originários e a integridade dos nossos territórios, a vida e cultura dos nossos povos e comunidades:
6.1. Portaria 303, de 17 de julho de 2012, iniciativa do poder Executivo, por meio da Advocacia Geral da União (AGU) que estende equivocadamente a aplicação para todas as terras a aplicabilidade das condicionantes estabelecidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento do caso Raposa Serra do Sol (Petição 3.388/RR), que ainda não transitou em julgado.
6.2. Portaria 2498, de 31 de outubro de 2011, que determina a intimação dos entes federados para que participem dos procedimentos de identificação e delimitação de terras indígenas, sendo que o Decreto 1.775/96 já estabelece o direito do contraditório.
6.3. Portaria Interministerial 419 de 28 de outubro de 2011, que restringe o prazo para que órgãos e entidades da administração pública agilizem os licenciamentos ambientais de empreendimentos de infra-estrutura que atingem terras indígenas.
6.4. Decreto nº 7.957, de 13 de março de 2013. Cria o Gabinete Permanente de Gestão Integrada para a Proteção do Meio Ambiente, regulamenta a atuação das Forças Armadas na proteção ambiental e altera o Decreto nº 5.289, de 29 de novembro de 2004. Com esse decreto, “de caráter preventivo ou repressivo”, foi criada a Companhia de Operações Ambientais da Força Nacional de Segurança Pública, tendo como uma de suas atribuições “prestar auxílio à realização de levantamentos e laudos técnicos sobre impactos ambientais negativos”. Na prática isso significa a criação de instrumento estatal para repressão militarizada de toda e qualquer ação de povos indígenas, comunidades, organizações e movimentos sociais que decidam se posicionar contra empreendimentos que impactem seus territórios.
7. Reivindicamos também do Governo Brasileiro políticas públicas especificas, efetivas e de qualidade, dignas dos nossos povos que desde tempos imemoriais exercem papel estratégico na proteção da Mãe Natureza, na contenção do desmatamento, na preservação das florestas e da biodiversidade, e outras tantas riquezas que abrigam os territórios indígenas.
- Na saúde, efetivação da Secretaria Especial de Saúde Indígena e os Distritos Sanitários Especiais Indígenas, para a superação dos distintos problemas de gestão, falta de profissionais, de concurso específico para indígenas, plano de cargos e salários, de assistência básica nas aldeias, entre outros.
- Na Educação, que a legislação que garante a educação específica e diferenciada seja respeitada e implementada, com recursos suficientes para tal e que seja aplicada imediatamente da Lei 11.645, que trata da obrigatoriedade do ensino da diversidade nas escolas.
- Na área da sustentabilidade, instalação do Comitê Gestor da PNGATI e de outros programas específico para os nossos povos, com orçamento próprio.
- Para a normatização, articulação, fiscalização e implementação de outras políticas que nos afetam, criação imediata do Conselho Nacional de Política Indigenista (CNPI), cujo Projeto de Lei (3571/08) não foi até hoje aprovado na Câmara dos Deputados.
8. Reivindicamos ainda do Governo, o cumprimento dos acordos e compromissos assumidos no âmbito da Comissão Nacional de Política Indigenista (CNPI), relacionados com a tramitação e aprovação do Estatuto dos Povos Indígenas no Congresso Nacional.
9. Considerando que esta reunião com a Vossa Excelência acontece no contexto de muitos outros protestos pelo país inteiro, manifestamos a nossa solidariedade a outras lutas e causas sociais e populares que almejam como nós um país diferente, plural e realmente justo e democrático. Pela também regularização e proteção das terras quilombolas, territórios pesqueiros e de outras comunidades tradicionais, e pela não urgência do PL do novo marco regulatório da mineração, para assegurar a participação da sociedade civil na discussão deste tema tão estratégico e delicado para a nação brasileira.
10. Reafirmamos por tudo isso, a nossa determinação de fortalecer as nossas lutas, continuarmos vigilantes e dispostos a partir para o enfrentamento político, arriscando inclusive as nossas vidas, mas também reiteramos a nossa disposição para o diálogo aberto, franco e sincero, em defesa dos nossos territórios e da Mãe Natureza e pelo bem das nossas atuais e futuras gerações, em torno de um Plano de Governo para os povos indígenas, com prioridades s e metas concretas consensuadas conosco.
11. Chamamos, por fim, aos nossos parentes, lideranças, povos e organizações, e aliados de todas as partes, para que juntos evitemos que a extinção programada dos nossos povos aconteça.
 
Brasília-DF, 10 de julho de 2013.
 
APIB – ARTICULAÇÃO DOS POVOS INDÍGENAS DO BRASIL
Fontes: APIB

O PAPA, O PAI-NOSSO E A FADA TUPI

O PAPA, O PAI-NOSSO E A FADA TUPI
José Ribamar Bessa Freire
14/07/2013 - Diário do Amazonas


Na próxima semana, no Rio, o papa rezará o pai-nosso traduzido em 26 idiomas. É uma forma de a Igreja Católica prestigiar cada um deles. Na lista não consta, porém, nenhuma das mais de 180 línguas indígenas faladas hoje no Brasil. Acontece que a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) adotou como oficiais somente línguas indo-europeias - inglês, francês, alemão, espanhol, português, italiano e polonês, que serão usados na catequese juntamente com outros 19 idiomas "paroquiais", entre os quais o coreano, o russo, o croata, o letão, o árabe e até o turco. Das línguas daqui nem sequer o guarani, que é falado em três municípios do Rio de Janeiro, fará parte do evento.
Se o papa não reza em guarani não é por falta de ave-maria. Basta que ele desça ao Arquivo Secreto do Vaticano - um bunker de concreto no subsolo perto da Capela Sistina com milhões de documentos em 43 quilômetros de prateleiras. Lá ele encontrará versões do pai-nosso em diversas línguas ameríndias, incluindo a Língua Geral de base tupi, que já foi a língua da catequese, além de catecismos, sermões, hinos e orações em guarani, idioma falado hoje em dez estados do Brasil, no Paraguai, na Argentina, na Bolívia e até mesmo no Uruguai, onde o Estado finge que não existe.
Por sua importância, por ser um ponto de união entre os países da América do Sul, o guarani foi declarado, em novembro de 2006, idioma oficial do Mercosul, "em igualdade de condições com o português e o espanhol". Tal decisão, aprovada na XXIII Reunião do Mercosul Cultural, obriga a tradução dos documentos para o Guarani, que dois anos antes já havia sido declarado idioma oficial alternativo da Província Argentina de Corrientes, sendo adotado depois, em 2010, como segunda língua oficial nos municípios de Tacuru e Paranhos, ambos em Mato Grosso do Sul.
Oré Ubá
Mesmo assim, os milhares de peregrinos vindos de todos os continentes, que serão distribuídos pelas paróquias do Rio, sairão do Brasil sem saber que visitaram um país diverso e multilíngue, porque a operação logística montada pela organização da JMJ, que contempla tradutores e aplicativos de tradução sonora com ajuda de smartphones para comunicação em línguas estrangeiras, deixou de fora as línguas nacionais. É nessa hora que a gente sente saudades do Policarpo Quaresma.
A tradução de orações para línguas indígenas tem uma história complicada. Por isso, se o papa Francisco, que é da Argentina onde se fala guarani, fosse rezar nessa língua, teria que evitar as primeiras versões do pai-nosso feitas por alguns de seus confrades que cometeram erros quase "folclóricos". Pai-nosso, por exemplo, foi traduzido como oré ubá, o que obrigou os índios a excluir do seu convívio a figura de um Deus Pai, cuja paternidade era questionável, e de um Deus Filho para sempre incompreendido. Tanto o oré como o ubá são inadequados - dizem os especialistas.
Oré, efetivamente, é nosso. Mas ali onde a língua portuguesa tem apenas uma forma para o possessivo, o tupi antigo possui duas: quando o 'nosso' inclui a pessoa com quem estou falando, tenho que usar iandé ou nhandé. Já quando excluo o interlocutor, uso oré. O tupi parece mais adequado a um discurso de transparência. No caso, por exemplo, das emendas orçamentárias, na hora de pedir verba seus autores usariam o inclusivo nhandé: a verba pública é nossa (minha e tua). Mas na hora de aplicá-la e embolsá-la, seriam obrigados a usar o exclusivo oré, pois o nosso aqui é o do Mateus: primeiro o meu, depois os teus.
Usar o oré no pai-nosso não permite que quem reza junto compartilhe o mesmo pai. Se o papa rezar em guarani dessa forma, estará dizendo aos índios "pai nosso que não é de vocês", o que pensando bem talvez seja o mais correto, afinal o tradutor pode ter escrito certo por linhas tortas. A voracidade com a qual o agronegócio abocanha as terras indígenas com a cumplicidade do poder político permite que os índios duvidem se compartilham o mesmo pai com a senadora Kátia Abreu, católica fervorosa.
Anga e Ceiuci
Além disso, quando na Oração do Senhor o papa chamar pai de ubá, a confusão vai aumentar, porque a estrutura de parentesco tupi obedece a princípios diferentes dos nossos, como esclarece o padre Lemos Barbosa em seu Curso de Tupi Antigo, oferecido na PUC/RJ nos anos 1950. Ele diz que ubá não tem correspondente preciso em português, porque denomina tanto o pai como o irmão do pai, da mesma forma que filho não tem equivalente em tupi, pois ayra ou rayra significa também filho do irmão, ou seja sobrinho paterno.
Quando se trata do filho de Deus, então, a questão se complica ainda mais, por envolver valores morais, tabus e preconceitos. Posto que a palavra rayra ou ayra significa também sêmen, ela foi omitida na tradução de ‘imagem do filho de Deus’, substituída por "Tupã tay raangaba", segundo avaliação de Teodoro Sampaio (1885-1937), um engenheiro baiano, filho de uma escrava, que estudou a toponímia tupi na geografia nacional.
Por não conseguirem transferir toda a carga de significados de uma cultura a outra, reduziram e deformaram a diversidade cultural e ambiental. O papa Francisco teria dificuldades com a tradução de palavras como alma (anga), céu (ybaka), yasy (lua), ara (dia ou tempo), mano (morrer), etc, como observa o padre Lemos:
"Os dicionários podem dizer que anga significa alma. Mas o conceito de alma é diferente do de anga, tanto em compreensão como em extensão. Nós atribuímos à alma características (por exemplo, a imaterialidade) que não cabem no conceito indígena de anga. Por outro lado, um índio animista falará na anga do vento".
Como guardar o sentido da palavra deputado numa língua indígena? Couto de Magalhães usou "homens de governo da nossa pátria" ao traduzir para o Nheengatu a certidão de batismo do neto de Dom Pedro II. Mas discordou do termo "fada indígena", usado para designar a figura lendária de Ceiuci - uma velha gulosa que vivia perseguida por eterna fome - na narrativa coletada no Tocantins, em 1865, com um tuxaua Anambé. Para ele, também a versão do pai-nosso que circulava na Amazônia era uma fada tupi, isto é, um monte de palavras desconexas que não expressavam o seu significado original.
O papa perderá uma boa oportunidade de fazer um gesto simbólico e de celebrar o guarani, reconhecido e valorizado quando usado em outros espaços sociais. Afinal, como diz um jesuíta amigo dos índios, Bartomeu Meliá, “también la historia de América es la historia de sus lenguas, que tenemos que lamentar cuando ya muertas, que tenemos que visitar y cuidar cuando enfermas, que podemos celebrar con alegres cantos de vida cuando son habladas”.   
Mas diante de tantas dificuldades, talvez seja melhor mesmo, pelo menos para os índios, que o Papa não reze em guarani. Bem ali, ao lado da aldeia Maracanã onde funcionou o antigo Museu do Índio, na paróquia do Divino Espírito Santo, peregrinos chineses rezarão em mandarim e cantonês. Longe dali, distante da Jornada Mundial da Juventude,os jovens guarani, abençoados por Nhanderu, cantarão seus cânticos sagrados tradicionais dentro da Opy, em suas aldeias.
P.S. A ilustração do nosso parceirinho Fernando Assaz Atroz
 

sábado, 6 de julho de 2013

CONFERÊNCIA DE CULTURA DE SIMÕES FILHO (2013)


IV CONFERÊNCIA MUNICIPAL DE CULTURA DE SIMÕES FILHO

PROGRAMAÇÃO

Local: Centro Cultural Irmão Inocêncio Antônio da Rocha - Centro (Praça da Bíblia) - Simões Filho (BA).

09 de julho de 2013

18h00 – Abertura do credenciamento.

18h20 – Atividade cultural - Projeto CoroArte - Flautas e Percussão.

18h30 – Abertura dos trabalhos com vídeo institucional SECULT BA (Fala do secretário Albino Rubim).

18h35 – Composição da mesa – autoridades presentes.

18h45 – Fala do Presidente da ADIMCBA - Associação de Dirigentes Municipais de Cultura da Bahia – Sr. Adelson dos Santos Fonseca.

18h55 – Fala do Presidente do Conselho Municipal de Cultura de Simões Filho – Sr. Augusto Leal.

19h05 – Fala do Representante do Ministério da Cultura Bahia/Sergipe – Sr. Luiz Henrique Santos Oliveira Sena.

19h15 – Fala do Secretário Municipal de Cultura – Sr. Jorge Salles.

19h25 – Fala do Presidente da Câmara Municipal de Vereadores – Sr. Joel Luiz C. Andrade.

19h35 – Fala do Prefeito Municipal – Dr. José Eduardo Mendonça de Alencar.

Desfaz-se a mesa.

19h40 – Palestra: “Uma Política de Estado para a Cultura: Desafios do Sistema Estadual de Cultura” (tema da V Conferência Estadual de Cultura que ocorrerá em outubro de 2013) – Sandro Magalhães – Diretor de Territorialização da Cultura.

20h00 – Atividade cultural – Espetáculo: Virada de página - Grupo Noz Cego.
 
20h40 – Coquetel de encerramento.


10 DE JULHO DE 2013

8h00 – Café da manhã.

8h20 – Leitura e aprovação do regulamento.

8h50 – Início dos trabalhos nos eixos temáticos.

9h00 – Apresentação da metodologia da Conferência nos respectivos espaços dos Eixos I e II.

10h30 – Intervalo.

10h40 – Retorno aos trabalhos.

12h00 – Almoço.

13h30 – Continuação dos Trabalhos nos Eixos I e II.

15h30 – Intervalo.

16h00 – Plenária final / Eleição dos Delegados.

17h00 – Encerramento – J2 - Dança de rua e rap.


Fonte: Secretaria Municipal de Cultural - SEMUC (por e-mail).
Fonte da foto: (Irmã Dulce com Ademario Ribeiro). Crédito: Feliciano Matos. Acervo: Ademario Ribeiro

Referências

HORA, Antonio Apolinário da. História Comprida . Simões Filho : Secretaria de- Cultura e Desportos, 2005.
RIBEIRO, Ademario Souza; JARDIM, Ana Cristina Magalhães. História e cultura dos povos indígenas: abordagem transversal fortalecida pela lei 11.645/2008. PRÓ- PROFESSOR , Ouro Preto, v.1, n.1, 2012, p. 1-21.