sexta-feira, 24 de setembro de 2010

DANÇA DE SÃO GONÇALO
NO QUILOMBO PITANGA DOS PALMARES
&
E Outras Tradições Culturais

Por Ademario Ribeiro*

QUEM É, DE ONDE VEM E PORQUE SE DANÇA:
“Ô de Casa, ô de fora, Maria, vem ver quem é...” é A Tradição da Dança ou Roda de São Gonçalo - uma Manifestação da Cultura Popular das mais encontradas nos estados brasileiros, inclusive em municípios baianos, notadamente na região do Rio São Francisco e no Recôncavo. Em Simões Filho no distrito de Pitanga de Palmares em 1986 o Incansável e Saudoso Mestre Nelson de Araújo a registrou em seu livro “Pequenos Mundos - Uma Panorâmica da Cultura Popular na Bahia”. Tradicionalmente o evento acontece no dia 10 de janeiro, dia da morte do eremita Gonçalo em Amarante, Portugal em 1259, e nascido em 1187, em Simões Filho, particularmente, varia em virtude dos gastos com final de ano e de ano novo, orçamento do poder público, etc - os recursos para prover a estrutura necessária não chegam em tempo de manter essa data.
A Dança de São Gonçalo se dá pôr intuito votivo: (em agradecimento ao santo em função de alguma graça alcançada). Em Portugal, São Gonçalo tem uma popularidade semelhante a de Senhor do Bonfim na Bahia. Ele ajudava leprosos, prostitutas, parturientes. Era casamenteiro tal e qual o Santo Antônio, construiu pontes e igrejas e com sua viola, era um farrista inveterado!

CENÁRIO AONDE A DANÇA ESTÁ E A CERTIDÃO QUILOMBOLA:
Em Pitanga dos Palmares, localidade do município de Simões Filho, fazendo divisa com o município de Camaçari. No dia 05 de junho de 2005 a Fundação Cultural Palmares/MinC, promoveu a cerimônia de entrega da certidão de auto-reconhecimento para a Comunidade Remanescente do Quilombo de Pitanga dos Palmares. Se esta região rica em cultura, história, natureza pródiga já merecia os cuidados e promoções ainda mais agora nossas atenções deverão esta mais que redobradas no sentido da preservação e valorização das matrizes etnohistóricas deste povo e, enfim, promover incrementos para sua salvaguarda, qualidade de vida e garantias sociais, ocupação e renda! Senão, como se manter de pé?!

PORQUE E POR QUEM SE DANÇA E QUANDO PAROU:
Na Dança de São Gonçalo daqui - o agradecimento ao Santo Gonçalo é marcado pela fartura das colheitas da mandioca e da cana-de-açúcar. Ele é também reverenciado, pela cura de picadas de cobras, pelo trabalho de parto e em proteção aos músicos.
Essa manifestação popular foi reprimida entre 1720 e 1728 na Bahia e depois retomada a perseguição em 1839. O beato e ou eremita Gonçalo não era popular apenas em seu Portugal, assim também na Península Ibérica, ele, São Gonçalo (de Amarante), teria vivido entre 1187 e 1259 e doado sua riqueza aos pobres, contudo a igreja não o canonizaria por ele ter a fama de festeiro e protetor das meretrizes. Tanto lá em Portugal como no Brasil, a Festa tinha o agrado popular, mas era cercada de preconceitos pelas autoridades da época.

A cultura da cana-de-açúcar foi um traço forte da presença portuguesa nesta região de Cotegipe (depois Água Comprida, hoje Simões Filho), com engenhos, casarões e igrejas – terras de índios de diversas etnias e predominadas pelos Tupinambá – para as quais vieram também as etnias africanas, Bantus que em muito povoaram o recôncavo Baiano, inicialmente, através dos navios Negreiros, também chamados de Tumbeiros.

PRECURSOR DA DANÇA QUE VEIO COM A COLÔNIA:
Sr. Matias dos Santos ou Sr. Aristides, um caboclo forte e carismático, nos contava que aprendera a Dança de São Gonçalo, rezas, conhecimentos para o uso das ervas e outras manifestações culturais como: Bumba Meu Boi, Samba de Viola, Queima das Palhinhas, Baile das Pastorinhas, Dança de Engenho, Dança da Loba, A Lenda do Boiuçu, etc, - desde a sua mais tenra infância com um ancião, antigo morador desta localidade onde a festa já era tradicional na Fazenda Mocambo (hoje está embaixo das águas da Bacia Joanes II que também engoliu o Rio Imbirussu).
Essas manifestações culturais estimam-se sua existência há mais de um século e meio quando outros acreditam que elas já viessem incorporadas no fazer e traço dos segmentos do Brasil Colônia.
Sr. Matias era o Capitão do Bumba-Meu-Boi, Rezador, Cantador e Dançarino. Na Dança de São Gonçalo ele era o Mestre e contava ainda com duas Rainhas, dois Reis, Pastoras e Pastores, Tocadores e duas adolescentes (Rosas Meninas) encarregadas de jogar Folhas de São Gonçalinho sobre o povo. Folhas estas usadas para acelerar o Trabalho de Parto. Além de outros benefícios do beato de Amarante, era devotada a ele a proteção às parturientes. Em Portugal, os brincantes de São Gonçalo jogam pães aos que assistem a Dança, assim, imortalizam o gesto humanístico do eremita Gonçalo que jogava pães aos leprosos de uma certa região daquele país.

A DANÇA E SUA MESTIÇAGEM:
O ritmo das violas, pandeiros e das palmas favorece os meneios das cadeiras, soltando os quadris e de suaves “umbigadas”. As ladainhas e loas puxadas pelo Mestre e respondidas pelos pares e populares nos inserem numa atmosfera e cenários coloniais – período em que os portugueses espalharam pelo Brasil esta Manifestação de caráter Religioso e Cultural onde as vozes africanas e indígenas mesclaram suas contribuições.

OS HERDEIROS CULTURAIS:
Quando Mestre Matias (também conhecido por Seo Alcides), faleceu em setembro de 1997, já tinha “passado” em definitivo as incumbências e saberes para Bernadete Pacífico Moreira, presidente da Associação de Moradores de Pitanga de Palmares que junto aos outros herdeiros, perfazem três gerações entre pais, filhos e netos. Ela aprendera outras “sabenças” com sua mãe D.Maria Alvina do Nascimento, como o Baile das Pastorinhas - as quais esta teria aprendido de sua mãe D. Maria Faustina do Nascimento, nascida neste povoado e praticante das Danças na Fazenda Mocambo. É a riqueza oral e cultural passada de pais para filhos e netos.
Além do apoio que recebem da Prefeitura local, esta tradição e outras como Samba de Viola, Dança do Engenho e Bumba-Meu-Boi dependem muito de que apoiemos Bernadete e aqueles que são os Fundadores e continuadores destas Manifestações. Sugerimos uma Assessoria de Acompanhamento e Marketing para ações permanentes de Apoio e Preservação destas Manifestações Culturais - Patrimônio do povo!
DESAFIO – ETNODESENVOLVIMENTO:
Hoje, em 18 estados brasileiros, são aproximadamente mil Comunidades Remanescentes de Quilombolas e seu ídolo maior foi o Zumbi dos Palmares. Pitanga dos Palmares e Dandá em Simões Filho – Bahia, junto às já reconhecidas, contarão com um conjunto de leis que determinam por estarmos assegurando-lhes a plena cidadania. Então, mais que nunca, todos os projetos e ações locais devem passar por esta mística. Na busca de sustentabilidade surgiu um novo conceito: "tecnologia social" - na qual compreendemos que produtos, técnicas ou metodologias sejam desenvolvidas na base da comunidade em foco. Afinal, não pode haver desenvolvimento e transformação social se as pessoas não estão envolvidas e participando coletivamente nestes processos de organização, proposição, desenvolvimento e implementação de projetos e ações.
Qualquer metodologia nas comunidades deve permear o-seu-ser-o-seu-fazer-o-seu-modo-de-cultura-e-o-seu-local como tentativa de responder à emergência da salvaguarda do seu patrimônio oral e imaterial com ênfase aplicada à garantia de suas vidas e promoção de ocupação e renda! Atitudes assim, de reformulação e ações estruturantes requerem investimentos e parcerias cada vez mais intensas e sistematizadas que respondam positivamente às demandas e à velocidade do mundo atual. Enfim, para isto ocorrer é urgente partir do vigor e brilho das festas para a responsabilidade social e política que transforme o ser humano, suas tradições e seus recursos naturais em práticas cotidianas de ampliação da qualidade de vida!

UM POUCO DO QUE AINDA HÁ EM PITANGA DOS PALMARES:
A Dança da Loba; Samba de Viola; Queima das Palhinhas; Baile das Pastorinhas; Dança de Engenho; Dança da Loba; - A Lenda do Boiuçu.
Viva e reviva São Gonçalo!

*ADEMARIO RIBEIRO é poeta, teatrólogo, artista e diretor teatral – DRT 443/78, ambientalista, indigenista, membro fundador da ALARME – Academia de Letras e Artes da Região Metropolitana de Salvador, da Associação Muzanzu, da Associação Sambadores e Sambadeiras do Estado da Bahia, fundador e presidente da ARUANÃ - Associação para Recursos Ambientais e Artísticos.
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PROGRAMAÇÃO 2006
Dias: 12, 17, 18 e 19 de fevereiro de 2006
Locais: Pitanga dos Palmares, Palmares e Pitanga dos Palmares.
Dia 12 – Domingo. Às 15:00 horas – Missa Solene de São Gonçalo e dos Vaqueiros
Local: Capela de São Gonçalo – Praça Matias dos Santos.
Dia 17 – Sexta-feira. Das: 18:00 horas – Reza do Tríduo.
Local: Capela de São Gonçalo – Praça Matias do Santos – Pitanga dos Palmares;
Das 20:00 às 02:00 horas – Atrações musicais.
Local: Praça Matias do Santos – Pitanga dos Palmares.

Dia 18 - Sábado. Das 18:00 às 20:30 horas – Atrações musicais.
Das 21:00 às 22:00 horas – Dança de São Gonçalo e Samba de Viola.
Das 22:00 às 02 horas – Atrações musicais.
Dia 19 Domingo. Às 10:00 horas – Lavagem. Cortejo com as baianas, grupos culturais locais e visitantes, autoridades, cavaleiros, ciclistas e o povo em geral.
Local: Saída de Palmares com chegada na Praça Matias dos Santos em Pitanga dos Palmares.
Às 13:00 horas – Lavagem da escadaria da Capela de São Gonçalo.
Das 13:30 às 18:00 horas – Apresentações dos Grupos Locais e Visitantes.
Das 18:00 às 02:00 horas – Atrações musicais.

COMO CHEGAR:
Para quem vem de Salvador pela BR 324, após o Posto Fiscal em Simões Filho e após o viaduto em frente a RDM (ex-SIBRA), pegar a BA 093 que dá acesso à Camaçari/ Pólo Petroquímico. Após o Posto de Gasolina, na altura da Fabrind, entrar à esquerda e seguir em frente até a Praça Matias do Santos, sentido quem vai para a Barragem (Bacia Joanes II).

terça-feira, 11 de maio de 2010

Fronteira - Minha Família



POESIAS E PENSAMENTAÇÕES ACERCA DA MINHA FAMÍLIA

I
Meu pai, Alberto Severiano Ribeiro, nasceu em Mundo Novo, na localidade de Covão, hoje, Indaí, em 21/11/1901.

Minha mãe, Amélia Souza Ribeiro, nasceu em Miguel Calmon, na localidade depois conhecida por Cabral, em 27/01/1917.

Tiveram desta união 8 filhos: Albertina, Almira, Áurea, Angelita (falecida), Almiro, Adelmo, Adelmira e Ademario (eu, o caçula).

Ele era ourives e lavrador. Viera de Mundo Novo para consertar/colar/emendar panelas, tachos, corretes, relógios e se consertou com minah mãe Amélia.
Ela, lavradora. Nascida como seus antepassados, em solo Payayá, e que depois passou a ser dos que vieram "danar", entre outros de outros a se aventurar. Sonhava ela - minha mãe - tocar violão. Por preconceito do seu pai, jamais chegou perto de um. Sem saber disto ou “elaborar” isto, mas como obra do fantástico me tornou um artista?
No título de eleitor do meu pai sua prpfissão consta "artista", talvez porque naquela época o ourives era ação de um artista ou algo próximo. Ele também era lavrador e garimpava as serras de Jacobina.

II

Ainda devo aos meus irmãos, pelo menos uma poesia para cada. Numa porção de poesias eu os vejo, eu os ponho ali. Todas as minhas poesias estão cheias deles.

Aos meus pais tenho dedicado mais. Você lerá algumas logo agora. Mas, antes quero revelar que eu faria muita poesia para Áurea. Todas as poesias à ela seriam para falar que ela é a cumeeira da família e que sua bondade para conosco é coisa rara de se ver.
Fico, porém devendo à cada deles um comentário poético. Talvez eu escreva que Adelmira é doublê de ranzinza e brincalhona. Tem uma coragem de Dadá, mulher de Corisco. Adelmo foi um menino que cresceu muito rápido tornando-se um homem muito cedo para assumir as responsabilidades deixadas por nosso pai quando eu foi morar no Eterno. Almira que casou com chefe de Estação Ferroviária, Eulálio Leal -, foi para longe pongada na garupa do trem do seu marido e hoje mora solitariamente com um dos seus 7 filhos, na cidade de Simões Filho. Abertina acabou de vencer a morte várias vezes com umas cirurgias malsucedidas. Almiro, uma excepcional figura nos dois sentidos: pelo lado da medicina e pelo lado do admirável mesmo. Angelita, como diz o início do nome: um anjo que se apressou para acompanhar seu marido, um pedreiro. Talvez estejam construindo na outra dimensão... e eu, estou fazendo aqui o que mais gosto de fazer: vagabundear com as palavras que escrevem vidas e fazem a gente ser gente e se emocionar. Ser humano é um ente que se emociona.

III

UMA POESIA. OUTRAS VIRÃO.

NA CAPANGA DA ALMA CABOCLA
In memoriam dos Payayá – Senhores primeiros da Região e ao meu pai, Alberto Severiano Ribeiro;
Para Minha Mãe: Amélia Souza Ribeiro.


NASCI NO SERTÃO, pátria corumbá (1)
Meu Pai nas noite di maió inquietação,
Iscapulia das cunversa i causos.
Abria batia aboiava porteira i ânsias
I in seu Cavalo-Cor-di-Sonhos, \
fundava casco
I discambava p’rasserras diamantinas!...

Derna o cocorocô do galo
O novo dia s’aprochegava
I era hora dis’arribá p’ro eito
Di milho, mandioca i feijão!

Quano o sol s’arriava p’ros confins,
Minha Mãe iscorava u véi rancho
I tudo quetava no mundéu caipira!...

C’a noite montada num trote manso
Meu Pai disapiava no Terreiro das Histórias
C’un seu Cavalo-Cor-di-Sonhos!
Rancava do alforje i do palavreado
Tanta ventura di onças,
calumbis i bois incantados
C’ua força sertã di jequitibá!

Hoje, transplantado, transfigurado,
tapeado no concreto da ferocidadegrande,
Minh’alma capangueira di canarin aperreiada, ispavorida canta:
- “...cavalo doido por onde trafegas,
depois que vim parar na capital,
me derrubastes com quem me nega,
cavalo doido, cavalo de pau!”*

NOTA: Lugar ermo, esquisito. * Letra e música de Alceu Valença. No mais, subdialeto sertanejo.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Fronteira Indígena - Índios & Índios: uma pluralidade

Semana da Consciência Indígena – Abril 2011
O CEPAIA - Centro de Estudos dos Povos Afro-Índio-Americanos, da UNEB, realiza entre os dias 18 e 20 de abril a Semana da Consciência Indígena, evento alusivo à celebração ao Dia do Índio.

O evento contou com a parceria da Associação Nacional de Ação Indigenista - ANAÍ. Para a mesa redonda no auditório da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia – UFBA, na Federação – São Lázaro, em Salvador. Para esta parte da programação convidei o cacique Juvenal Payayá. Fui com minha esposa Natalina Bomfim e nosso filho Yã Bomfim Ribeiro.

Presidiu a mesa redonda a Profª Drª Maria do Rosário Gonçalves de Carvalho. O antropólogo José Augusto Laranjeiras Sampaio, o Guga, como é carinhosamente chamado por amigos e colegas, fez a abertura focando entre alguns aspectos históricos alguns dados demográficos quanto as evoluções e lutas por retomadas e afirmações dos povos indígenas, destacando as ações entre os Potiguara e os Kiriri entre as décadas de 70 e 80, respectivamente.

Os convidados para a mesa foram Glicéria Tupinambá e seu irmão, o cacique Babau Tupinambá, que vivem na Serra do Padeiro, município de Buerarema na Bahia. Eles se tornaram bastante visibilizados por estarem sendo criminalizados em virtude do “modo de luta Tupinambá”, digo, por lutarem pelo cumprimento dos direitos que estão sendo negados – como o direito de viver em suas terras – onde vivem desde os tempos antigos onde seus ancestrais “nasceram os dentes”.

Glicéria, liderança feminina entre as mulheres Tupinambá destacou que o direito não se negocia e que estão sendo criminalizados porque buscam por seus direitos. Babau que passou por 8 penitenciárias, dentro e fora do Estado da Bahia, ficou preso em um presídio de segurança máxima, citou sobre a liderança Pataxó, Joel Braz que não pode vir a este encontro por motivos de segurança. Babau falou de projetos de roças, educação, centro de informática, dos valores culturais e espirituais, inclusive de os Tupinambá são apenas 20% matéria e 80% por conta dos Encantados e para estes que eles vivem e lutam.

O pensamento-chave que marcou a posição dos participantes da mesa e dos presentes no plenário é de que há em nossa sociedade (ainda) um preconceito de os índios não têm um lugar no presente e que devem se contentar com seu um lugar no passado. Que pena que com este conceito se manda matar, espoliar, criminalizar, em pleno séculos XXI – todo(a)s aqueles e aquelas que não foram extintos, mas que, “aldeados”, “moídos”, “dissolvidos”, “assimilados” assumem a sua identidade étnica e lutam por seus direitos legítimos num Estado democrático.

A fim de que tenha a mobilização indígena, mais fóruns de discussão, reflexão e ação, Babau disse nesta mesa redonda que tem muito interesse em articular os parentes de todo o território brasileiro, inclusive caciques e outras lideranças. Um destes encontros já está previsto para acontecer em Brasília – DF.


Enfim, há que se agilizar a demarcação e desintrusão de terras indígenas e que acabemos com a crescente criminalização de lideranças indígenas, quer na Bahia e demais Estados do território nacional.

Sobre as comemorações a antropóloga Celene Fonseca, integrante da comissão organizadora do CEPAIA, assevera: “Comemorações são importantes quando acompanhadas de reflexões sobre o tema. Nessa semana, nosso objetivo é debater a real situação dos índios na atualidade. Não basta colorir os rostos das crianças com pinturas faciais que lembram os indígenas. É preciso refletir sobre a situação dos povos originários e o seu lugar na sociedade brasileira”.

A programação contou com outras atividades, em outros espaços da capital do Estado, entre estas, a palestra “Os povos indígenas na Bahia” ministrada por Nádia Acauã Tupinambá, representante indígena no Conselho Estadual de Cultura.

A Semana da Consciência Indígena contou com apoio da Secretaria Estadual de Cultura (SECULT), da Fundação Cultural do Estado (Funceb), do programa Educação e Profissionalização para a Igualdade Racial e de Gênero (CEAFRO) da Universidade Federal da Bahia (UFBA), do Espaço Cultural Pierre Verger, da Associação de Arte, Meio Ambiente, Educação e Idosos (Amei) e do Cineteatro Solar Boa Vista.

Fonte:
http://www.uneb.br/2011/04/15/cepaia-promove-seminario-em-celebracao-ao-dia-do-indio/

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UNS ÍNDIOS*

Uns índios pera aí,
Outros pequeninos nordestinos,
Outros tantos com destinos-norte na Calha da Morte
Pelas beiras, beradêros, caatingas,
Ribeiras, brenhas, babaçuais,
Manhas, manhãs e margens...

Uns grandes como os xinguanos,
Outros xingando e de bordunas no ar!
Outros tantos como Eliane Potiguara e Graça Graúna,
Mais outros como Daniel Munduruku e Marcos Terena...

Uns como Babau Tupinambá e Juvenal Payayá,
Outros como Raoni e Sapain,
Tantos outros como Tuira Kayapó e Maninha Xukuru
Todos e todas índios e índias
Diante das lentes, códigos
Lupas, gráficos e DNAs manobrando,
Girando, prospectando e decidindo
O que somos - o que querem
Que sejamos...

Uns e outros tantos índios e índias
vão descendo – subindo - margeando
Rios, pontes, viadutos, estrelas
Ciências, velocidades, aquisições cognoscentes
Violências, tecnologias, redes
Estupros, inundações, vilanias
Transposições, viadutos, teses...

Todos e todas transmutando os Peris e Iracemas
Em todas as dimensões:
Sólido, gás, líquido, átomos, palavras,
Alma, cor, gesto, cheiro
Sombra, luz...
(e serem e são: magníficos!)

Da ação, sim, da permanência, sim,
Do não estar oculto, sim,
Mas nas trincheiras, nas arapukas,
Nos rituais... eles e elas
Proscritos "Wirás", obstinados "Wirás"
Pelas beiras, beradêros, bugreiros,
Caribocas, caboclos,
Manhas, manhãs e margens...
Eles estão e estarão por aí
E por aqui!
Abá am iõ te!
“Índio vai continuar de pé!”

(Ademario Ribeiro)

ÍNDIO TEM QUE...

Índio tem que
botar o pé na massa
na estrada
na universidade
na ancestralidade
no tribunal
nas cotas!
Chega de pés em suas costas
ou de lhe virarem às costas
ou de lhe negarem as cotas

Índio tem que
botar p’ra correr
os que lhe roubam
- a mulher
- o filho
- as plantas
- as aves
- os bichos
- a terra
- a língua
- o sagrado
- o profano
- o sangue...

Índio tem que
se representar
não só se apresentar
como artistas natos
suas plumagens e pinturas e artesanatos...

índio tem que
sair da mata
fazer acontecer
porque senão
não vai acontecer...

Só vai acontecer
se índio
botar o pé
meter a borduna
botar o saber p’ra circular
contextualizar
retomar os rituais
a antropofagia
e meter a cara
a boca
dar a louca...

“Eles” meteram o pé
meteram a cruz
meteram as doenças
meteram o canhão
meteram o machado
meteram o trator
meteram as multinacionais
meteram a transposição
e são cheios de nhen-nhen-nhen!!!

Não somos a favor da revanche
nem à favor do desmanche
mas sabemos que o que era tudo teu
agora é de “todos” que aqui estão
e têm alguns que
já meteram a mão no rio,
no mar, na terra,
na lei, na bíblia, nos planaltos
e estão fazendo de tudo
para que “tudo” seja só deles
e há outros que deveriam ser
aliados como no passado de Pindorama
mas estão confusos pensando que
“a farinha é pouca...”
que é “tempo de murici...”

Mas eu digo que ainda é tempo
de mojar cecê! “unir o que foi cortado!”.
Nda s-ar-i abati ranhé!
“a espiga ainda não tem milho!”
Mas estamos no potyrõ:
nos adjutórios, mutirões
e é possível (ainda)
um pedaço p’ra tua gente
p’ra teu guri, curumim, mitã, kunhãtaí,
kybyra, anama, anakã ou ramuia!

Se um dia todos acordarem
deste sono que a serpente atiçou
ou da ganância voraz que a serpente envenenou
entenderemos que não precisamos partir,
apartar - e aí, virá o reino da yby mara-e’yma:
“a terra sem males” de todos os povos!

Índio tem que meter
Então que meta a sua meta
meta apito
meta borduna
meta o que puder
afinal, “eles” nunca tiveram pena de você.
Você até vestia e ainda veste pena
e pode despenar “eles”
e fazer um dabacuri
em pleno século XXI
ou você incorporou a pena cristã?!?!?!

A terra sem males está
para todos, enfim,
p’ra você,
p’ra “eles” e “elas”,
para juntos construirmos
os sonhos sonhados de todos os povos
do mundo inteiro!
este mundo é possível!

Não espere
não desespere
é só você continuar
neste movimento de pé ante pé
por aí, por aqui, por lá
em todo lugar
afirmando quem você é
o que você quer
porque você sabe quem você é
e sabe aonde quer chegar!

Índio tem que!

Abá am-iõ-te!
“Indio vai continuar de pé!”

(Ademario Ribeiro)







Eu, Ademario Ribeiro, teatrólogo, poeta, diretor teatral, pedagogo, ambientalista, presidente da ONG ARUANÃ, originário das Terras dos Payayá, semelhante à Graça Graúna, sigo seus passos, sua fé, sua luta e aos muitos outr@s escritores(oras) da Lista de Literatura Indígena, reiterando o sentimento e as boas palavras da COIMI/NE e Secretaria Municipal de Políticas Públicas de Mulheres e Minorias, a respeito da chapa para presidência da FUNAI:

1º - MARCOS TERENA,
2º - MEGARON TXUKARRAMÃE,
3º - GEREMIAS XAVANTE,
4º - PIRAKUMAN YAWALAPITI,
5º - FERNANDA KAYGANKANG,
6º - AILTON KRENAK E ALVARO TUKANO.

A AFUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO não tem mais tempo/espaço para funcionar em nosso país da forma que vinha ao longo de tormentosas décadas, conivente com as práticas antiindígenas. Basta!
Abá am iõ te!
Índio vai continuar de pé!

Miguel Calmon/Chapada Diamantina/Simões Filho/RM de Salvador, 19 de maio de 2010
Ademario Ribeiro

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Índios e Índios

- Índios do século XVI que foram mais que civilizados nos primeiros momentos da "conquista" e em troca foram exterminados;

- Índios da literatura romântica:"os bons e puros". Aqueles que foram poetizados e poetizáveis e que ganharam nomes nacionais, etc.;

- Índios, I juca pirama, que Gonçalves Dias, traduzia como: "O que há de ser morto, e que é digno de ser morto";

- Índios, as vítimas da selvageria da invasão e conquista; da selvageria do capital e seu lucro sem meios; da selvageria de alguns apóstolos e seus papas;

- Índios, aqueles intrusos e malditos pelos latifundiários que foram os intrusos nas terras milenares dos índios. Que ironia não é? Quem invadiu quem?

- Índios, os urbanos que são as vítimas dos esbulhos, das grilagens, das liminares forjadas, da inoperância da FUNAI e de outros órgãos dos governos;

- Índios, aqueles que entraram espremidos nas cotas;

- Índios, aqueles que por pouco não seriam incluídos nos estudos na sua pátria/continente de Pindorama/Abya Yala e que precisou alterar uma lei e criar a Lei 11.645/08;

- Índios, os atuais. Um misto de índios ainda nas matas, nas cidades, nas universidades. Índios cineastas, índios online, índios pilotos de avião, índios com radares e satélites, índios aculturados afirmando serem índios apesar da roupa, da cor da pele, dos óculos, do bigode - excluídos pelos escopos e gráficos midíocres de serem índios, de serem mestiços, de serem negros, de serem brancos, de serem gente.

Vozes que não se calam:

"Que tragédia é esta que cai sobre todos nós?";

"Apesar da minha roupa/também sou índio";

“Quem me dera
Ao menos uma vez
Como a mais bela tribo
Dos mais belos índios
Não ser atacado
Por ser inocente...

Nos deram espelhos
E vimos um mundo doente
Tentei chorar e não consegui”.


ÍNDIOS EM VALENÇA? VENHA CONFERIR!

Com este importante e emblemático tópico-tema-provocação, Marcos Aguiar do Projeto Índios na Cidade, da ONG Opção Brasil, convidou-me junto ao Juvenal Payayá e Elton Terena, a contribuirmos com algumas atividades na cidade de Valença – na Costa do Dendê, Estado da Bahia, nos dias 23 e 24 de janeiro de 2010. O translado, acolhimento e hospedagem por conta do CEADDH – Centro de Estudos Avançados em Defesa dos Direitos Humanos, do qual tivemos a presença sempre marcante da sua presidenta Drª Elisabeth Barbosa, dos membros do CEADDH e dos acolhedores habitantes valencianos.

Contamos com a contribuição da pedagoga Natalina Bomfim Ribeiro, especialista em tutoria em EaD, especialista em metodologia do ensino superior, pesquisa e extensão em Educação e coordenadora da ONG ARUANÃ e da economista Edilene Payayá, coordenadora da Associação dos Moradores e Amigos de Morro do Chapéu. Além de algumas presenças destacadas da cidade de Valença, contamos também com o Prof. e Escritor Edgar Otacílio que nos ofertou o seu último livro intitulado “Valença”. Um mosaico que apresenta este município e região dos primórdios aos dias atuais.

Vejamos a Programação

Índios em Valença? Venha conferir!!!

Sábado, 23.01.10 – Turno vespertino
1. - Patrimônio cultural dos povos indígenas no Brasil
a) tradições, brincadeiras, jogos, etc.
Na Roda: Ademario Ribeiro, Elton Terena, Juvenal Payayá e Marcos Aguiar.

b) A importância da língua tupi e sua contribuição à língua portuguesa falada no Brasil – Ademario Ribeiro;

2. - Povos Indígenas na Bahia: ontem e hoje;
a) Brevíssimo sobre as diásporas. Confronto com os colonizadores. Extermínio, debandada dos sobrevividos;
b) Resistência e ressurgidos.

Na roda: Ademario Ribeiro, Elton Terena, Juvenal Payayá eMarcos Aguiar.

Sábado, 23.01.10 – Turno vespertino
3. - Direitos Humanos com enfoque para os povos indígenas - com debate.
Na roda: Ademario Ribeiro, Edilene Payayá, Elisabeth Barbosa, Elton Terena, Juvenal Payayá, Marcos Aguiar e Natalina Bomfim Ribeiro.

Domingo, 24.01.10 – Turno matutino
4. - Oficinas das línguas Tupi e Terena – Ademario Ribeiro e Elton Terena;
5. - Feira de artesanato;
6. - Rodas de conversas;
7. - Encerramento com elementos temáticos das Oficinas e com um toré.

Rápidas considerações

Valença e seu entorno são conhecidos internacionalmente como Costa do Dendê. Aquela da qual se deram notas de “terras descobertas” desde as primeiras povoações do Brasil por não-índios quando, por volta da “terceira década do século XVI, o Martim Afonso de Souza, militar e administrador colonial português, a mando do rei D. João III, O Colonizador, comandou uma expedição de cinco navios (1530-1533) com a tríplice missão de explorar a costa desde o Maranhão até o Rio da Prata, impedir o comércio de pau-brasil pelos franceses e fundar os primeiros núcleos lusitanos no Brasil quinhentista”...

Região que seduz a visão para seus rios, vegetação exuberante de mata atlântica, manguezais, saveiros e barcos e localidades paradisíacas como Guaibim e Morro de São Paulo...

Podemos voltar a este evento para algumas minúcias, tais como a toponímia da região e para destaques ao povo atual sem esquecer seus habitantes milenares como os Aymoré e Guerém.

OS HOMENS BONS

Já pensou se a gente começasse por dar nomes aos bois na história que precisa ser reescrita em nosso país? O que poderíamos apresentar sobre os que foram chamados de “Homens bons”? Quantos fidalgos, religiosos, militares, políticos se esconderam sob esta alcunha!!! Comecei a fazer um listinha – como ficou grande – e uma dor a maior se assomou de mim! Quanta gente foi enganada, escravizada, hostilizada, humilhada, estuprada, etc. por estes “Homens bons”... Meu Deus!!! Não tenho forças para editá-la agora. Fica para outra oportunidade!...

HOSPITALIDADE E VISIBILIDADE

Mas, voltando ao evento citado acima, os valencianos receberam muito bem os convidados para discutirem o tema proposto: “Índios em Valença? Venha conferir!”. A Opção Brasil e o CEADDH foram muito felizes a fazerem esta proposição e, inclusive para lá de corajosa -, haja vista o passado desta região que em relação aos aborígenes que foram massacrados, exterminados e no mínimo admoestados a serem o que eram e de estarem milenarmente onde nasceram. Estes aspectos até que foram “abrandados” em virtude talvez do grande assédio sobre os convidados que repito, fomos muito bem acolhidos. Os “ilustres” convidados. Esta era a palavra na boca do povo da cidade para se referir aos índios e aos indigenistas ali presentes no evento. Havia um respeito, uma admiração, um cuidado! Eles vieram mesmo CONFERIR! Auscultar, escutar, chorar, abraçar o índio dos livros, os índios das mídias, os índios sob as várias facetas e talvez tenham em muito vindo reencontra-se com o índio em suas entranhas, em seu sangue, nos seus olhos rasgados ou sem qualquer relação à fenotipia: mas, vieram, sobretudo reencontrar-se com os índios que são o Brasil em nós. Por mais que a “máquina-mania de apartaides” e que se esconde e sobrevive sob vários disfarces e manobras e nos amesquinhem, os índios em nós brasileiros, ainda resistirá:

Abá am iõ te!
“Índio vai continuar de pé!”


Para reflexão, este poema ainda não terminado foi iniciado lá neste Encontro de Valença!

DAS TERRAS INVADIDAS E SEUS NOMES TUPIS E CATÓLICOS
OU
REALIDADES E IGNOMÍNIAS DESCOBERTAS


“Nunca houve um documento
da cultura que não fosse, ao mesmo
tempo, um documento da barbárie.”
(Walter Benjamin)


...ELES, IGREJAS, GADOS E LUCROS...

...E eles foram chegando
E a gente combatia
A gente se afastava
Se entregava
Ou se deixava atraído
Traído ou morria...

Ai eles foram fincando as suas cruzes
E deixando atrás a fumaça e a cinza
Das nossas habitações incendiadas
Seus negócios prosperando
E nossos corpos enfileirados no chão jazendo
E as igrejas iam construindo
Pregando suas cercas que corriam léguas ligeiras
E o gado ia entrando
A gente se afastava
Se entregava
Ou se deixava atraído
Traído ou morria...

E os engenhos moendo canaviais sem fim
E o mel era um fel
Dentro dos meus ancestrais
E ainda incorporado em mim
Em ti

As gentes de Ituberá,
(salto brilhante)
As gentes de boipeba
(cobra de cabeça chata
ou a de tartaruga do lugar)
Kirimurê,
(flauta harmoniosa, silenciosa
E tudo o mais conhecido na história
Na memória do que viria a ser Brasil.

Tudo que era sagrado e natureza
Foi mudado de nome e dono ou exterminado!
Em seus lugares ergueram palácios e casarões,
Usinas e os engenhos,
Igrejas e as riquezas e tudo o mais
De ouro e prataria e especiaria
E consagraram-lhes como:
Monte Pascoal;
Ilha de Vera Cruz;
Terra de Santa Cruz;
Porto Seguro;
Alto do Amparo ou do Socorro;
Vitória da Conquista;
Colina do Senhor do Bonfim;
Valença...
O que esperar de uma história em que piratas são
Nominalizados de fidalgos?
Em que exterminadores, usurpadores e estupradores são “homens bons”?

Mas haverá um tempo
Em que o céu vai clamar
Pelo rio seco
Pelo arvoredo sucumbido
Pelas minhas pajelanças demonizadas
Pelo sol em pino
Em desatino da insolação
Pelas abolições só de papé e pabulage
Pelo progresso que se fez avançar
Sobre o nosso viver – o qual
Não dependia deles
Pelas indústrias que só torraram as matas
E poluíram as águas
Pela mão da criança estendida
Como mendigando ou assaltando

É chegada a hora de tudo descer
De tudo ser revelado:
As profecias estão se cumprindo
E o humano retornará
Ao ventre da Mãe Terra
Para uma nova caminhada
E para a sua purificação final!
(Ademario Ribeiro)

Agradecemos à querida Amanda, pedagoga desta cidade, a gentileza do envio das fotos alusivas àquele momento e à Natalina a socialização destas.






















Fronteira da História & Cultura - Marco III - ONG ARUANÃ




SOBRE OS PORQUES DO "PREFÁCIO"

Vários textos já escrevi sobre o Município de Simões Filho, Estado da Bahia, na tentativa de contribuir pelo resgate e valorização da sua história, cultura, educação, economia, cidadania, meio ambiente, etc. Aqui, aproveito-me deste espaço para oferecer o prefácio abaixo em virtude do livro no qual ele está inserido ter sido publicado com edição reduzida em analisando o número de escolas e instituições existentes no município - assim como pela busca constante por estudantes, professores, pesquisadores, empresas e governos sobre aspectos referentes à história deste município.

Eu e Sr. Apolinário, hoje com aproximadamente noventa aninhos e morando fora da cidade - temos sido convidados a palestrar sobre este tema. Enfim, para cobrir um tiquinho esta grande lacuna no que diz respeito ao resgate e valorização da História de Simões Filho, antes Água Comprida, distrito de Salvador e, muito antes, incrustada no século XVII era a região conhecida por Cotegipe. Veremos isto em seguida e nos meus dedinhos de prosa (textos) que ainda pretendemos publicizar aqui em PensamentAções & suas Fronteiras.

Boa leitura, e, se quiser, indique e comente.

AR

PREFÁCIO

(Livro História Comprida de Antonio Apolinário da Hora).

As histórias oral e escrita de Simões Filho não diferem entre si – delas se conhecem detalhes e vieses. Quando muito, encontramos poucas fontes e minutas referências. Muito do que teve e tem este município, podia e pode ser propulsor de crescimento e desenvolvimento – porém, enquanto, perdurar a mentalidade fragmentadora, mais o alheamento –, estes descaminhos vão dar numa encruzilhada, – comprometendo o tecido sócio-cultural, o humano e a sua cultura e nesta perplexidade as gerações que já nos avizinham.

Município bem servido pela natureza: colinas, tabuleiros, rios e matas que se juntam aos manguezais da Baía de Aratu, espécies de restinga e remanescentes de mata atlântica denotam um cenário de integração bafejado pelos ventos marinhos. A nossa terra foi habitada por etnias da grande massa dos Tapuia* nos primórdios de Pindorama e bem antes da colonização, pelas etnias de linhagem dos Tupi com a predominância dos Tupinambá, que tiveram participação nas lutas pela consolidação da Independência do Bahia em 2 de julho de 1823, ao lado dos africanos e brasileiros, que almejavam um Brasil livre da tirania.

Do Forte do Barbalho saíam as grandes boiadas pela Estrada Geral do Sertão, antes passando sobre a Ponte das Boiadas, situada na estratégica falha geológica, ali nas imediações do viaduto da BR 324 e da ponte ao lado, atravessando e alcançando outros estados. Resgatar esses rasgões no tecido histórico é respeitar esse passado e a identidade, oferecendo ao presente uma contribuição cidadã, promovendo um futuro promissor.

Não só dos habitantes seculares, mas resgatar as manifestações populares e artísticas daquele período até os nossos dias, aqui introduzidas com a chegada dos imigrantes portugueses e africanos e os migrantes de vários pontos do país, principalmente do Nordeste, Sertão e Recôncavo baiano.

Bumba-meu-boi, ternos de reis, lindro amor, maracatu, rezas, simpatias, artesanato e violas e tambores que “vestiam” de sons e percussões as danças, inclusive a Dança de São Gonçalo, e seu conjunto de saber herdado por Seo Mathias, (de saudosa memória) dos quilombolas da Fazenda Mocambo seus ancestrais do recôncavo, em Pitanga dos Palmares.

Os folguedos, rezas e cultos que se comunicavam pelo Oiteiro, Dambe, Cotegipe, Muriqueira (atual Góes Calmon), Matoim, com fiéis e cortejos de populares do Recôncavo e da Região Metropolitana de Salvador. Os migrantes perderam as fazendas e engenhos e se foram para a capital ou para o sul do país. Foi um fluxo e um refluxo –vinda e ida, – retirada e debandada. A cidade e a cidadania estonteiam! Cadê as Grandes Boiadas com sua Estrada e sua Ponte? Cadê o Ipê-do-Brejo que tinha aqui? Cadê os Povos que cultuavam ao redor daquelas Gameleiras (Iroko-Ioko-Tempo) na estrada dos Eucaliptos e que é “morada” de um Orixá ou Encantado, marcando, assinalando um tempo místico e mítico? Cadê o Rio Joanes, agonizando com o seu assoreamento, mas ainda “servindo” várias cidades? Cadê as palmeiras imperiais e remanescentes da mata atlântica na Unidade Ecológica de Cotegipe?... Ciranda, cirandinha, vamos todos resgatar?!...

Mapear esses mananciais, riquezas folclóricas e artísticas. Desenvolver projetos de arte, cultura e educação a partir da história e da geografia de Simões Filho que já foi Água Comprida e que bem antes era Cotegipe: Caminho das Cotias. Fazer uma “ponte” entre as ruínas da Paróquia de São Miguel de Cotegipe e do cais à sua frente, Igreja construída em 1608 pelo quarto bispo do Brasil – D. Constantino Barradas. Os manguezais, os tantos rios, lagoas, lagos e cachoeiras. Associar esta valorização a programas de educação ambiental que contemplem estas questões, preservando e educando a sociedade para uma ação proativa e de consciência eco-histórico-cultural. A cidade é de todos. Desde o período das tribos primevas até às tribos que ainda estão chegando. Mesmo com sua geografia acentuada e descarrilada a sua história, é preciso sonhar, desconstruir e reconstruir o Município sem a sanha das Aves de Arribação: Xô! Xô desalmado carcará! “Trocar o logus da posteridade pelo ‘logo’ da prosperidade : …” (Gilberto Gil).

A municipalidade é a pulsação da sociedade. A contemporaneidade exige o resgate dessa herança, a construirmos sua face identitária com sua pluralidade e diversidade, pois, como esfinges, - as Gameleira e as Três Pontes, - nos inquirem, tomada de rumo e garantia de afirmação!

Desta comprida história, existe um obstinado homem, Sr. Antonio Apolinário da Hora, Seo Tuninho, que entre o atendimento a um freguês e outro, vivia anotando, escrevinhando, rascunhando estas tantas pernas e rasgões no seu Bazar Estrela. Ele que tanto viveu as lutas pela emancipação desta terra ao lado de Hermínio Bonifácio, Walter Tolentino Álvares, Noêmia Meirelles e Altamirando Ramos, oferece-nos neste momento o seu livro HISTÓRIA COMPRIDA – lume aceso de sua ‘lamparina’ sempre azeitada de memórias, seriedade e muito esforço! Sua agenda de serviços prestados a esta municipalidade é quem mede a sua contribuição. Seo Tuninho estava sempre resolvido a trazer para o presente estas páginas e para este livro, - ele fez diversas recorrências: são histórias e mais histórias relatadas com apaixonamentos pela terrinha e sua gente – que fazem-me citar alguns versos da poesia Infância de Carlos Drummond de Andrade: “...comprida história que não acaba mais...e eu não sabia que minha historia era mais bonita que a de Robinson Crusoé !“

Só um líder genuíno não dá meia-volta às dificuldades ou senta-se na pedra esperando a banda passar! Tranqueiras de pau obstruem a sua estrada, mas, a mente não tem fronteiras, e, ele, obstinado, gritou vivas aos Tupinambá, ao Ipê do Brejo, aos Engenhos, aos Ternos de Reis, à Dança de São Gonçalo, à Pedra do Caboclo, ao Milagre de Santa Luzia, ao Dambe e ao Tanque do Coronel! Ele não é nuvem branca, nunca foi Ave de Arribação, (é sim), o que nos escreveu o poeta, Mário Quintana em seu Poeminha do Contra:

“Todos esses que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!”.

Esse homem, este líder, merece mais que cortesia (embora carecemos demais de civilidade!), mas de respeito pela sua batalha nesta Terra e pela sua Gente, pela generosidade em memória trazida no seu HISTÓRIA COMPRIDA, - que os sinos dobrem por suas páginas de Resgate e Paixão: Vivamos a Simões Filho que queremos!

Ademario Ribeiro




Broto - Informativo I, Ano 2010.

Palavras iniciais do Broto Informativo

“Broto”. Nosso informativo a partir de agora terá este nome de batismo.

Fazer essa caminhada solidária e geralmente tão solitária. Daqui para frente, não. O sentimento de se trabalhar em rede se amplia. Estamos mais otimistas. Parcerias virão. Simpatizantes virão. Que nossas mãos e corações sejam teares preparando a “rede” e ela se estenderá!

Estamos conseguindo ser o que somos e isto, queremos compartilhar com você. Seja um de nós e ampliemos a rede de benefícios.

O porquê de a ARUANÃ ser a ONG da Transformação

Porque a ONG ARUANÃ tem como logomarca, uma árvore decepada pela moto-serra da ignorância, do desamor, do desfiliamento. Mas o seu “broto” é a esperança. É o que pode ser resgatado, transformado, transmutado. É floração enramando e se encipoando na Teia da Vida!

A ARUANÃ NO DIAS DAS MÃES

Estamos participando neste domingo, dia 09.05 do EcoCiclístico em homenagem ao Dia das Mães, passando por várias comunidades do município. Honrados são todos os que amam as suas mães, por isso aproveitamos mais esta oportunidade para falar do nosso Amor às Mães do Mundo Inteiro, em particular às Mães em Simões Filho e dizer que Mães e ARUANÃ têm tudo a ver. Na sua prática, a ARUANÃ é também uma mãe. Distribuiremos materiais educativos sobre saúde, qualidade de vida e dicas ambientais.

Todo o Amor e Zelo às Mães! Viva as Mães!!!


QUEM É A ONG ARUANÃ

ARUANÃ – Associação para Recursos Ambientais e Artísticos, fundada em 01.10.86, em Simões Filho, Estado da Bahia, CNPJ Nº 40.590.360/0001-69, pessoa jurídica de direito privado, sem fins econômicos, com Utilidade Pública Estadual e Municipal, atua com equipe multidisciplinar nas áreas das políticas públicas com foco para projetos socioeducativos para crianças, jovens, adultos e comunidades em geral, capacitação de professores, educação de jovens e adultos, educação ambiental, manifestação cultural e oficinas artísticas com ênfase para o teatro.

PRINCÍPIO GERAL:

Contribuir para a formação de atitudes e valores que mobilizem e organizem pessoas e coletivos a compreenderem a interdependência humano-natureza, motivando funções sociais cada vez mais responsáveis.

SUA PARTICIPAÇÃO EM ALGUNS COLETIVOS

• Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais pelo Meio Ambiente e Desenvolvimento - FBOMS;
• Conselho Municipal da Assistência Social;
• Fórum Estadual Lixo & Cidadania;
• Rede Brasileira de Educação Ambiental - REBEA;
• Titular no Comitê Gestor da APA Joanes – Ipitanga;
• APEDEMA - Assembléia Permanente das Entidades em Defesa do Meio Ambiente;
• LIGAMBIENTE;
• Cadastro Estadual de Entidades Ambientalistas – CEEA/IMA...

MENSAGEM:

Não, não tenho caminho novo.
O que tenho de novo
é o jeito de caminhar.
(Thiago de Mello)

Descobrir e reinventar gente é a maior obra da cultura.
(Herbert de Souza, Betinho)

PRÓXIMAS AÇÕES DA ARUANÃ:

A curto-prazo:

- Semana Municipal de Meio Ambiente - Parceiros: SEMAM - Secretaria de Meio Ambiente e empresas sensibilizadas

A ARUANÃ vai oportunizar:

Oficinas de arte educação com: Histórias em quadrinho (HQ), desenhos e pinturas, poesia e teatro.

Onde? - Na Praça da Bíblia, centro de Simões Filho
Quando? – 8,9,10 e 11/06
Público alvo: Para toda a sociedade e prioritariamente para estudantes e interessados em geral.

E, breve:

- Publicações de livros e cartilhas;
- Oficinas de desenhos em quadrinhos (HQ) e de serigrafia.

Não apenas aguarde estas possibilidades! Contribua! Participe!

Contatos com a diretoria da ARUANÃ:
E-mail: aruanasocioambiental@gmail.com

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Fronteira da Teatralidade - A Bomba na Rede da Teia











Apresentação (release)

A Bomba na Rede da Teia(Espetáculo para todas as idades).

Do PROJETO PESCANDO da ARUANÃ – Associação para Recursos Ambientais e Artísticos e FUNDAÇÃO CRÊ, que possui um leque de ações e campanhas para a retirada de “pesqueiros” e sensibilização das comunidades em geral, nasceu o Curso de Teatro e Educação Ambiental e desse, como resultado prático, o espetáculo A Bomba Na Rede Da Teia. A 1a fase (a Teia), iniciada em setembro de 2001, contava com trinta jovens, na maioria, moradores de Mapele, Santa Luzia e Cotegipe (entorno da Baía de Aratu, um dos 35 pontos da Pesca com Bomba). Nessa fase trabalhamos a integração, relações interpessoais, conhecimentos sobre Educação Ambiental, etc., como tentativa de construir/constituir (a Rede) com essas crianças, jovens e suas comunidades, Promotoria de Meio Ambiente do Ministério Público, a fim de darmos um BASTA a essa prática com explosivos, entre outras, predatórias e darmos lugar a uma Sociedade e Desenvolvimento Sustentáveis, em particular, ao Homem e ao Mar e Manguezais da nossa Baía de Aratu!

Na 2ª fase, costuramos tudo isso com o teatro, - veículo educativo e transformador e produzimos essa montagem com os causos das Rodas dos Pescadores com os fios das cantigas de roda, brincadeiras à beira do mar, poesia, denúncia, apelo dramático pela vida do Homem e do Mar e seus Manguezais!

ELENCO:
Demerson Rodrigues
Graciela Cavalcante
Joilson de Jesus da Silva
Marcelo Barros
Marênia Vafel
Milana Oliveira
Miguel Filho
Valmir Santana

FICHA TÉCNICA:
Rino Carvalho - Figurino
Walden Rodrigues - Cenário, Adereços e Fantasias
Angélica Paixão – Costureira
Natalina Bomfim Ribeiro – Contextualização Pedagógica
Fábio Prado - Arranjos & Direção Musical
Ademario Ribeiro - Elaboração do Projeto, Professor de Teatro, Educador Ambiental, Relações Interpessoais, Texto Dramático, Concepção Musical, Direção de Produção & Direção Geral
Prefeitura de Simões Filho (Secretaria de Educação e Cultura) - Apoio
ARUANÃ & Fundação Crê - Execução do Projeto & Produção.

Agenda & Roteiro:
A BOMBA NA REDE DA TEIA

Agenda & Roteiro: A BOMBA NA REDE DA TEIA foi apresentada em mais de duas dezenas de escolas do município de Simões Filho e participou de alguns festivais e fóruns com temática socioambiental.

Contato: 8733 1148 - Ademario Ribeiro
Apoio: Ministério Público - Promotoria de Meio Ambiente de Simões Filho - Prefeitura de Simões Filho - Secretaria de Educação e Cultura - Assessoria de Imprensa
Produção e Execução: ARUANÃ & Fundação Crê

ROTEIRO DO TRANSPORTE:
 Saída às 13:00 horas da sede da ARUANÃ (Prédio do Ministério Público, antigo SENAI), passando pela Praça Principal de Cotegipe, rumo à Mapele nos seguintes pontos: Fim de Linha, Alto da Torre e em seguida para a Escola programada para o dia. Retorno às 16:30 horas, seguindo este itinerário: Mapele+Cotegipe+ARUANÃ (Ministério Público).

Matéria do Correio da Bahia, 28/08/2002*

Meio Ambiente / Proteção aos cardumes
Peça teatral alerta comunidades litorâneas do estado para os males causados pela pesca com bomba
Por Daniel Freitas

Baleias, botos e caranguejos contracenam com pescadores, marisqueiras e repórteres. Assim é a peça A bomba na rede da teia. Nela, esses personagens expõem as conseqüências da pesca com materiais explosivos, prática predatória que causa mortandade de peixes e distúrbios neurológicos em pescadores.
A peça enfoca a área da Baía de Aratu, um dos 35 pontos do litoral baiano afetados pela pesca com bombas. O texto relata os estragos da prática para a comunidade, como o rachamento das paredes das casas e dos tubos das mais de 15 empresas que atuam na área - como a Petrobras, Luminar, Usiba, estaleiro, Belov, Dow Química entre outras - e o extermínio de espécies marinhas, comprometendo a economia local.
Os nove atores do espetáculo são ex-integrantes do Curso de Teatro e Educação Ambiental promovido desde setembro do ano passado pela organização não-governamental Associação para Recursos Ambientais e Artísticos (Aruanã). Com sede em Simões Filho, a ONG resolveu utilizar os recursos teatrais para divulgar a cidadania ambiental entre os jovens. Desde agosto, A bomba na rede da teia está sendo vista em dezenas de colégios municipais da região, com o objetivo de conscientizar os estudantes de que meio ambiente é coisa séria e, como tal, deve ser preservado.
"No ano passado, seis mil toneladas de peixes foram mortos por aqui em virtude da pesca com materiais explosivos", revela Ademário Ribeiro, presidente da Aruanã, autor do texto e diretor da peça. O roteiro inclui histórias de pessoas que morreram ou perderam os braços ou as pernas, ficaram surdas ou enlouqueceram por conta das bombas. Os atores também citam espécies de peixes em vias de extinção, como mero, olho-de-boi e cabeçudo, vítimas do efeito violento dos explosivos.
A pesca predatória por bombas é praticada em todo o mundo desde a Segunda Guerra Mundial em razão dos experimentos militares com materiais explosivos. Até hoje, a prática traz riscos para a ecologia. Ademário Ribeiro conta que a peça gera uma considerável repercussão entre os alunos das escolas, que ouvem enternecidos os relatos de filhos de pescadores que viram a vida mudar com os estragos provocados pelas explosões.
Os estudantes que assistem à peça transmitem o recado para os jovens carentes de comunidades ribeirinhas da Baía de Aratu, formando uma verdadeira rede de cidadania ambiental. Por enquanto, o espetáculo está indo apenas para as escolas municipais, mas a Aruanã estuda ampliar a iniciativa para as escolas estaduais e particulares.
A bomba na rede da teia é fruto de uma parceria entre a Aruanã, a Fundação Crê e a Promotoria de Justiça de Simões Filho. Há 16 anos, a ONG desenvolve projetos socioeducativos por lá, sempre ligados à ótica ambiental, como a transformação de material reciclado do lixo em objetos artísticos.
A escolha do nome da entidade e seu engajamento com a causa ecológica não são obras do acaso. Para quem não sabe, Aruanã é nome de um peixe (Osteoglossum bicirrhosum) do Rio Araguaia, em Tocantins, conhecido pelos índios como peixe-macaco e peixe-mola pelas suas acrobacias e saltos. Aruanã também é nome de uma tartaruga (Chelonia mydas) encontrada no litoral brasileiro, conhecida por "Verde" em razão de seu casco castanho esverdeado e, às vezes, acizentado. Em tempo de desova, elas são vistas com freqüência nas ilhas oceânicas do Arquipélago de Fernando de Noronha (Pernambuco), no Atol das Rocas (Rio Grande do Norte) e em Trindade (Espírito Santo).

JORNAL A TARDE - MUNICÍPIOS
27/09/2002
Cultura & Lazer

Curso de teatro debate questões ambientais

Simões Filho – Do Projeto Pescando, da ARUANÃ (Associação para Recursos Ambientais e Artísticos e Fundação Crê), que possui um leque de ações e campanhas para a retirada de “pesqueiros” e sensibilização das comunidades em geral, nasceu o Curso de Teatro e Educação Ambiental e desse, como resultado prático, o espetáculo A Bomba na Rede da Teia, iniciada em setembro de 2001, e contava com 30 jovens, na maioria moradores de Mapele, Santa Luzia e Cotegipe (entorno da Baía de Aratu, um dos 35 pontos da Pesca com Bomba). No elenco estão Demerson Rodrigues, Graciela Cavalcante, Joilson de Jesus da Silva, Luciana Simões, Marcelo Barros, Marênia Vafel, Milana Oliveira, Miguel Filho, e Valmir Santana. A direção geral é de Ademário Ribeiro.

Nessa fase, se trabalhou a integração, relações interpessoais, conhecimentos sobre Educação Ambiental etc., como tentativa de construir uma rede de sensibilização e conscientização com essas crianças, jovens, suas comunidades e a promotoria de meio ambiente, a fim de dar um basta a essa prática com explosivos, dentre outras predatórias, dando lugar a uma Sociedade e Desenvolvimento Sustentável, em particular, ao homem e ao mar e manguezais da Baía de Aratu. Na segunda fase, costurou-se tudo isso com o teatro, - veículo educativo e transformador e se produziu essa montagem com os causos das rodas dos pescadores com os fios das cantigas de roda.

Apresentação

O espetáculo A Bomba Na Rede Da Teia foi o resultado prático do Curso de Teatro e Educação Ambiental através do Projeto Pescando da ARUANÃ – Associação para Recursos Ambientais e Artísticos em parceria com a FUNDAÇÃO CRÊ.
Na 1a fase iniciou-se (A Teia), em setembro de 2001, contando com trinta jovens, na maioria, moradores de Mapele, Santa Luzia e Cotegipe.

Objetivo: sensibilizar/intercambiar (a Rede) de crianças, jovens e suas comunidades, promotoria de meio ambiente e outros parceiros contra a Pesca Predatória e outras formas de poluição (A Bomba) que ameaçam o Homem e o Mar, particularmente a nossa Baía de Aratu.

Socializamos: conhecimentos sobre Educação Ambiental, cultura, história e ação local, solidariedade, formas de resolver conflitos em equipe, auto-estima, reflexão, mudança de atitudes e costurando tudo isso com o teatro como veículo educativo e transformador.

A 2ª fase, (foi produzir a montagem do espetáculo como resultado prático do curso), costurando Rede e Teia nos fios das cantigas de roda, brincadeiras à beira do mar, poesia, denúncia, apelo dramático pela vida do Homem e do Mar. Agora é sua vez de lançar sua Rede: venha para a Roda destes Pescadores!

Lançando a rede da história...

A vida se originou no mar. Mares e oceanos, deles nos alimentamos e exploramos gás natural, petróleo, etc. Eles ocupam a maior parte da Terra. Estes ecossistemas vêm sofrendo toda uma onda predatória: experiências atômicas, pesca com bomba, com malha fina, efluentes líquidos das indústrias, aterro de manguezais, etc.

Historicamente, sabemos que a Pesca Predatória por bomba, veio a ser conhecida e utilizada pelos ribeirinhos por volta da Segunda Guerra Mundial, em razão dos experimentos dos militares com materiais explosivos. Este mecanismo foi incorporado à prática de alguns pescadores...

Nas Rodas de Pescadores, contam-se casos e causos: de pessoas que morreram ou perderam os braços, as pernas, ficaram surdas, enlouqueceram, tiveram casas rachadas, peixes em vias de extinção ou que nesta ou naquela região já não mais existem ou estão comprometidas.

Ademario Ribeiro



Convite

Ciclo fez parte deste espetáculo de minha autoria, direção e produção. Talvez tenhamos cantado numa transição entre canção praieira e concluindo como uma samba de palma da mão/uma chula:

Vamos procurar o camin
O camin d’aldeia, camará
Maré baixa, maré alta
Vida, movimento sem fim,
Mutirão p’ra conscientizar
Que bomba é desamor camará – BIS

A volta que a rede deu
É a teia quem sustenta, camará
P’ra ter trabáio p’ra Yoyô
P’ra ter peixe p’ra Yayá
P’ra ter verde e mais amor
P’ro mundo inteiro, camará...

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Fronteira da História & Cultura - Marco II










MARCO II

SÍTIOS E PONTOS HISTÓRICOS - ITINERÁRIO

- PITANGA DE PALMARES (PÁTIO DA DANÇA DE SÃO GONÇALO);
- ESPAÇO DA ANTIGA FAZENDA MOCAMBO E RIO IMBIRUSSU, ATUAL BACIA JAONES II;
- DAMBE DO ALTO – RUINAS DA MATRIZ DE S. MIGUEL DO COTEGIPE;
- VIAS DE PENTRAÇÃO DO CIA: PASSAGEM PELA FRENTE DA UNIDADE ECOLÓGICA DE COTEGIPE – UEC;
- LAGOA DAS COBRAS E LAGOA DO GUÍPE;
- SOBRADO E SENZALA DOS USINEIROS MAGALHÃES;
- MARINA ARATU;
- IATE CLUBE ARATU;
- PANORÂMICA DA BAÍA DE ARATU E BAÍA DE TODOS S SANTOS;
- MAPELE (ALTO DA PENSÃO - STRSF: SR. MANUEL);
- ENCORADOURO BELOV, PONTE FERROVIÁRIA, FONTE DA GUINDA EM MAPELE...

Depois iremos complementando.

Fronteira da História & Cultura - Marco I


Eis que os pedidos de professores, alunos, profissionais outros, pesquisadores e instituições - tocaram fundo e abrimos então aqui em nosso blog a Fronteira da História & Cultura a fim de satisfazer as demandas sobre a História e Cultura de Simões Filho. Inclusive, alguns alunos de Pós-Graduação de alguns cursos. Entre estes, a professora Maria das Neves, carinhosamente conhecida como "Das Neves" no meio educaional.

Então vamos iniciando aqui alguns marcos.
MARCO I - PROS LADOS DA BAÍA DE ARATU, DAMBE E MAPELE

Mais uma vez nos voltamos para a nossa cultura, história e meio ambiente e reencontramos as nossas riquezas que precisam ser cada vez mais incorporadas ao conhecimento e ao convívio dos seus munícipes! Simões Filho tem uma paisagem e uma passagem pela história da Bahia e do Brasil – das quais podemos nos orgulhar.

AS MATAS DO ENTORNO DA BAÍA DE ARATU

"Quindô, Cassenda, Brochado, Coroa de Matoim". Estes nomes eu fui "pescando" numa conversa informal mas muito bem marejada com Jailton (Guiu), pescador dos bons de Mapele, amigo de Raimundo Nascimento o "Birro" da Associação de Marisqueiras e Pescadeiros de Simões Filho, sediada em Mapele.

Uma localidade que pulsa nas mentes dos munícipes é o Dambe e que muitos populares chamam de Dame e que documentos mui antigos denominam-na de Dambé, - está incrustada na enseada da Baía de Aratu, um acidente geográfico da Baía de Todos os Santos onde o quarto bispo do Brasil – D. Constantino Barradas erguera a Matriz de São Miguel de Cotegipe em 1608, através da Companhia dos Jesuítas. Por tanto, mais uma oportunidade para celebrar os quatrocentos anos desta Paróquia que hoje está construída no centro do município.
Com esta Caminhada Ecológica, pretendemos sensibilizar os participantes sobre o patrimônio histórico-ambiental: ruínas da Matriz, Baía de Aratu, vegetação com remanescentes de mata atlântica e ainda, por seus moradores, em particular, aqueles que são os descendentes do apogeu da cana de açúcar e seus engenhos que são os afro-brasileiros que ali ainda residem, afinal, todos são, para nosso orgulho: SIMOESFILHENSES!

Com esta Caminhada Ecológica acontecendo no Dia Nacional do Samba, teremos muito samba com vários grupos, - reverenciando com este gênero musical a paisagem bucólica do Dambe, da Baía de Aratu e do “mar verde” que era o Cotegipe por seu canavial, ‘a mais notável sesmaria de Paripe’ segundo Gabriel Soares de Souza em seu “Tratado Descritivo do Brasil” de 1587 ou as referências a esta localidade feitas por Wanderley Pinho em seu livro “História de um Engenho do Recôncavo”!!!

Em 2007 fizemos mais uma das muitas Caminhadas EcoHistóricaCulturais ao Dambe, exatamente na data, 2 de dezembro, Dia Nacional do Samba e meses antes dos 400 anos da Matriz de São Miguel de Cotegipe! À cada senda ou esfinge a ser decifrada eu falava para os caminantes sobre os seculares fatos e ou habitantes dali e aí surgiram nomes assim. Veja abaixo:

NOMES DESTACÁVEIS:

João de Velosa (possivelmente o primeiro sesmeiro. Era apadrinhado do rei);
Mem de Sá trouxe Heitor Antunes “Cavaleiro da Casa Real” e Ana Roiz, sua esposa;
Sebastião Faria (Casa-se com Beatriz Antunes filha de Heitor e Ana);
Sebastião da Ponte, vizinho de Sebastião Faria;
Sebastião Alvarez, o velho, teria sido o Barão de Cotegipe (pois este se casou com a filha de Sebastião Faria, poderoso engenhista da época.
Wanderley Pinho;
João Costa;
Tia Anastácia Martins de Freitas
Sr. Jerônimo Conceição
D. Neide Ferreira Camargo...

Preparei uma lista com frases para serem afixadas nos marcos durante Caminhada EcoHistóricaCultural:
10 Placas de 30 x 70 cm com as seguintes frases abaixo:
1. O manguezal é berçário da vida marinha. Isto é cultura!
2. 70% das vidas marinhas dependem dos manguezais. Isto é cultura!
3. Preserve o manguezal. Isto é cultura!
4. Os mangues produzem mais 95% do alimento que capturamos do mar. Isto é cultura!
5. Kirimurê era o nome Tupinambá da Baía de Todos os Santos. Isto é cultura!
6. A Baía de Aratu é um acidente geográfico. Isto é cultura!
7. Nas terras de Cotegipe foram erguidos notáveis engenhos. Isto é cultura!
8. Os soldados libertários passaram por nosso massapê e apicuns. Isto é cultura!
9. Na Água Comprida a ferrovia abriu o seu caminho de ferro. Isto é cultura!
10. A Ex-Matriz de São Miguel de Cotegipe foi erguida em 1608. Isto é cultura!
O2 Placas de 70 x 1,50 cm para as seguintes frases abaixo:
1. Aqui viveram: Tapuias e tupis. Portugueses e holandeses. Senhores de engenhos e jesuítas. Africanos forros, escravos e ladinos. Isto é cultura!
2. Esta região testemunhou as batalhas entre portugueses e holandeses por mais de 3 décadas. Isto é cultura!

CONVERSAS PELAS BEIRAS:

Sr. Jerônimo Conceição nascido no Dambe há 83 anos, sua mãe era indígena e seu pai africano. É sobrinho de Tia Anastácia (falecida) com quem foi morar após a morte de sua mãe.
- Última missa na Ex-Matriz, foi em 1935, celebrada pelo Padre Monteiro;
- D. Tolentina tinha um escravo por nome Braz.
- A Ponte Mapele – Passagem dos Teixeira deve ter uns 70 anos e foi construída pela Estaca França e fica a partir da Ponta Alexandre Dias.

Obs: Do início do Dambe (no alto) ao fundo da RDM (ex-SIBRA) estão 15 famílias. Quando se engloba Dambe (no alto) e o Engenho de Baixo apresentam-se 555 famílias.

Fonte:

O que é uma Baía: As baías são acidentes geográficos, junto aos braços de mar, lagoas costeiras, estreitos e fiordes, como ambientes costeiros que contêm água do mar diluída pela drenagem costeira, genericamente chamados de estuários. A Baía de Todos os Santos é a maior reentrância de águas profundas e abrigadas do Brasil e do Atlântico Sul. Ela é considerada a segunda maior baía navegável do mundo, evidentemente por conta das dificuldades conceituais; mas o substantivo é ser um dos melhores sítios do Brasil, quiçá do mundo, mas certamente entre os melhores, adequado para implantação de portos, terminais, estaleiros, marinas e atividades náuticas.

Pronto. Descansemos a prosa. Depois retomamos com um novo marco.

Encerramento do Projeto de Intervenção História e Cultura dos Povos Indígenas - Lei 11.645/08

ESTÁGIO SUPERVISIONADO III - ENCERRAMENTO

(16 DE AGOSTO A 19 DE NOVEMBRO DE 2010)

REALIZAR este Projeto de Intervenção "História e Cultura Indígena: Passado e Presente pra Valer", é contribuir com os Povos Indígenas no Brasil e oferecer à Educação essa proposição a fim de a Lei 11.645/08 não fique apenas no papel. Por isso, o propomos à coordenação pedagógica do CESA, para que, numa abordagem transversal, fosse desenvolvido nas turmas do 1º ao 5º ano, no transcurso de 2010, articulando temas/conteúdos de História, Ciências/Meio Ambiente, Língua Tupi, Música, Arte, Literatura e Teatro.

Dos conteúdos em sala de aula foram tomando corpo numa dimensão e abordagem transdiciplinar, diversas oficinas: tupi – português para o ensino-aprendizagem para a dramatização e elaboração do glossário, peteca, teatro, cerâmica, preparação de instrumentos musicais, figurinos e pinturas corporais indígenas a partir da cultura do povo Ikpeng, etc.

Gostaríamos de melhor sistematizar fotos (muito a agradecer à Profª Ezi), temas e textos aqui socializados nos nosso Projeto de Intervenção, apresentado à disciplina Estágio Supervisionado III, como exigência parcial para conclusão desta etapa do curso de graduação em Pedagogia da Universidade Federal de Ouro Preto – Centro de Educação Aberta e a Distância, que, após a primeira etapa que constou de coleta de dados, depois, na segunda etapa a partir do dia 22 de março de 2010, entre as turmas do 1ª A e B, quando observei e participei do fenômeno em sala de aula, e, em terceiro momento, na 3ª série (4º ano), ora a realização do Projeto de Intervenção.

Fiquem à vontade para comentar! Será um prazer manter intercâmbio. Ensinar será circunstancial, mas, aprender sempre!

AGRADECIMENTOS
Alberto Severiano Ribeiro, In memoriam, meu pai.
Amélia Souza Ribeiro, minha mãe.
Aos meus Ancestrais Indígenas e atuais parentes.
Profª Drª Sandra Augusta de Melo – UFOP, professora da Disciplina de Estágio;
Profª Drª Graça Graúna - UPE, tessituras ameríndias;
Profª Natalina Bomfim Ribeiro – UFOP, tutora e companheira de todas as horas;
Prof. Julival Ferreira - UFOP, tutor e amigo notável;

À Equipe pedagógica do CESA, minha paixão sociopedagógica:
Profª Solange de Couto Santana, educadora atenta e parceira;
Profª Ana Boaventura, muito me estimulou com a sua turma;
Profª Carol, com sua turma, acolheu-me com sensibilidade;
Prof. Didi Dias, trouxe seu gesto musical;
Prof. Luis Amado, nos fez rememorar o valor da argila;
Profª Márcia Barros e Pedro Augusto Mascarenhas, pelos registros audiovisuais.

Ao meu filho Yã Bomfim Ribeiro, por nossos intensos bate-papos sobre Desafios a vencer, Educação, Povos Indígenas, Cultura, Recursos Naturais, Sustentabilidade e Responsabilidade social...

Menção Especial à Profª Ezi Costa e aos seus (meus!) alunos do 4º ano, com os quais compartilhei momentos de ensinar-aprender-aprender-ensinar, de desafios e alegrias constantes, no período de 16 de agosto à 19 de novembro de 2010, quando do encerramento deste Projeto de Intervenção.

À tod@s, minha Gratidão!

AR

CONTEÚDOS
1. Levantamento e acolhimento dos conhecimentos prévios dos alunos;
2. Formação do povo brasileiro;
3. Hipóteses da chegada dos indígenas à América;
4. Povos indígenas – quem são e sua diversidade;
5. Os tempos das histórias/divisão do tempo;
6. 19 de abril, Dia do Índio e 9 de agosto, Dia Internacional dos Povos Indígenas.
7. A história que é feita de mitos (Guaraná, mandioca, origem de cada povo, etc.);
8. A história que é feita de acontecimento de cada nação;
9. A Geografia e as práticas com a terra: localização dos povos, os lugares da aldeia, a oca, a ocara, as roças, as matas, os rios;
10. As tribos indígenas na Bahia – passado e presente;
11. As leis: Constituição, o Estatuto do Índio, a Lei 11.645/08.
1. Levantamento e acolhimento dos conhecimentos prévios dos alunos;
2. Línguas indígenas – diversidade;
3. Língua Tupi – aquela a ser estudada;
4. Toponímia;
5. Construção de glossário ilustrado;
6. Um canto na língua Tupi – um dos componentes como resultado prático do Projeto.
1. Levantamento e acolhimento dos conhecimentos prévios dos alunos;
2. A ludicidade, jogos e brinquedos dos povos indígenas;
3. A música indígena dos povos indígena;
4. As danças indígenas dos povos;
5. As plumárias dos vários povos indígenas;
6. Artesanato e pinturas: cerâmica, cestaria, arcos, flechas, braceletes, sítios de representação rupestre, etc.


PROGRAMAÇÃO (Encerramento do Projeto de Intervenção)
Dia 19/11 – Das 14 Às 16 horas

Local: Acordatório - Espaço das Oficinas Lúdicas - CESA;
1. – Abertura com musica indígena de vários povos;
2. – Exposição da Arte Cerâmica feita pelos alunos do 3ª B, da Profª Ezi Costa;
3. – Celebração – Sinergia das 1ª A e B e 3ª B;
4. – Dramatização e Canto bilingue Tupi - Português;
5. – Avaliação com todos os presentes;
6. – Encerramento: Degustação de pipoca (uma palavra e um alimento indígena).

AS FOTOS ABAIXO SÃO DA TERCEIRA E SEGUNDA ETAPAS. PARA SE ENTENDER: A PRIMEIRA ETAPA CONSISTIU NA COLETA DE DADOS DA INSTITUIÇÃO EDUCAIONAL. A SEGUNDA CONSISTIU EM MINHA OBSERVAÇÃO E PARTICIPAÇÃO DO FENÔMENO EDUCATIVO EM SALA DE AULA QIANDO CONTRIBUI PELA DEFLAGRAÇÃO DO ENSINO DE CIÊNCIAS NATURAIS COM A POESIA "CELEBRAÇÃO" QUE TORNOU-SE EMBLEMÁTICA PARA OS ALUNOS DAS 1ª SÉRIE A E B. ENFIM, A TERCEIRA ETAPA COM O PROJETO DE INTRERVENÇÃO COM O ENFOUQE DA LEI 11.645/08 NO QUE DIZ RESPEITO À "HISTÓRIA E CULTURA DOS POVOS INDÍGENAS".
INTERAÇÃO DOS GRUPOS: 1ª A E B E 3ª B, SEUS PROFESSORES E DEMAIS ENVOLVIDOS DURANTE O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA INTERVENÇÃO, TAIS COMO, O MÚSICO EDILTON (DIDI) DIAS, LUIS AMADO -, SOB A MINHA COORDENAÇÃO. TODAS AS PEÇAS E AS ASPECTOS SÃO COMPONENETS DESTE PROJETO.






























































































































ATIVIDADES DO ESTÁGIO II - OBSERVAÇÃO E PARTICIPAÇÃO EM SALA DE AULA

Estas poucas fotos apresentam uma prática de arte educação, acontecida na Turma do 1º Ano B da professora Ana Boaventura, no Centro Educacional Santo Antônio – CESA, das Obras Sociais Irmã Dulce no município de Simões Filho – BA. É componente do meu Estágio Supervisionado no âmbito do Curso de Licenciatura em Pedagogia e disciplina ministrada pelos professores Sandra Augusta e Felipe André da Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP – Centro de Educação a Distância – CEAD.

Esta oficina deflagrou o Ensino de Ciências Naturais na semana de 12 a 16 de abril e agora, numa abordagem interdisciplinar a partir de uma seqüência didática que se iniciou no dia 19 e culminará no dia 23 de abril com a programação que se verá abaixo.

O 1º Ano B da Ana Boaventura no primeiro momento foi quem ensaiou pela primeira vez a poesia e música Celebração e realizou o 1º momento da Oficina que foi o de Desenhos (veja as fotos). As turmas do 1º Ano A e 2º A das Professoras Carolina (Carol) e Meiriele, respectivamente, em conjunto com o 1º Ano B realizaram o 2º momento na Oficina de Cerâmica do professor Luis Amado, quando numa interação das três turmas e dos seus professores e do Oficineiro Ademario Ribeiro e autor de Celebração, fabricaram uma série de objetos e figuras a partir da argila (elemento Terra) numa interdependência com os demais elementos fundamentais a esta produção e à vida como um todo: Água, Fogo e Ar.

Obs.: Após a culminância no dia 23 de abril postaremos as fotos com as exposições da “Arte Indígena”, pinturas corporais, apresentações.

Enfim, a programação e a seqüência didática.

ABRIL INDÍGENA NO CESA

SEMANA DOS POVOS INDÍGENAS – O QUE SEI E O QUE PRECISO SABER


Período: 19 a 23/04/10

Tema: Povos Indígenas, passado e presente


Justificativa
Independente da data comemorativa de 19 de abril, Dia do Índio necessário se faz, processualmente se apresentar, discutir e valorizar as raízes indígenas não apenas enquanto tradições, cultura e folclore – mas, enfaticamente trazer à sociedade, ainda mais nas comunidades escolares - a nossa herança indígena, suas contribuições à formação do povo brasileiro, seus formatos e traçados socioculturais a fim de sabermos respeitar, valorizar e garantir sua preservação e garantir seus direitos humanos e de serem quem são e o que querem ser em suas sociedades e na sociedade dos não índios.

Sobretudo, no Dia do Índio, havemos de não só comemorar, mas lançar novos olhares sobre estas etnias no sentido de diminuir os preconceitos, invisibilidades, o generalismo e compreendermos a pluralidade destas etnias e a diversidade cultural que se estabeleceu durante séculos e que agora não podemos desconhecer e sim, percebê-las, distingui-las e preservá-las.

Dia 19 – Das 09 Às 10 horas
Local: Espaço lúdico
1.0 – Abertura musical – Brincar de índio
1.1 – Levantamento dos conhecimentos prévios: O QUE É ÍNDIO
1.2 –Apresentação do tema pelas professoras Ana Boaventura, Carolina (Carol) e Meiriele.e por Ademario Ribeiro

Dia 20 – Das 09 às 11h30
Local: Cinemateca
2.0. Slides – Mostra da Arte Indígena;
2.1. Apresentação de vídeos com a temática indígena;
2.2. Arte Cerâmica feita pelos alunos do 1º Ano A e B e 2º Ano A;
Local: Oficina de Cerâmica

Dia 22 – Das 09 às 10 horas
Local: Espaço lúdico
3.0. Palestra com álbum seriado: Índios ontem e hoje com Ademario Ribeiro
3.1. Perguntas e Debate

Dia 23 – Das 09 às 12 horas
Local: Quadra coberta
4.0. Abertura da exposição da Arte Indígena (cerâmica), artesanato indígena, cartazes e textos sobre a temática.
4.1. Pintura corporal;
4.2. Apresentação musical
a) Koyra (Tempo de agora);
b) Quando o índio bate o tambor;
c) Brincar de índio;
d) Celebração.
4.5. Encerramento: Degustação de pipoca (uma palavra e um alimento indígena).



Celebração - Oficina para crianças do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental I

Seqüência Didática



Objetivo geral
- Desenvolver na criança a percepção sistêmica que facilite a compreensão da interdependência entre os elementos humanos e naturais, renováveis e não renováveis, e de que a natureza é um todo dinâmico e o ser humano é seu principal agente de transformação capaz de melhorar suas ações pela preservação do planeta terra e da qualidade de vida.

Objetivos específicos-
Incentivar o entendimento e construção de conceitos científicos básicos, associando-os a compreender que os elementos: terra, água, fogo e ar fundamentam a vida no planeta terra;
- Estimular a criança a compreender a importância do trabalho em grupo, a ser colaborativo e crítico na busca individual e coletiva do conhecimento;
- Incrementar na criança o gosto pelas artes como veículo de transformação com as quais poderá responder criativamente às crises, produzindo intervenções com sentimento de co-pertencimento planetário.

Competências e habilidades

- Utilizar instrumentos de medição e de cálculo a fim de compreender e propor situação-problema e formular hipóteses e prever resultados;
- Incentivar sua participação em prol de ações solidárias;
- Relacionar saúde com hábitos alimentares, atividade física e uso de medicamentos e outras drogas, considerando diferentes momentos do ciclo de vida humano.
- Diagnosticar situações do cotidiano em que ocorrem desperdícios de energia ou matéria, e propor formas de minimizá-las.
- Investigar o significado e a importância da água e de seu ciclo em relação a condições sócio-ambientais.
- O desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo.

1º MOMENTO:
Distribuir o texto base do poema Celebração. O Facilitador sugerirá que cada um faça uma leitura silenciosa da poesia, no caso se já souberem ler, senão isto deverá ser feito pelo facilitador ou professor.
Tempo para a leitura.

2º MOMENTO:
Após a leitura o Facilitador/Professor, este solicitará que cada um fale/expresse seus conhecimentos prévios e sentimentos sobre o que lhes remeteu a poesia. Afinal, estes quatro elementos são muito presentes na infância de cada pessoa, de uma forma ou de outra, embora um ou outro elemento possa ser o mais perceptível, mais significativo e ou de predileção. Instigar que haja relato para todos os elementos, assim como que todos apresentem seus conhecimentos prévios e sentimentos.
Tempo de fala de cada componente. (ver a quantidade de participantes e o tempo total que se pode utilizar para esta oficina).

3º MOMENTO:
Trabalhar com argila (um objeto que retrate ou que tenha uma relação com a sua infância, com seu momento atual ou de sua predileção). A argila é elemento terra e com o contato com os elementos água, fogo (energia solar, por exemplo) e o ar (vento), - irá se modelando e se transformando.
Tempo.

4º MOMENTO:
Desenhar como deveria estar o seu local ou o global (planeta terra) ou ao que remete os 4 elementos. Lembrar que ao final haverá uma galeria para expor todas produções.
Tempo.

5º MOMENTO:
Se o grupo for numeroso, formar sub-grupos. Cada um componente, pode socializar uma história verídica, na qual entre um ou mais elementos contido(s) em Celebração, esteja(m) presente(s). O grupo e ou sub-grupos, deverá (ão) eleger uma das histórias verídicas para ser Dramatizada ao final da oficina em conjunto com a exposição dos desenhos e dos os artefatos/artesanato construídos com a argila no 3º Momento .
Tempo para a socialização.
Tempo para a apresentação.

6º MOMENTO:
Dançar (expressão corporal e ou “dança sagrada” - tribal/circular).
Tempo para conceber/ensaiar/ a coreografia. Pode-se conceber de como os índios no Brasil dançam os seus torés, seus kuarups. A letra já dá uma idéia de como pode cantada a partir do ritmo indígena utilizando-se do seu maracá e outros instrumentos musicais que for condizente usar.

Outras orientações/possibilidades
7º MOMENTO:
Trabalhar a partir da informação do Facilitador de como é o ritmo de Celebração.
Tempo para ensaiar/conceber da Música.

8º MOMENTO:
Produzir instrumentos musicais para auxiliar o Canto e Dança de Celebração, partir dos 3 R’s (Redução, Reaproveitamento e Reciclagem)...
Tempo para a Oficina dos 3 R’s.

9º MOMENTO:
Estabelecer uma abordagem sistêmica verificando alguns nexos com as várias disciplinas, conferindo a oficina a abordagem da interdisciplinaridade. Temos aqui muitos disparadores de matemática e geometria, de geografia e geologia, de língua portuguesa e artes, de biologia e ciências naturais, consumo e pluralidade cultural, etc. Podendo se trabalhar conteúdos de grandezas, quantidades, medidas e formas; localizações e distâncias, ambiente preservado e degradado, a saúde das pessoas, de animais e ambientais em geral, quanto aos elementos disponíveis na natureza, artefatos e artesanato presentes e valorizados nas culturas populares, etc.
O que mais podemos nos permitir esta intervenção.

Ao que nos remeter/se inspirar

Elemento TERRA – (argila/barro) - imagem/sentimento da infância – Artesanal (uso das mãos);

Elemento ÁGUA (uma história) – oralidade (o som da voz humana, a escuta ao outro);

Elemento FOGO (imaginar um encontro numa fogueira, a descoberta do fogo) – Dramatização;

Elemento AR (brincar com rodopios, ziguezaguear o “ar”) – Dança/Expressão corporal.

Juntar todas as partes construídas nos MOMENTOS acima e fazer uma apresentação conjunta de Celebração.

Observações finais;

Quanto ao tempo/período. Há uma seqüência muito ampla de intervenções. Cada professor e ou facilitador deverá estabelecer o que prioriza – podendo enxugá-las em virtude do tempo que dispõe. Ainda, pode-se utilizar esta oficina em vários ocasiões: Dia Mundial da Água, Dia do Índio, Dia da Terra, Dia Mundial do Meio Ambiente, como atividades de Educação Ambiental, Ensino de Ciências Naturais, atividades em empresas, seminários, etc.

Criatividade, imaginação e sensibilidade às soltas!

Ademario Ribeiro


ENFIM, A CONCLUSÃO DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA QUE DISPAROU O INÍCIO DO ENSINO DE CIÊNCIAS, DA SEMANA DOS POVOS INDÍGENAS, DO DIA MUNDIAL DA TERRA E DA REFLEXÃO SOBRE A "DESCOBERTA DO BRASIL".


As fotos embora não estejam na sequência cronológica apresentam alguns aspectos das etapas. Tudo isto só foi possível pelo empenho dos envolvidos (professores e alunos) numa oportunidade de ensino-aprendizagem criativo e numa abordagem colaborativa e interdisciplinar,utilizando materiais, espaços e tempos diferenciados! Veja o que nos motivou:

 Deflagrar o início do Ensino de Ciências Naturais no 1º Ano A e B do Ensino Fundamental do CESA – Centro Educacional Santo Antônio com a poesia e música Celebração, quando trabalhamos os quatro elementos;

 Estimular ludicamente a compreensão dos quatro elementos: Terra, Água, Fogo e Ar e suas inter-relações para gerarem a Teia da Vida;

 Organizar e construir conhecimentos e conceitos sobre os Povos Indígenas de forma crítica e atual ressignificando aquela idéia de índio focada no século XVI;

 Interagir as turmas dos 2º ao 5º na realização dos cantos, danças e participação e na exposição dos artefatos de cerâmica;

 Relacionar conhecimentos e conceitos da história “oficial” apontando para uma reescrita dos povos indígenas numa perspectiva crítica sobre a “descoberta” e sobre a conquista das etnias ameríndias;

 Identificar e valorizar aspectos das culturas ameríndias e de como se dá a manutenção dos elementos do seu cotidiano com o sagrado, com os fenômenos e a biodiversidade envolvente.

Concluindo, gostaria de agradecer à diretora desta Unidade Escolar, Profª Solange de Couto Santana, às professoras do 1º Ano A e B e do 2º Ano A, do CESA, respectivamente, professora Caroline (Carol), Ana Boaventura e Meiriele pela acolhida e esforços para esta realização e, desejo também, carinhosamente, dedicar este trabalho aos professores Elisabeth Antonini (Ciências do Ambiente I e II), Sandra Augusta e Felipe André (Estágio Supervisionado I e II) e Natalina Bomfim e Julival Ferreira (Tutoria Presencial) do Curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP – Centro de Educação a Distância – CEAD, por suas interações heurísticas -, basilares para uma Educação que precisa vir a se circunscrever, afetiva, inclusiva, sistêmica e significativamente.

Agora é com você. Comente. Indique.

Texto original de Celebração. O cartaz desta poesia na postagem anterior, foi elaborado pela Profª Ezi.

* C E L E B R A Ç Ã O
(Ademario Ribeiro)

Oração canto e dança oração
Como viver? Como viver?
Tem que ter Terra
Tem que ter Terra
(... Mata Alimento Caminho Bicho!...)

Oração canto e dança oração
Como viver? Como viver?
Tem que ter Água
Tem que ter Água
(... Peixe Canoa Limpeza Chuva!...)

Oração canto e dança oração
Como viver? Como viver?
Tem que ter Fogo
Tem que ter Fogo
(... Luz Dança Paixão Energia!...)

Oração canto e dança oração
Como viver? Como viver?
Tem que ter Ar
Tem que ter Ar
(... Brisa Vôo Brincança Liberdade!...)

Oração canto e dança oração
Como viver? Como viver?
Tem que ter TERRA
Tem que ter ÁGUA
Tem que ter FOGO
Tem que ter AR
(... P’ra Viver!...)

Referências
Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs: Ciências Naturais/Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC / SEF, 1998. 138 p.
RIBEIRO, Ademario. Poética Poranduba, Eco-Étnica. Salvador: Edição do autor, 2001.


Em tempo: gente, é com este construto que vou elaborar meu Trabalho de Conclusão de Curso - TCC! Estou muito feliz por essa conquista. Com tantos caminhei. Com tantos cruzei caminhos. Com quantas encruzilhadas fiquei estatelado em busca de ser um ser cada vez melhor. E guardo de memória e com coração sempre na goela que vocês muito me ensinaram e me estimularam. Vocês estão na minha prática, na minha utopia.

Até já!!!