quinta-feira, 31 de julho de 2014

Índios isolados podem ser exterminados no Acre por despreparo da Funai

por 

Texto de Altino Machado para Blog da Amazônia
Além dos massacres perpetrados há anos por madeireiros e narcotraficantes do lado peruano, os povos indígenas isolados que vivem na fronteira do Acre com o Peru correm risco de extermínio por causa do despreparo e da falta de estrutura da Fundação Nacional do Índio (Funai) do lado brasileiro.
Jovens indígenas de grupo isolado durante o primeiro contato no Acre
Jovens indígenas de grupo isolado durante o primeiro contato no Acre
A Frente de Proteção Etnoambiental Envira foi invadida há três anos por narcotraficantes peruanos, os funcionários da Funai fugiram e a base só foi reaberta no mês passado, quando os índios isolados tomaram a iniciativa de estabelecer os primeiros contatos.
O antropólogo Terri Aquino, da Funai, que há 39 anos atua na região, declarou ao Blog da Amazônia que a autarquia não está preparada para estabelecer contato com povos indígenas isolados porque desde 1987 adotou como política o não contato.
- Os índios isolados estão em busca de proteção e de acesso à tecnologia, ou seja, machado, pólvora, terçado, panela. Chegou a hora do estado brasileiro ser generoso. Não pode ficar o tempo todo dizendo não e não aos isolados. Do contrário, nesta fase do contato, os isolados podem se revoltar e acontecer um massacre envolvendo a jovem equipe de indigenistas da Funai que pouco conhece a floresta – alertou.
Em vídeo gravado pela equipe da Funai, na Aldeia Simpatia, da Terra Indígena Kampa e Isolados do Alto Rio Envira, o sertanista José Carlos Meirelles, que viveu durante mais de 20 anos na FPE Envira e atualmente trabalha na Assessoria Indígena do governo do Acre, disse que o grupo de índios isolados que buscou contato com a Funai está sendo pressionado por pessoas (madeireiros e narcotraficantes) que atuam no Parque Nacional do Purus, no Peru.
Meirelles relatou que os índios deixaram claro que estão sendo mortos a tiros de espingarda e que tocaram fogo em suas casas.
- São todos jovens e a impressão que passa é que esse povo quer se chegar a alguém que não mate eles. Estão pedindo para a gente a nossa obrigação funcional. Esse pessoal está pedindo à Funai o que o estado brasileiro tem dever de fazer. Eles nem precisariam estar pedindo, pois é obrigação nossa.
O sertanista considera a situação complicada e defende que a FPE Envira receba apoio real para que possa proteger os índios isolados.
- Se não derem estrutura para que as pessoas segurem o que vem por aí, infelizmente nós vamos repetir a história e seremos co-responsáveis pelo extermínio desse povo. Se a gente não fizer nada agora, se o estado brasileiro não se movimentar e realmente entender que essas pessoas merecem viver, que o estado brasileiro diga que vai deixá-los morrer. Não dá mais para contemporizar. Ou faz, dando estrutura, ou o estado brasileiro diz: tudo bem, mais um genocídio no meu currículo.
Terri Aquino revelou que já existe um clima de insatisfação envolvendo o grupo de oito índios isolados que se estabeleceu desde o domingo (27) na FPE.
- Os isolados querem terçados, munição, armas, panelas, roupas. A Funai não tem nada para oferecer e isso já forçou o recuo do pessoal do pessoal da base da FPE para a Aldeia Simpatia. Os conflitos surgem em bases de contato quando os índios chegam e não encontram nada.
No entendimento do antropólogo, a Funai precisa cuidar de um nova terra para os índios isolados e indenizar as benfeitorias das famílias dos índios do entorno saqueadas pelos isolados. Foram mais de 70 casos de saques nos últimos 30 anos, sendo a maioria no período de 2006 a 2013.
- As famílias nunca foram indenizadas. Os ashaninka, por exemplo, receberam os índios isolados e não tiveram nenhuma reação agressiva. Perderam tudo o que tinham. A Funai, sem cogitar indenizar essas famílias, cria um ambiente desfavorável no entorno. Isso pode criar uma reação agressiva.  
Terri Aquino acha imprescindível a presença da Força Nacional de Saúde para prestar assistência e imunização contra doenças que os índios isolados não tem resistência.
- É preciso atender da mesma maneira os índios do entorno, que estão totalmente desassistidos. Eu mesmo presenciei recentemente, na Aldeia Simpatia, criança morrendo de diarréia. A Funai não vai segurar os isolados na base sem que não tenha nada para oferecer.  Não tem comida, nada. A Funai pode ser responsável até pela morte de seus funcionários.
Terri Aquino e Carlos Travassos cobram apoio do governo à Funai
Terri Aquino e Carlos Travassos cobram apoio do governo à Funai
O geógrafo Carlos Travassos, chefe da Coordenação-geral de Índios Isolados da Funai, informou que opera com apenas R$ 2,3 milhões no orçamento, sendo que 30% estão contingenciados. Recentemente, no Acre, o indigenista Guilherme Siviero, tirou do próprio bolso R$ 800 para comprar um canoa necessária para o trabalho da equipe envolvida na proteção dos isolados.
- A previsão é de que no próximo ano haja redução orçamentária. É assim que atuamos na proteção de 27 grupos de índios isolados confirmados, monitorando 31 milhões de hectares de terras indígenas na Amazônia Legal, onde são mantidas 12 frentes de proteção etnoambietnal – afirma Travasssos, que trabalha na Funai há sete anos, tendo atuado nas frentes de proteção etnoambiental do Javari e Médio Purus.
Também, em vídeo gravado pela Funai na na Aldeia Simpatia da Terra Indígena Kampa e Isolados do Alto Rio Envira, o coordenação-geral de Índios Isolados da Funai disse que é crescente a dificuldade orçamentária e de recursos humanos. Planeja, faz uma série de diagnósticos, busca criar planos de contingência para situação de contato, mas surgem vários cortes orçamentários, além do recrudescimento sobre as obrigações do estado brasileiro em reconhecer terras indígenas onde há a presença de índios isolados.
- Nosso orçamento, por mais que tenhamos mostrado e comprovado a necessidade de se aumentar, o que temos visto é a diminuição. Os compromissos estabelecidos na área de saúde não vem sendo cumpridos. As populações indígenas no entorno dos povos isolados talvez tenham a pior atenção na área de saúde.
Segundo Travassos, a base do Xinane, que foi fechada por causa da presença de narcotraficantes vindos do Peru, contou com reações esporádicas da Polícia Federal, sempre com muito sacrifício.
- O que temos ouvido é que é uma presença inócua de narcotraficantes e que isso não é prioridade para as autoridades policiais. Acho isso um absurdo. Acho que quando se tem uma população de povos isolados e povos contatados, à mercê de bandidos, que trabalham ilegalmente com o uso da força, da espoliação de território e de genocídios, isso deveria ser levado a sério dentro de uma política nacional e internacional encabeçada pelo Brasil.
No epoimento a que a reportagem teve acesso, Travasssos assinala o fato de que os índios isolados que procuraram estabelecer contato são muito jovens.
- Hoje, a situação que temos é ver esses jovens, que sobreviveram a alguns massacres. Talvez seja a última vez que estejamos vendo esses meninos, que amanhã podem estar mortos, seja por doenças ou tiros de espingarda. Faço um apelo ao alto escalão do governo, principalmente ao Ministério do Planejamento, que tem ignorado nossos projetos e nossas solicitações de medidas orçamentárias. Faço um apelo às forças federais de segurança pública para que possam nos dar apoio na região. Temos que ter capacitação para enfrentar grandes criminosos que vem do outro lado com grande poder de fogo. Dispomos de todas as informações do que é necessário para se realizar um trabalho melhor. Isso já foi repassado ao governo e eu gostaria que isso fosse tratado seriamente. Muitas vezes essa questão dos índios isolados, a informação que levamos, não são levadas a sério. Os servidores da Funai se sacrificam para proteger esses povos, mas o governo precisa dar apoio para que se possa realmente fazer um trabalho humanitário, correto e republicano, para que populações inteiras não sejam exterminadas.
Fonte: https://ninja.oximity.com/article/%C3%8Dndios-isolados-podem-ser-extermi-1

Funai prevê chegada em massa de índios isolados na fronteira do Acre

Por NINJA

O coordenador-gera de Índios Isolados e Recém Contatados da Fundação Nacional do Índio (Funai), Carlos Lisboa Travassos diz, em entrevista exclusiva à agência Amazônia Real, que a equipe responsável pelo contato com os índios desconhecidos da fronteira do Acre com o Peru enfrentou a descofiança e o medo para convencê-los a tratar com remédios dos “brancos” uma gripe capaz de exterminar todo a tribo, que vive em local de difícil acesso da floresta do oeste da Amazônia brasileira.
Índios isolados foram identificados como o povo do Rio Xinane (Foto: Divulgação Funai)
Índios isolados foram identificados como o povo do Rio Xinane (Foto: Divulgação Funai)
Travassos afirma que o índios isolados recém contatados foram identificados como o povo do rio Xinane, pertencente ao tronco linguístico Pano. Sem resistência para doenças como pneumonias, eles foram convecidos a tomar os remédios pelos intertérpretes da etnia jaminawá, que falam dialetos da mesma língua. O próximo passo é vacinar todo o grupo.
Na entrevista à Amazônia Real, o coordenador-geral de Índios Isolados diz  que a situação na fronteira é crítica. Na região há várias tribos compartilhando o mesmo território pacificamente. Mas a perspectiva é de que haja uma aproximação massiva do grupo indígena isolado na base da Funai do rio Xinane, o que exigirá, segundo Travassos, de uma resposta do governo brasileiro na proteção da integridade física e cultural da etnia. Ele disse que a Funai pediu ajuda ao Itamaraty para intermediar a participação do governo peruano nas ações.
A base do Xinane fica localizada na Terra Indígena Kampa e Isolados do Rio Envira, entre os municípios de Feijó e Jordão (Acre), com acesso possível apenas de aeronave ou barco, o que exige recursos para logística e a contratação de servidores. Nesta região vivem os ashaninka e há vestígios de mais duas tribos desconhecidas, o povo do Riozinho e o povo do Rio Humaitá.
Carlos Travassos disse que o contato na aldeia Simpatia dos índios ashaninka, que aconteceu no dia 26 de junho, por pouco não deu certo.
Amazônia Real – Como aconteceu o contato entre os índios isolados e o povo ashaninka?
Carlos Lisboa Travassos –  Estava havendo uma movimentação desse grupo de índios isolados na aldeia Simpatia, dos índios ashaninka, desde o começo do mês de junho. O Guilherme (Siviero, chefe da Frente de Proteção Etnoambiental do Rio Envira)foi para a região, fez uma caminhada na mata e percebeu os vestígios de índios isolados. Ele retornou para Rio Branco (AC) e voltou no dia 13 de junho com uma equipe da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena, vinculada ao Ministério da Saúde) e o sertanista José Carlos Meirelles, que é da assessoria indígena do governo do Acre. No dia 26 de junho aconteceu o primeiro contato dos índios isolados. Eles apareceram atravessando o rio Envira. A aldeia Simpatia fica bem na margem do rio. Eles assopravam barulhos de animais.  Foram contatos razoavelmente rápidos, algumas horas e depois retornaram para mata. Foi assim nos dias seguintes. Os diálogos foram realizados por dois intérpretes muito habilidosos, que conhecem os dialetos da língua Pano, o mesmo tronco linguístico dos índios isolados: José Corrêa Jaminawa, 70 anos, e o Almerindo Jaminawa, 60 anos. São pessoas muito experientes que conseguiram manter uma comunicação plena com os índios e uma relação de confiança.
AR – Quantos índios apareceram na aldeia Simpatia?
Travassos – Primeiro fizeram o contato cinco homens. Eles são muito jovens, numa faixa de 12 a 21 anos de idade. Têm altura média dos outros indígenas (1,70 metros) e físico muito forte, são muito saudáveis.  Disseram que há muito tempo nos observavam. Reconheceram os servidores da Funai da base do Xinane, reconheceram o Meirelles. Contaram que observavam as aldeias que têm por ali há muitos anos. Eles disseram que todos os anos descem as cabeceiras do rio Envira para coletar quelônios (tartaturas, tracajás) durante o verão e para caçar e pescar. Eles têm uma atividade produtiva nesse período de seca na Amazônia. A maloca deles fica na outra margem de afluentes do rio Envira, já no território peruano. Nessa época do ano, o rio seca e as águas dão na canela. O tempo todo eles atravessam o rio de um lado para o outro.
AR – Dos quatro grupos avistados naquela região, esse povo é do rio Xinane avistados nos últimos 30 anos?
Travassos – Não queríamos divulgar muito, mas não tem jeito, esse é o povo do Xinane sim.
AR – Como vocês os identificaram?
Travassos – Conversando, eles foram descrevendo a rota que deveríamos fazer para chegar na aldei a deles. Facilmente descobrimos que fazia parte do grupo. Uma vez por ano fazemos um sobrevoo para monitorar a região, com aeronave em altura específica para não assustar os índios. Tiramos pouquíssimas fotos. Nunca fotografamos esses índios dentro da maloca.
AR – Quais são os traços culturais deles que os diferenciam dos outros grupos de isolados?
Travassos – É principalmente a casca de envira (uma  árvore da floresta tropical), na qual eles amarram o pênis. Eles usam uma fibra também de envira amarrada na cintura, na qual levam um facão. Outra característica marcante é o corte de cabelo,  sempre bem curto. O arco e a flechas são feitos de madeira de pupunha (palmeira nativa). A ponta da flecha é feita de taboca, um tipo de bambu. É uma flecha bem belicosa.
AR – E sobre os não-índios da equipe,  o que eles perguntaram?
Travassos – Percebemos que eles estavam muito desconfiados com os brancos, não índigenas, o que mostra uma experiência não muito boa com nossa etnia. Eles estranharam bastante que cada um de nós tem um cabelo de um jeito. Um é mais escuro, outro é louro, outro é moreno. Perguntaram porque éramos tão diferentes assim. Como poderiam recorrer a gente se cada um era de um jeito? O intérprete disse que existiam muitas pessoas como nós, cada uma tinha um jeito diferente, mas que as pessoas que estávam naquela base eles poderiam confiar.
AR –  Os índios pediram para provar a comida de vocês?
Travassos – Foi bem curiosa essa parte. A gente estava com uma alimentação muito básica, de equipe de campo. Tínhamos uma preocupação de oferecer comida que fizesse mal pra eles, porém, em algum momento, eles vieram experimentar a nossa comida, que era arroz e feijão. Eles  acharam tudo horrível, imprestável. Eles não comem sal. Se alimentam de macaxeira, bananas, peixes. É a alimentação que eles comem.
AR – Como os índios contraíram o vírus da gripe?
Travassos – No dia 4 de julho eles apareceram na aldeia Simpatia. Eu já estava lá.  Depois retornaram para mata. No dia 5 de julho nós percebemos que eles contraíram gripe. O médico (Dr. Douglas Rodrigues, representante da Secretaria de Vigilância em Saúde) fez a primeira medicação para controlar a febre. E aí eles retornaram para mata. Então foi um momento de muita tensão nossa porque não sabíamos se tinha mais pessoas no acampamento que eles estavam, quantas pessoas eram. Depois não sabíamos se eles tinham retornado ao grupo maior, que também seria o pior dos mundo para gente. Seria disseminar uma gripe para um grupo inteiro num local de difícil acesso. Mas, felizmente, a gente encontrou com eles no meio do rio Envira e os convencemos a viajar até a base do rio Xinane.
AR – Como eles aceitaram viajar da aldeia Simpatia para a base do Xinane?
Travassos – Nós dependemos muito da qualidade dos dois intérpretes jaminawa.  São pessoas muito maduras, que conseguiram um diálogo muito bom e conseguiram explicar que a gripe não era um xamanismo, um feitiço, era algo que todos nós acabávamos contraindo e que só sarava quando tomava o remédio. Então esse convencimento se deu quando perceberam que a saúde deles estava piorando. Eles voltaram ao acampamento e buscaram o restante do grupo, que eram duas mulheres, que não tinham aparecido. Eram mulheres de dois deles.
A base do Xinane fica distante cerca de 3 horas de viagem de voadeira (canoa de alumínio com motor de popa). Foi a primeir vez que eles entraram num barco com motor. Na base  tem um chapéu de palha (uma cabana) onde permaneceram acampados por quatro dias e meio em tratamento, de 6 de julho a 10 de julho. Isso permitiu quebrar o ciclo que os médicos dizem de disseminação do vírus da gripe. Eles só retornaram ao acampamento deles quando tivemos certeza de que não iriam levar aquela gripe ao restante do grupo. No último dia em que eles estavam bem melhor da gripe, saíram para caçar e chamaram a equipe para comer com eles. Juntos, como uma relação.
AR – Como foi o tratamento com remédios?
Travassos – Primeiro eles estabeleceram uma relação de confiança com os intérpretes jaminawá.  Os intérpretes conseguiram explicar para eles quem eram aquelas pessoas que estavam ali. Porque não usávamos armas, qual era o nosso trabalho. Foi um momento de muita desconfiança, mas essa desconfiança tem toda uma dinâmica, uma formalidade em que foram construídos os laços de confiança. A grande sorte dos índios isolados foi que esses intérpretes conseguiram ministrar essa situação, que era tensa e não sabíamos se teria êxito. Então, eles perceberam que o primeiro medicamento que o médico ministrou deu efeito, a febre baixou. Todos os medicamentos foram orais.
AR – Eles foram vacinados contra gripe e outras enfermidades?
Travassos – Não. Como nossa preocução era ministar os remédios da gripe, numa possível aproximação deles queremos estar preparados para vacinar e imunizar todos.
AR – A equipe da Coordenação quere ir até à aldeia?
Travassos – Não. Informamos a eles que em novo contato devem procurar a base da Funai no rio Xinane, onde vão permanecer os funcianários. Dissemos que essa aproximação na aldeia Simpatia foi muito perigosa, não pelos índios ashaninka, mas por parte das doenças.
AR – Os índios isolados disseram quantos vivem na aldeia?
Travassos – Eles deram um número aproximado ali no jogo de informações, na confiança de 10 famílias morando na maloca (cerca de 50 índios). Mas, se todo mundo retornar à base vai ser complicado.
AR – O que levou esse grupo a se aproximar tanto das casas dos ashaninka e formalizar o contato?
Travassos – Essa situação é reincidente todos os anos quando os rios Envira, Tarauacá e outros daquela região do Acre secam. Nossa grande preocupação é quando estabelece o contato como ocorreu. Eles, de forma nenhuma, tiveram uma aparição agressiva na aldei ashaninka. E por sua vez, os índios da aldeia Simpatia não tiveram nenhuma reação violenta contra eles. Inclusive ofereceram roupas, utensílios, facilitando esse contato. Agora o que motivou eles a estabelecer o contato? É algo que a gente não consegue obter nos primeiros diálogos porque existe ainda uma situação de querer estabelecer confiança. O trabalho dos intérpretes no momento do contato foi mostrar que aqueles não-índios que moram na casa, que é a base do Xinane, estão ali para protegê-los e apoiá-los. Eles não sabiam disso, não imaginávamos que aquelas pessoas eram aliadas deles.
AR – Eles relataram a violência de não-indígenas por arma de fogo?
Travassos – Nos diálogos que estabelecemos trocamos muitas informações.  Perguntamos quantos grupos de índios isolados vivem na região, se eles conheciam outros não índios. Num certo momento disseram que conheceram outros não-índios, mas que eram pessoas muito malvadas, que atiraram neles e que teriam morrido pessoas. Eles fizeram os barulhos das armas de fogo e gestos das pessoas alvejadas. Disseram que encontraram esse não-índios nas cabeceiras do rio Envira. As cabeceiras do rio Envira ficam dentro do território peruano, então achamos que esse pode ser um fato que possa ter levado eles a se aproximar da aldeia Simpatia e estabelecer o contato, mas eu não apostaria que esse é o fator principal. E nem saber se são madeireiros ou narcotaficentes. Como fazemos parte do governo, nós solicitamos informações ao governo peruano por meio do Itamaraty. Enquanto governo, nós só podemos solicitar essas informações. A gente não pode  entrar no território peruano, não podemos sobrevoar o território,  a gente fica limitado a fronteira seca.
AR – Há quanto tempo aconteceu essa violência? Foi recente, foi anterior ao contato?
Travassos – Perguntamos se foi nesse ciclo do verão, eles falaram que não. Teria passado algum tempo. Mas, acreditamos que tenha sido dois ou três anos atrás. Alguns verão anteriores. O que eles falaram é que foram atos de violência por não índios nas cabeceiras do rio Envira, que não fica no território brasileiro. Essas informações foram repassadas por eles. Isso eu posso afirmar porque é nosso dever pedir informação. É uma situação delicada e cabe a diplomacia brasileira fazer esse diálogo com o governo peruano.
AR – O que esse contato com os índios significa para a estrutura política e econômica da Funai?
Travassos – Nossa perspectiva é de muita preocupação porque é uma situação muito específica, onde você tem que ter uma resposta muito rápida por parte do Estado Brasileiro. São regiões de difícil acesso, com logística cara. Nós estamos com grande difiuldade com recursos financeiros e recursos humanos disponíveis para trabalhar. Então, o contato foi de alguma forma uma ação exitosa, uma série de fatores concluíram para isso, mas estamos esperando por uma situação bem mais crítica, que é uma situação de aproximação massiva desse grupo. De forma nenhuma a gente vai se negar a agir como a gente agiu, ou seja, responder o contato da melhor forma possível. Mas a gente percebe que a situação é crítica e que há necessidade de ter uma resposta do governo brasileiro como todo, do governo federal à altura que situação exige.
AR – O governo liberou recursos para esta ação do contato?
Travassos – Para essa situação nós conseguimos readequar os recursos da Funai. A Sesai buscou disponibilizar uma equipe capacitada. Informamos aos ministérios da Justiça e Saúde a gravidade da situação para que podemos ter um retorno positivo e fazer nosso trabalho da melhor maneira possível.
Nossa preocupação é grande porque pode ser que esse seja o primeiro de vários contatos desses grupos. Há índios isolados no Vale do Javari, no Amazonas. No Maranhão há a situação dos índios Awá-Guajá. Então a gente percebe que o que evitávamos, que era o contato que a gente pensava que ia durar alguns anos, eles podem estar ocorrendo a qualquer momento. Quero reforçar que foi (o contato na aldeia Simpatia) uma situação que por pouco não deu errado. Poderia ter tido um resultado muito ruim na questão da gripe e da disseminação incontrolável de um surto epidêmico, que a gente não tem como atuar. Os índios isolados não têm resistência. Houve uma série de situações favoráveis, as presenças dos intérpretes jaminawá, do Dr. Douglas Rodrigues, do sertanista José Meirelles, o esforço de toda a equipe que deu certo. Poderia não ter dado porque as estruturas que existem precisam ser melhoradas substancialmente se o nosso país não quiser ver uma situação lamentável que seria uma perda de índios isolados por conta de um contato com surto epidêmico
 Fonte: https://ninja.oximity.com/article/Funai-prev%C3%AA-chegada-em-massa-de-1

Índios isolados na região de fronteira do Brasil com o Peru

Blog da Amazônia Exclusivo: Vídeo do 1º contato dos índios isolados com Funai no Acre



Texto de Altino Machado publicado no Blog da Amazônia
Faz um mês nesta terça-feira (29) que um povo indígena isolado estabeleceu o primeiro contato com indígenas da etnia ashaninka e servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai), na Aldeia Simpatia da Terra Indígena Kampa e Isolados do Alto Rio Envira, no Estado do Acre, na região de fronteira do Brasil com o Peru.
Os grupos de índios isolados da região, que entre si se envolvem em conflitos armados, buscam proteção no lado brasileiro porque estão sendo massacrados por narcotraficantes e madeireiros peruanos.
Terra Magazine, em maio de 2008, mostrou ao mundo (veja) as primeiras imagens de um dos grupos de índios isolados que vivem na região, fotografado durante sobrevoo coordenado pelo sertanista José Carlos dos Reis Meirelles Júnior, que chefiava a Frente de Proteção Etnoambiental (FPE) da Funai. Dessa vez, o Blog da Amazônia obteve com exclusividade o vídeo inédito do primeiro contato, fotos e o relatório de campo da equipe da Funai.
Há mais de dois anos a FPE foi invadida por peruanos, os servidores da Funai bateram em retirada e desde então foi abandonada pelo governo brasileiro. O pessoal da FPE acompanhava a aproximação dos índios isolados desde o dia 13 de junho. O sertanista José Carlos Meirelles, que atualmente trabalha na Assessoria Indígena do Governo do Acre, tem participado dos contatos.
O primeiro contato com os índios isolados, sem auxílio de intérprete, foi estabelecido pelo índio Fernando Kampa de forma pacífica. Os ashaninka da Aldeia Simpatia se aproximaram e os isolados gesticulavam pedindo a calça de um servidor da Funai, que se aproximou juntamente com os ashaninka apenas de cueca
- Ao gesticularem pedindo comida, o indígena Fernando Kampa pediu que fossem apanhados dois cachos de banana e os deu aos índios, realizando assim o contato. No momento de entrega das bananas, também apareceu na margem contrária outro índio isolado que havia sido avistado na BAPE Xinane e também uma mulher com um saiote, possivelmente feito de envira, e com uma criança de aproximadamente cinco anos. A mulher entregou um jabuti ao indígena Fernando Kampa como forma de agradecimento ou troca pelas bananas – diz o relatório de campo da equipe da Funai.
Após o primeiro contato, de acordo o relatório, o indígena Fernando Kampa pediu que os ashaninka pegassem suas roupas para dar aos isolados e os chamou para o acompanhar até a aldeia Simpatia. “Mais uma vez não foi possível controlar os avanços dos ashaninka”. Segundo o relatório, as roupas estavam sujas, possivelmente com escarros, doenças sexualmente transmissíveis, que podem ter contaminado os isolados.
O fato é que o grupo de índios isolados contraiu gripe e se deslocou junto com a equipe da Funai para a base da FPE Xinane. O grupo foi convencido a permanecer na aldeia até que fosse encerrado o atendimento médico pela equipe mobilizada pelo geógrafo Carlos Travassos, da Coordenação-geral de Índios Isolados da Funai em Brasília.
Após a conclusão do tratamento, os indígenas retornaram para suas malocas, onde estão os demais integrantes de seu povo. De acordo com informações dos intérpretes que integram a equipe da Funai, os índios pertencem a um subgrupo do tronco linguístico pano.
A equipe da Funai encontrou uma pequena bolsa na qual os índios isolados carregavam cachimbo, camisas, caixa de fósforo peruano, embalagens de sabão peruano, uma carteira do Corinthians enrolada com pedaços de fios coloridos e com um pote contendo um líquido, provavelmente um anticoagulante que é aplicado na ponta das flechas. Havia também cartucho calibre 32, pólvora preta (marca Jacaré), uma espoleta, pacote vazio de sal (marca Caiçara), caucho (sernambi), três lâmpadas incandescentes, parafusos e porcas, que os isolados usam para carregar cartuchos da espingarda. O material foi todo devolvidos aos isolados.
Os índios isolados, que prometeram regressar com familiares no prazo de luas -mais ou menos no começo de setembro-, neste domingo (27) decidiram antecipar. Um grupo de oito isolados se estabeleceu na Aldeia Simpatia, incluindo uma criança.
O índio Zé Correia, da etnia jamináwa, chamado pela Funai como intérprete, contou que os índios isolados preferiram não se identificar porque temem ser alvos de novas correrias (matança organizada de índios) por parte de outros grupos indígenas isolados.
- Mas a situação mais grave envolve os narcotraficantes e madeireiros peruanos. A maioria desse grupo contatado é de jovens. A maioria dos velhos foi massacrada pelos brancos peruanos, que atiram e tocam fogo nas casas dos isolados. Eles disseram que muitos velhos morreram e chegaram enterrar até três pessoas numa cova só. Disseram que morreu tanta gente que não deram conta de enterrar todos e os corpos foram comidos pelos urubus. Nosso povo jamináwa compreende a língua dos isolados e nós vamos acompanhar. O governo brasileiro precisa fazer algo para defender esses povos. Eles disseram que existem outros cinco povos isolados na região e que são grupos bastante numerosos. Apesar das diferenças e dos conflitos que existem entre esses grupos, todos são perseguidos pelos brancos peruanos. Qualquer dia todos esses povos podem procurar o Brasil em busca de proteção. A Frente de Proteção Etnoambiental da Funai precisa de total apoio.  Vai ser impossível se fazer algo apenas com as mãos e as unhas. Não podemos ser cúmplices de genocídios – apelou Correia.
A equipe da da Frente de Proteção Etnoambiental Envira Envira, entre os dias 17 e 30 de junho, produziu um relatório preliminar de campo denominado “Desenvolvimento das atividades Aldeia Simpatia”.  Veja o que foi relatado sobre o que aconteceu na aldeia nos dias 29 e 30 de junho:
29/06/2014 – domingo
Durante todo o dia ocorreu a tradicional caiçumada dos Ashaninka e no final da tarde, por volta das 16:00, o téc. em enfermagem, Francimar Kaxinawa, retornou às pressas de seu banho no rio e informou a equipe da FUNAI (Marcelo Torres) que os isolados estavam gritando no barranco à margem oposta da praia da aldeia Simpatia.
Outras crianças Ashaninka também ouviram e chamaram rapidamente os adultos que estavam na caiçumada. Neste momento, os indígenas Ashaninka seguiram correndo pela praia até chegarem próximos aos isolados, liderados pelo indígena Fernando Kampa. Todos os Ashaninka aparentavam estar bêbados e bastante alterados.
Um dos indígenas da aldeia Simpatia, Gilberto Kampa, havia subido o rio pouco tempo antes para arrancar macaxeira e após ver os isolados ficou ilhado no roçado. Sua esposa veio até a aldeia chorando e pediu para que fossemos busca-lo. Além de Gilberto, estavam com ele 2 de seus filhos com idade entre 3 e 5 anos.
Os isolados gritavam e gesticulavam, onde foi possível ouvir nitidamente a palavra “camisa” e batendo na barriga como quisessem dizer que estavam com fome. No momento da aparição, estava presente apenas o servidor Marcelo Torres da FUNAI e sendo que Meirelles, Artur e Guilherme estavam mais abaixo no rio Envira pescando.
Não foi possível conter os Ashaninka para aproximação com o grupo isolado, que a princípio se apresentou com 4 índios, os mesmos avistados na BAPE Xinane. Seguiam portando 1 espingarda e os demais com arcos e flechas.
Os Kampas se aproximavam mais e os isolados gesticulavam pedindo a calça do servidor Marcelo Torres, que se aproximou juntamente com os Kampa sem a calça, apenas de cueca. Ao gesticularem pedindo comida, o indígena Fernando Kampa pediu que fossem apanhados dois cachos de banana e os deu aos índios, realizando assim o contato.
No momento de entrega das bananas, também apareceu na margem contrária outro índio isolado que havia sido avistado na BAPE Xinane e também 1 mulher com um saiote possivelmente feito de envira e com 1 criança de aproximadamente 5 anos. A mulher entregou um jabuti que foi entregue ao indígena Fernando Kampa como forma de agradecimento ou troca pelas bananas.
Após este contato, o indígena Fernando Kampa pediu que os Ashaninka pegassem suas roupas para dar aos isolados e os chamou para o acompanhar até a aldeia Simpatia, onde mais uma vez não foi possível controlar os avanços dos Ashaninka. As roupas dadas estavam sujas, possivelmente com escarros, DST’s, etc., que podem ter contaminado os isolados.
Na chegando a praia da aldeia Simpatia, também havia acabado de chegar os servidores Artur e Guilherme, juntamente com Meirelles. A equipe tentou conter os isolados e os Kampa que chegaram a ligar o motor do barco da FUNAI para buscar o indígena Gilberto Kampa no roçado, mas foi praticamente impossível até que Fernando Kampa foi contido após ríspida discussão com a equipe da FUNAI.
Chegaram a aldeia apenas 3 dos índios isolados e os demais permaneciam no barranco à margem contrária. O indígena Fernando Kampa pediu para sua esposa trouxesse caiçuma para os isolados e ao chegar na praia, o servidor Marcelo Torres orientou ao médico da equipe de saúde, Neuber, que chutasse a cuia impedindo que a bebida chegasse até os isolados.
Após este momento, os índios começaram a subir para a aldeia e saquear as casas dos Ashaninka que permaneciam passivos, bêbados, sem qualquer espécie de reação. Foi preciso que a equipe da FUNAI intervisse e impedisse que todas as casas fossem saqueadas. Meirelles precisou ser mais ríspido para que um dos isolados deixasse parte do que iria saquear no chão. Quando eram mostradas armas, os isolados se mostravam extremamente nervosos e agitados, gritando “Shara”.
Depois deste momento de saque, a equipe da FUNAI conseguiu conter um pouco os isolados e os acalmar, sendo possível ver os isolados arremedando animais da mata e também cantando. O servidor Guilherme tentou realizar o contato urgente com Brasília e Rio Branco e não obteve resposta.
A equipe seguiu conversando e tentando manter contato com os isolados para acalmá-los, mas em determinado momento, o grupo isolado ouviu um arremedo de nambu azul vindo da mata próxima ao Ig. Simpatia e se agitaram, gesticulando como se tivessem sido flechados.
Com o cair da noite tornou-se ainda mais difícil conter o grupo e novos saques foram realizados nas casas dos Ashaninka. Pouco tempo depois, chega a aldeia Simpatia pela mata o indígena Gilberto Kampa com seus filhos, assustado e informando que haviam outros índios escondidos na região do roçado.
Na tentativa dos servidores de conter os saques, os mesmos eram ameaçados com flechas. A equipe tentou fazer uma fogueira e sentar com os isolados, mas pouco depois o grupo de isolados desceu e saiu correndo pela praia no sentido do barranco onde estavam os demais índios.
Após o contato e a saída dos índios, as equipes da FUNAI e da Saúde realizaram escala de vigília durante a noite em caso de nova investida dos isolados. Durante o período da noite e madrugada, apesar da vigília, os isolados cortaram todas as cordas das ubás e afundaram uma das voadeiras da FUNAI com motor.
30/06/2014 – segunda-feira
Por volta das 7:00, os Ashaninka que tinham descido na praia do simpatia nos informaram que os índios isolados estavam descendo novamente rumo a aldeia, descemos na praia e montamos um esquema para impedir que eles subissem novamente para realizar saques. Uma equipe ficou na frente e outra com espingardas atrás. Orientamos que ninguém ficasse sozinho frente aos isolados, mantendo sempre um numero maior que eles. Eles utilizaram a ubá do Gilberto Kampa (tinha deixado no rocado) para atravessarem o rio.
Atravessaram o rio Envira e deixaram a ubá na praia localizada acima da aldeia. Estavam em 04 pessoas. Eles se deslocaram pelo rio até a praia.
Ao chegarem à praia da aldeia Simpatia já foram logo pedindo coisas, tipo camisas e panelas.  Não foi fornecido. A equipe da FUNAI manteve um dialogo através de gestos calmo e tranquilo. Eles subiram o barranco, mas foram contidos antes de entrarem na aldeia. Qualquer investida era contida mostrando as armas, o que os deixavam bastantes nervosos. Meirelles tinha esse papel de impedir  a entrada deles, quando tentavam entrar na aldeia ele gritava, assoprava e mostrava a arma.
Foi tentado realizar trocas com os isolados, do tipo mostrávamos um terçado e pedíamos uma flecha, mostrávamos artesanatos (eles demonstravam grande interesse) e pedíamos algum ornamento deles, mas nenhuma troca obteve sucesso.
Ao perceberem que não obteriam sucesso nos saques, pediram algo para comer, foi dada banana, macaxeira cozida, coco e carne assada, sendo que só comeram as bananas. Desconfiavam de tudo que dávamos para eles comerem. Eles abriram os cocos, tomaram um pouco da água e deram o restante para a equipe que ficou a frente na contensão.
Num certo momento o servidor Artur fez um cigarro de tabaco e acendeu em frente aos isolados, eles ficaram bem exaltados e pediram o tabaco e o isqueiro. O tabaco foi fornecido, eles pegaram, cheiraram e pediram para que Artur desse o cigarro feito. Artur forneceu o cigarro, eles deram algumas puxadas e guardaram para mais tarde. Artur tentou trocar o isqueiro por uma flecha, mas os isolados não quiseram.
Fernando Kampa apareceu num certo momento tirando algumas fotos bem de perto, ao bobiar por um minuto, estava mostrando o funcionamento do isqueiro, um isolado tirou a câmera do Fernando que estava no bolso e foi embora.
Ao perceberem que não obteriam sucesso nos produtos industrializados resolveram ir embora. O tempo de permanência foi de 1:30 h no barranco da aldeia Simpatia. Ao sair um indígena isolado espirrou, ao entrar no rio o mesmo deu uma tossida.

É necessário amansar os brancos

Ivana Bentes
Documento de cultura, documento de barbárie é a primeira coisa que vem a cabeça vendo os relatos dos indigenistas e agentes que participaram dos contatos com os índios isolados do Acre. A própria forma de percebê-los ganha materialidade nos confrontos com o Estado: avistamentos, vestígios, confrontos armados, mortes dos “isolados”, mortes dos moradores brancos, conflitos com narcotraficantes, etc. O que acontece depois do contato? Muitos vão morrer pela simples proximidade e contágio com as gripes e doenças corriqueiras dos brancos. Como se preparar para o encontro, que estratégias, qual o melhor momento?
É sintomático que os contatos se intensifiquem quando as terras indígenas são comprimidas, pelo desmatamento, pressão de madeireiros, mineradoras, prospecção de petróleo, tráfico de drogas, missionários. Os índios isolados “fazem contato” numa situação critica como disse o antropólogo Terri de Aquino.
Indios ”isolados” de quem? Não somos isolados, bravos, invisíveis, cercados, somos resistentes. Vocês não acham a gente, índio já está ali desde sempre, é como o jabuti na floresta, ninguém acha o jabuti, só encontra quando ele está passando disse o indígena Jaminawá José Correia na sessão emocionante de apresentação das imagens inéditas do contato com os “índios isolados” mostradas pela FUNAI durante 66ª Reunião Anual da SBPC, no Acre. Ele acompanhou os primeiros contatos da FUNAI na Aldeia Simpatia da Terra Indígena Kampa e Isolados do Alto Rio Envira, na região do Acre de fronteira do Brasil com o Peru.
O depoimento continua dizendo: “os indios não são “isolados” são livres e circulam porque não sabem dessas fronteiras que os brancos inventaram, não tem indígena do Peru, do Brasil, da Bolívia, nós somos o mesmo povo. Não queremos ser mandados, queremos ser parceiros da FUNAI para ajudar os parentes isolados.”
No vídeo apresentado vemos as imagens de garotos indígenas muito jovens no primeiro encontro, tenso e com um misto de celebração e desespero dos agentes do encontro: “papa não, não pode! No, no, no! Panela, não! Não, tem doença!"  quando pegam uma muda de roupa. A aproximação pelo oferecimento de comida. O interesse dos indígenas pelos terçados, machados e também gestos de impaciência com as reprimendas e ansiedade dos brancos!
O Estado brasileiro (ou qualquer estado) está preparado? A missão foi exitosa, diz Carlos Travasso, mas as condições precárias da FUNAI, a burocracia, a dificuldade em trabalhar em cooperação entre Brasil, Peru, Bolivia, os desafios da Pan Amazônia se impõem. Numa infinita remediação de um campo e uma situação que precisa de atenção mais do que urgente e que sofre retrocessos constantes. “Só queremos viver” disse um dos indígenas.
Foi uma sessão emocionante e histórica com antropólogos, estudantes, agentes da Funai, e indígenas na SBPC em Rio Branco-Acre. Ouvimos os relatos do antropólogo Txai Terri Aquino, do indígena Jaminawá José Correia, do antropólogo de Porto Maldonado, no Peru, Alfredo Gárcia Altamirano, de Carlos Travasso, da Coordenação-geral de Indios Isolados da Funai e de outros indígenas da região. 
Fonte: https://ninja.oximity.com/article/Blog-Da-Amaz%C3%B4nia-Exclusivo-V-2

terça-feira, 29 de julho de 2014

Candidatos a governador da Bahia vão discutir cultura na Academia de Letras (ALB)

Academia de Letras da Bahia promove encontro para discutir cultura com os candidatos a governador do Estado

Os diversos segmentos comprometidos com a cultura no território baiano estarão no encontro intitulado A Política Cultural no Estado da Bahia, a ser realizado pela Academia de Letras da Bahia, no dia 29 de julho (terça-feira), às 19h, sob a coordenação do poeta e acadêmico Luís Antonio Cajazeira Ramos, com a participação dos candidatos a governador do Estado. O encontro visa criar um espaço de diálogo entre os candidatos ao comando do Governo estadual e os agentes culturais, abrindo a série de debates e de exposições de propostas da campanha eleitoral de 2014.
Fotomontagem
fotomontagem_ALB
Todos os candidatos inscritos no pleito eleitoral foram convidados a participar do encontro na ALB e confirmaram presença: Da Luz (PRTB), Lídice da Mata (PSB), Marcos Mendes (PSOL), Paulo Souto (DEM), Renata Mallet (PSTU) e Rui Costa (PT). As pessoas interessadas em comparecer e acompanhar o debate poderão entrar em contato pelo endereço eletrônico academiadeletrasdabahia@uol.com.br. O programa será gratuito, com acesso mediante credenciamento em número limitado. Haverá serviço de manobrista no local.
O evento dará sequência à série iniciada em 2012 com o encontro dos candidatos a prefeito de Salvador, de grande repercussão no meio cultural e na mídia, lembra o escritor Aramis Ribeiro Costa, presidente da Academia de Letras da Bahia. Em suas palavras, “a iniciativa da realização desse encontro entre os candidatos a governador da Bahia proporciona o diálogo e provoca uma discussão sobre a perspectiva cultural do Estado, além de contribuir para o amadurecimento da democracia e da cidadania em nossa sociedade”.
FORMATO
  1. Os temas a serem abordados foram selecionados por uma comissão de acadêmicos e convidados.
  2. Os candidatos tomaram conhecimento dos temas do encontro antecipadamente.
  3. Os temas serão discutidos pelos candidatos em duas rodadas de pronunciamentos.
  4. Cada candidato terá 5 minutos em cada rodada, prorrogáveis por mais 2 minutos.
  5. A ordem das falas dos candidatos nas duas rodadas será mediante sorteio.
  6. Não haverá debate entre os candidatos nem perguntas diretas da plateia.
REALIZADORES
O encontro é uma iniciativa da Academia de Letras da Bahia, organizado por uma comissão formada pelo escritor Aleilton Fonseca, o escritor Aramis Ribeiro Costa (presidente da ALB), o jornalista e escritor Carlos Ribeiro, a dramaturga Cleise Mendes, a gestora cultural Eliana Pedroso, a professora de letras Evelina Hoisel, o gestor social Geraldo Machado, o educador João Eurico Matta, a coreógrafa e bailarina Lia Robatto, o poeta Luís Antonio Cajazeira Ramos (coordenador dos trabalhos), a poeta e gestora cultural Myriam Fraga, o antropólogo e escritor Ordep Serra, o compositor e maestro Paulo Costa Lima, o arquiteto e urbanista Paulo Ormindo de Azevedo, o cineasta Pola Ribeiro e a produtora cultural Virgínia DaRin.
O evento tem o apoio do Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia e deverá ser transmitido ao vivo pela TVE e, na internet, pela TVE web (www.irdeb.ba.gov.br).
CONTATOS:
(71) 3321-4308 (Academia de Letras da Bahia, à tarde).
Fonte: https://academiadeletrasdabahia.wordpress.com/author/academialetrasba/

domingo, 27 de julho de 2014

CARAVANA VER DE TREM SALVADOR X CURITIBA

9ª CARAVANA VER DE TREM PELO BRASIL
EXCURSÃO AÉREA, RODO FERROVIÁRIA
 SALVADOR  X  CURITIBA  X  MORRETES
 DE 26 A 28 DE SETEMBRO DE 2014
 PROGRAMAÇÃO:
 DIA 26  -  PELA MANHÃ EMBARQUE AEROPORTO EM SALVADOR. À TARDE VISITA À TORRE PANORÂMICA E JARDIM BOTÂNICO. À NOITE JANTAR DE CONFRATERNIZAÇÃO.  
 DIA 27   -     EMBARQUE NO TREM DA SERRA DO MAR ATÉ MORRETES. NOITE LIVRE.
 DIA 28   - EMBARQUE PARA VISITA À ILHA DO MEL. RETORNO A SAVADOR NO NO INÍCIO DA NOITE.
 INCLUI: Passagem aérea, passeio de trem até Morretes, hospedagem, ingresso do museu do olho, barca para Ilha do Mel, ingresso da Torre Panorâmica, visita ao museu Oscar Niemeyer, um jantar de confraternização, um almoço, um boné e uma camiseta.  Valor sujeito a reajuste.
 Mais informações:  71 8767-0941 – 9145-3006 – 3392-2065 - 8122-6297 - 9993-3676   
 Passeio de Trem Curitiba - Serra do Mar - Morretes - Paranaguá
A ferrovia Curitiba - Serra do Mar - Morretes - Paranaguá representa um extraordinário feito da engenharia do século 19, onde sua construção considerada impraticável por inúmeros engenheiros europeus da época começou oficialmente em fevereiro de 1880 e durou cinco anos. Ao longo de seus 110Km o objetivo foi estreitar a relação entre as cidades do litoral paranaense e a capital do estado, com vistas ao desenvolvimento social do litoral. Além disso, era imprescindível ligar o Porto de Paranaguá ao interior, para que se desse vazão à produção de grãos dos estados.
A Ilha do Mel é uma ilha brasileira situada na embocadura da Baia de Paranaguá, no estado do Paraná.
A ilha do Mel é um ponto turístico de muita importancia no estado do Paraná. Muitas pessoas consideram que a ilha tem as melhores praias do estado. A ilha, fazendo parte do município de Paranaguá, é administrada pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e possui um restrito programa de manejo. Não é permitida a tração animal ou a motor na ilha. Existem muitas áreas onde não é permitida a presença de visitantes. A ilha possui quatro pontos turísticos de destaque: Ao norte a Fortaleza, no centro Nova Brasília e o Farol das Conchas e ao Sul Encantadas.
 Torre Panorâmica
A única torre telefônica no Brasil com um deck observatório de turismo que está aberta para visitação. Com 109,5 metros de altura, foi inaugurada em 1991 e é um dos pontos turísticos mais visitados de Curitiba. O observatório tem um deck de 360º de visão.
Horário de funcionamento: Terça a Domingo das 10h às 19h.
 Museu Oscar Niemeyer "Museu do Olho" o Maior da América Latina
O Museu Oscar Niemeyer mais conhecido localmente como Museu do Olho é um dos maiores e mais modernos Museus da América Latina. Foi inaugurado em 2002, quando o prédio principal deixou de ser sede de secretarias do Estado e passou por adaptações onde em sua frente foi instalado o popularmente chamado Olho, um anexo de 30 metros de altura feitos de concreto e vidro que imprimiu uma nova identidade ao complexo.
Fonte: E-mail 

Um câncer abateu o guerreiro e humanista Grosso Tremembé

Comunidades Tremembé de Acaraú/CE

Diálogos entre Antropologia, Extensão Rural e Indigenismo

sábado, 26 de julho de 2014

Adeus a Grosso Tremembé



Os últimos dias foram de tristeza, mas também de alivio para a liderança indígena Manoel Félix do Nascimento, mais conhecido como Grosso Tremembé, que faleceu ontem, sexta-feira, após meses de luta contra um câncer. Após se submeter a várias sessões de quimioterapia, Grosso apresentou alguma melhora, mas nos últimos 15 dias seu quadro se agravou e foi liberado pelos médicos, já que sua situação não apresentava alternativas.
Eleito vereador pelo município de Itarema em 2012, Grosso Tremembé logo se destacou por sua atuação política e pelo carisma, despertando a admiração e o carinho não somente dos Tremembé, mas também da população do município. Em visita a Almofala, durante o período que lutava pela vida, pude constatar pessoalmente manifestações de solidariedade e de preocupação de vários moradores de Almofala. Nos últimos dias, a casa da família foi visitada por centenas de pessoas, desde parentes indígenas, moradores de várias localidades, até políticos locais.
Início do cortejo
Foto: Ronaldo Santiago
Cortejo até o cemitério
Foto: Ronaldo Santiago
Sepultamento
Foto: Ronaldo Santiago
Despedida
Foto: Ronaldo Santiago

Seu sepultamento ocorreu neste sábado, 26/07, no cemitério da comunidade da Varjota, local onde nasceu e viveu durante toda a sua vida. Centenas de pessoas, algumas delas visivelmente emocionadas, acompanharam o cortejo até o cemitério.
Nos solidarizamos com a dor da família, em especial, seu pai, o pajé Luis Caboclo, que com uma força indescritível e com resignação, acompanhou todos os detalhes do sepultamento do filho.
Como uma singela homenagem, transcrevemos abaixo alguns depoimentos de parentes e amigos que expressaram a dor pela perda e manifestaram seu carinho e admiração pelo amigo.

“Esse foi e vai ser sempre um grande homem, guerreiro, prestativo, humano, pessoa super do bem... Você fez historia, primeiro vereador indigena Tremembé, foi com muito esforço que conseguimos essa grande conquista. Com certeza você vai ser sempre lembrado como um grande vencedor! Hoje foi seu ultimo dia conosco em matéria, mas em nossos corações você vai permanecer eternamente”.
Lucinha Tremembé, agente de saúde e liderança Tremembé da Passagem Rasa 

"Amigos,
Com pesar, conformação e esperança, comunico a passagem do nosso amigo professor Manuel Félix do Nascimento, o "Grosso", filho do pajé Luis Caboco, neste dia, às 11h00, em sua casa, na comunidade tremembé de Varjota, Itarema/CE.
Ele foi um brilhante aluno do Curso de Magistério Indígena Tremembé Superior - MITS, destacando-se no estudo e no ensino da Matemática às crianças e jovens indígenas.
Foi presidente do Conselho Tutelar de Itarema e o primeiro vereador indígena da história do Ceará.
Era uma pessoa bem humorada, inteligente, amiga, solidária.
Grosso lutou bravamente contra um câncer. Nunca se entregou à doença, nem se intimidou diante da morte. Um exemplo de luta e solidariedade. Se fez querido unicamente por suas virtudes.
Sua partida, tão precoce, nos deixa um pouco tristes, mas também fortalece em todos nós, amigos do seu Povo, a certeza de que os Tremembé são uma gente guerreira, como eles mesmos dizem: "Nós brandeia, mas não arreia".
Um grande exemplo para todos. Até breve, amigo!"
Everthon Damasceno, militante indigenista

“Vi meu bom amigo ser enterrado na areia, atras de sua casa. No mesmo solo em que nasceu, brincou, cresceu, trabalhou e viveu. Respeitando suas crenças e valores, foi enterrado sem esquife. Sem barreiras entre seu corpo e a terra que o alimentou.
Cavaram fundo a areia, como se pudéssemos enterrar junto com o seu corpo, a dor que a sua ausência impõem.
Grosso Tremembé me ensinou muitas coisas... Me ensinou a ter esperança, mesmo quando tudo diz o contrário.
Me ensinou que o respeito é maior que a aceitação.
Me ensinou que a força não depende do quanto você pode carregar, mas sim do quanto você pode compartilhar.
O pouco é muito.
Alguns consideraram o meu trabalho um esforço, mas acompanhá-lo em seu martírio foi um privilégio...
Agradeço a sua família por me cederem uma rede em sua varanda, sua tapioca e o peixe assado que me alimentaram durante estes quinze dias em que pude viver intensamente a dor e a luta deste nobre amigo.
Obrigado meu irmão.
Obrigado por me mostrar que a nossa força pode ser o que nos fragiliza, mas também é o que nos faz únicos, uns na vida dos outros”.
Rafael Sacramento, médico da equipe de saúde indígena Tremembé

Postado por Ronaldo Santiago Lopes às  17:20 

Fonte primária: www.conexaonet.dihitt.com/
Fonte secundária: Grupo Anaind
 

Fonte