
Moura era conhecido pelo apelido de
“Da Hora”. Nos folders que divulgávamos seu nome compondo o elenco da Dança de São Gonçalo, Dança de Engenho ou da Queima das Palhinhas, Reisados, etc. - aparecia, geralmente, como José da Hora. Ele era o violeiro mais antigo da principal manifestação cultural do
Quilombo Pitanga de Palmares em Simões Filho, ou seja, Dança de São Gonçalo.
Conheço essa comunidade desde 1986 quando o escritor e teatrólogo Nelson de Araújo viera a Simões Filho registrar a Dança de São Gonçalo no primeiro tomo I da sua obra de três tomos, intitulada “Pequenos Mundos - Uma Panorâmica da Cultura Popular na
Bahia".

Salvagurda.
"Da Hora" fará muita falta. Por mais que nos esforçássemos - ele não deixou "herdeiro" para a sua viola e para as notas das loas que tirava junto aos cantos de Seo Alberto, D. Bernadete e D. Máxima, entre os demais cantantes. Essa tem sido a minha particular e maior angústia e sonho: criar oficinas de passagem desses saberes e fazeres para as novas gerações contando com as ensinanças desses guardiões e guardiães ainda vivos e fortes.
Esses corpos da cultura popular que cantam, dançam, rezam, bordam, esculpem, contam histórias - trazem uma ancestralidade que precisa ser valorizada. Trazem um saber que vai esmaecendo ante a velocidade desigual da globalização. Esses corpos precisam do abraço de outros corpos que os fortaleçam na passagem de novos ritos para que as novas gerações reinventem o seu ser e estar sem serem engolidos, estigmatizados, invisibilizados ou confinados no tempo e espaço de uma contemporaneidade impiedosa com as flores mais singelas da cultura humana.
Os processos de salvaguarda precisam sair do dis(curso) e se colocar no curso diário da vida desses guardiões e guardiães de saberes e fazeres que estão pelos brasis afora.
Loas da Hora
No ponteado da viola
Evém José Moura
Lá vai José da Hora
A graça da sua viola doura
As loas
Que boas
louvam por Gonçalo
e por Nossa Senhora
Em vivas e revivas Gonçalim
Nosso beato de toda hora
Que cuidou de mim
Que cuidará de você agora
Entrando pelos céus
Amém
e cuidará dos seus
E de você também
Adeus, adeus
Amém, amém...
Para conhecer mais sobre a Dança de São Gonçalo e sobre o Quilombo:
http://ademarioar.blogspot.com.br/2010/09/danca-de-sao-goncalo-no-quilombo.html
Foto 1: "Da Hora". Foto 2: "Da Hora" e sua esposa Máxima. Créditos: Ademario Ribeiro. Foto 3. Crédito: Enviada por Binho do Quilombo.
Binho do Quilombo me escreveu por e-mail a seguinte mensagem: "Olá amigo Ademario, realmente ele não deixou herdeiro de sua viola mas mim ensinou a prática de tocar viola. Acompanhei ele muito tempo quando estava doente. Confessei muito com ele a onde ele parecia estar mim passando seu conhecimento além disso ainda existe Seo Nilo que também é um aluno dele.
ResponderExcluirIsso Binho! Te vi criança ainda entre os mais velhos das tradições daí e sei que vc se lembra de tudo isso. Precisamos dar continuidade e com maior empenho, maior urgência e maior arco de parceiros para os projetos de salvaguarda daqueles que trazem a história e cultura da "Velha Pitanga" na oralidade! Os guardiões e guardiães desses saberes e fazeres estão "cufando" no dizer banto.
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