sábado, 26 de maio de 2012

ADEUS A JOÃO QUE NOS AMOU

ADEUS A JOÃO ANATÓLIO QUE NOS AMOU E AMOU SIMÕES FILHO

Ir a velórios e enterros, emitir certas palavras, etc. -, sempre mexem com minha ótica, lógica ou compreensão de nossos processos por essa vida. Essa, a terrena. Contudo, mesmo com muita indignidade por causa dos inconvenientes que algumas pessoas fazem passar os familiares daquela pessoa falecida, sou "impelido" por algo maior que isso - e, a muitos esforços, enfim chego a esse tempo e espaço que sua descrição ou dissertação são só tentativas de explicar o que está além das palavras...

Ontem, 25 de maio foi noticiada a morte de João Anatólio. Dia seguinte às 11h00 a saída do féretro ao Cemitério São Miguel. Muitos foram a Igreja Monte Sinai, Rua 1º de Janeiro, centro de Simões Filho. Ao irmos ao encontro como o corpo de João Anatólio ou com o João Anatólio encontramos muita gente. Quem estava lá? Não desejo falar em nomes – como também não vou fazer correção de palavras, termos aqui. Aqui quem fala é a emoção, portanto – a razão fica reservada para outros momentos.

Foram se “encontrar” com João Anatólio: Artistas do teatro, da poesia, da música, dança, das artes plásticas. Professores e educadores. Políticos de todos os partidos. Fiéis das mais diversas igrejas. Os que foram dar um “adeus final” em sua diversidade apontavam para quem “foi” João Anatólio: encontro com a diversidade. Ele em vida era próximo a todos. Era gesto largo, coração aberto, riso franco para todos. Antenado nas mais diversas áreas, particularmente contribuiu muito com ações e eventos voltados à história local, cultura, política, educação... Era um humanista e bastante humorado e tinha uma voz – misto de veludo forjado a coragem e proximidade com o nordestinês. Tudo lhe era muito recíproco. Ele queria estar envolvido com tudo o que pulsasse uma vida melhor para todos os que viviam nesse município.
João foi mote para muita gente, foi espelho, foi modelo. Eu creio assim.

Fui largamente acolhido pela juventude cultural de Simões Filho e o João Anatólio me recebia com aquele gesto largo, coração aberto, riso franco todas as vezes que nos encontrávamos nas praças, na estação ferroviária, nas igrejas, nos eventos de cultura, arte e ou de política – nos momentos de elaborarmos abaixo-assinados, reconstrução da Capela de São Miguel para vir a ser o Pavilhão do Fogo Simbólico, a volta do Trem de Passageiros com sua linha desativada em 1986, lutas pela preservação de áreas como o Eucaliptos, Santa Luzia do Buraco, Tanque do Coronel, Rio Joanes e Ipitanga. E ainda, pelos movimentos de arte e cultura: com ênfase para os de teatro, poesia, música, quadrilha, dança...

Esses eventos aconteceram entre as décadas de 70 e 80.  Nos anos 90 já vivenciávamos afastamentos nesses grupos que tentavam contra certa hegemonia política. Alguns saíram da cidade, rumaram-se para universidades, migraram para uma “carreira” profissional, enfim, essas preocupações foram se esvaziando ou sendo uma ação solitária de alguns que não tiveram a mesma solidariedade de antes. Na década seguinte, -, soubemos que o nosso João Anatólio teria se mudado para São Paulo... Um breque no tempo e espaço.Um baque no coração. E agora? Quem discute, pensa a cidade? Cadê os tantos amigos, amigas daquele tempo e espaço em que João era uma pessoa de gesto largo, coração aberto, riso franco para todos?

- Cadê João? Por onde anda? O que faz? Quando retorna à terrinha para levarmos um papo, um lero? – Perguntava eu a alguns amigos em comum.

Ontem novamente: Um breque no tempo e espaço.Um baque no coração. João Anatólio passou para o “andar de cima”. E daí sou tomado por aquele sentimento (ótica) expressada acima: o que dizer no velório?Conversei com algumas pessoas. Na verdade, com todas aquelas que fizeram parte daqueles anos/eventos. O que disse a essas pessoas? - Porque deixamos as pessoas saírem assim? Quem ligou para ele ou se deu conta desse desligamento? Como é que se desliga das pessoas só porque essa ou aquela se mudou? Por que não nos juntamos antes e só agora? Creio que João Anatólio nos faz um chamamento à ternura e ao (re)encontro.

Nós temos nos visitado, trocado idéias, anseios, dores, prazeres, encaminhamentos, conquistas...??? Carecemos de ternura. De encontros. Embora estejam soltando “bombas” em nossas vidas -, devemos voltar às praças. Quanto mais deixarmos de fazer o que fazíamos mais “bombas” nos dispersarão. E, hoje, mesmo sem sua presença física João Anatólio nos reuniu e nos diz isso. Se você crê nisso já tem uma semente de revolução e de ternura em seu ser. Se não crê como eu nessa utopia, pelo menos tem a ternura que João tinha e que todos nós que viemos nesse “adeus final” temos. Então, com a ternura já teremos muita chance contra as “bombas!”. Eu creio no poder do Amor.

Então, nos amemos como o João Anatólio nos amou.

Que agora a dimensão em que João está lhe seja leve e larga !

6 comentários:

  1. Caríssimo Ademário,

    Os meus sentimentos pela saída de João, que embora tenha lhes/nos deixado mais pobres, foi cuidadoso o bastante em deixar porta aberta para através dela nos encotrarmos e continuar a caminhada.
    Eu sei muito bem a dor desse corte.

    Abraços.

    Leu

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Leu, camaradinha muito estimada, grato pelo abraço - essa ponte terapêutica que nos põe na estrada, de novo, de porta aberta. João agora não tem mais uma porta e sim a dimensão cósmica!

    Vi agora o blog d'0cêis: Nós do Teatro. Tá ficando lindo. Recomenda ao pessoal para postar mais a respeito da circulação do espetáculo: "Os Donos da Vida e da Morte". Precisamos saber e ver mais as belezuras que produzem por ai!

    Beijo a tod@s por e grato mais uma vez pela honra da sua passadinha por aqui!

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    1. Acabei de visitar o seu blog e aqui me deparei com as suas considerações sobre "um certo" João. Claro que não o conheci, mas a sua emoção ficou tão evidente que me lembrei de uma música do Belchior: Pequeno Perfil de um Cidadão Comum, não que com isso eu esteja menosprezando o seu amigo João, longe disso, é que essa música sempre me trouxe uma emoção muito grande. E o que ele (o Belchior) chama de cidadão comum somos todos nós vivendo a nossa vidinha cotidiana, sentindo, sofrendo, amando e brilhando (por quê não?) cada um ao seu modo. Eu tenho uma mente meio delirante de vez em quando (só de vez em quando, viu, rsrsrsrsrs) e vejo relação em coisas que aparentemente não teriam na a ver. Como você é poeta, o que por si só, já o enquadra no grupo dos sonhadores e delirantes por excelência, espero que entenda.

      Pequeno Perfil de Um Cidadão Comum

      Era um cidadão comum como esses que se vê na rua
      Falava de negócios, ria, via show de mulher nua
      Vivia o dia e não o sol, a noite e não a lua
      Acordava sempre cedo (era um passarinho urbano)
      Embarcava no metrô, o nosso metropolitano...
      Era um homem de bons modos:
      "Com licença; - Foi engano"
      Era feito aquela gente honesta, boa e comovida
      Que caminha para a morte pensando em vencer na vida
      Era feito aquela gente honesta, boa e comovida
      Que tem no fim da tarde a sensação
      Da missão cumprida
      Acreditava em Deus e em outras coisas invisíveis
      Dizia sempre sim aos seus senhores infalíveis
      Pois é; tendo dinheiro não há coisas impossíveis
      Mas o anjo do Senhor (de quem nos fala o Livro Santo)
      Desceu do céu pra uma cerveja, junto dele, no seu canto
      E a morte o carregou, feito um pacote, no seu manto
      Que a terra lhe seja leve

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  4. Vete, querida, é uma honra e alegria ter a sua visita por aqui. Só uma alma de poeta poderia vislumbra tão perfeita relação entre João, nós e a música "Pequeno Perfil de um Cidadão Comum", do Belchior. Essa música era quase um hino em nossos encontros!

    Felizmente ouvíamos outras obras que contextualizaram nossas vidas entre aquelas décadas na s vozes cantadas por Caetano, Gil, Ednardo, Milton, Beto e demais do Clube da Esquina, Vicente Barreto e Alceu Valença, Zé Ramalho, Elba e Amelinha... Sem querer aqui dar um "breque" e mudar de assunto, vivo a me perguntar que em meio a tanta gente que continua a canta e compor obras brilhantes em nosso país - o que é que estão produzindo de "música" e muita gente ainda compra, toca, ouve e gama, mora?! hehehehehe

    Beijos!!!

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  5. Oi, Ademário!!!

    Adorei seu texto sobre JOÃO!!! Ele realmente era essa figura que você descreve. Foi, sim, responsável por muitos movimentos e muitas "cabeças feitas" de jovens dessa cidade, como eu.

    JOÃO foi e sempre será uma figura para todos nós que tivemos o prazer de com ele conviver.

    Um beijo!!!

    Muriel Kilma

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