Por José Dilson - euclidesdacunha.com
em 02/04/2013 05:12:02, lido 888 vezes.

Lázaro liderou a luta do povo Kiriri para retomar as terras indígenas ocupadas pelos brancos e, como todas as lutas travadas pela posse da terra causa sentimento e dor, com o povo Kiriri de Mirandela não foi diferente.
De estatura mediana, porém, inteligente e bravo lutador, o cacique Lázaro ganhou notoriedade ao defender com muita determinação aqueles que acreditaram na sua capacidade de negociação com as autoridades responsáveis, a permanência dos indígenas em terras de onde jamais deveriam ter sido praticamente expulsos.

Em meio a tantas visitas de amigos que foram levar o seu abraço e parabenizá-lo pelo seu dia feliz, um cafezinho foi servido e alguns fatos importantes foram relatados sobre a história Kiriri, especialmente aqueles que marcaram a retomada das terras indígenas.

“Adão era mudo, pacífico, bom companheiro. A triste notícia apressou o meu retorno à Mirandela e só aumentou a minha vontade de não desistir jamais de lutar pela reconquista da terra para o meu povo. Não posso mais ficar batendo de porta em porta, de conversa em conversa. Agora, temos que agir com força.” Disse.
Sobre a visita do cantor Carlinhos Brown à aldeia, Lázaro falou bem e disse ter sido muito importante para o fortalecimento da luta do povo kiriri. “Carlinhos Brown é um artista de renome internacional e o seu apoio à causa Kiriri chegou na hora certa e trouxe consigo a televisão, que foi muito importante para nós”.

Na praça, à sombra de uma amendoeira, a banda de pífanos tocava músicas indígenas e até sucessos populares. O desafio entre pífanos, tambores, caixas e taró era constante e muito bacana, especialmente para quem gosta da cultura popular.
Entre os músicos estavam jovens que assumiam o instrumento quando o músico mais velho parava de tocar para descansar um pouco, ou quando a vontade de pitar um fuminho no cachimbo de madeira de angico, grande ou pequeno produzido artesanalmente na própria aldeia, era mais forte, assim como todo e qualquer viciado em tabagismo. Aliás, vício muito comum entre os indígenas.

Nas barraquinhas de artesanato, produtos da cultura indígena: arco e flecha, colares e pulseiras confeccionados com sementes, brincos com pena de aves silvestres, panelas, frigideiras e potes de barro ou cerâmica; além de iguarias derivadas da mandioca: sequilho, biscoito, beiju, etc., produzidos sob orientação da Companhia de Ações Regional (CAR) órgão do Governo do Estado da Bahia, por meio do Programa Terra de Valor, que atua na aldeia.
À tarde, de acordo com a vasta programação cultural contida na 2ª FCK (Feira de Cultura Kiriri), com duração de dois dias (20 e 21), o cacique reuniu lideranças indígenas, convidados e palestrou sobre a Cultura e Idioma Kiriri.

Em sua fala, o cacique fez um breve relato da luta do povo Kiriri que há três séculos habita o lugar e após 43 anos de luta finalmente o governo reconheceu a legitimidade da posse da terra e determinou a desocupação da área, sem, contudo, deixar de pagar indenização justa aos “invasores”, muitos dos quais souberam aplicar bem os valores recebidos e até melhoraram de vida.
“Posso dizer que a relação entre índios e ex-posseiros é muito boa e não parece que tivemos atritos que geraram mortes”, disse.
Lázaro condenou o trabalho escravo e a exploração do trabalho infantil; Lei 601 de
amparo ao índio e citou três classes de pessoas, para ele, infelizes: “a que sabe e não ensina; a que não sabe e não pergunta; a que não sabe ensinar”.

Sábio, simples, quem o vê sem camisa o tempo todo circulando pela aldeia não acredita que aquele homem de estatura mediana e pele tostada pelo sol inclemente é uma liderança respeitada pelo seu povo, pelas autoridades, artistas, especialmente àqueles ligados às causas populares e indígenas.
Em defesa da cultura indígena Kiriri, um grupo de jovens estudantes do Ensino Médio liderados por José do Carmo de França, que conta com o apoio da professora Mônica, filha do cacique Lázaro, desenvolve pesquisa baseada na Tradição Oral que potencializa a memória Kiriri de Mirandela.

Além de incentivar o aprofundamento da pesquisa e potencializar a memória da cultura indígena kiriri, o ilustre professor Plínio estimulou o grupo a desenvolver ações pela instalação da ‘Casa do Índio’ em Euclides da Cunha, para que os indígenas ao concluírem o Ensino Médio possam ter um local de hospedagem ao ingressarem para o Ensino Superior.

Além de as autoridades representativas de órgãos governamentais: Funai, Funasa, Instituto Mauá, CAR, entre outras, a presença da prefeita Patrícia e comitiva de Banzaê, foi registrada.
Nos dois dias de festa aconteceram várias atividades culturais e esportivas, café da manhã e almoço para os presentes, finalizando as atividades do dia 20 com apresentação dos Cantos e Toré, em homenagem ao aniversariante do dia.
Fonte: http://www.euclidesdacunha.com/noticias/cacique-lazaro-kiriri-faz-aniversario-e-recebe-ami/289#.U0Lq5aItqZQ
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