quarta-feira, 27 de junho de 2012

Dércio Marques: amou de tal maneira...

MANO DÉRCIO MARQUES amou a Vida de tal maneira que nos fez mais sensíveis e cantantes, esperançosos(as) e amantes dela! Sua voz, seus versos, sua lira, seu carisma, seu testemunho de fé -, enluarado, amoroso com as pessoas, verbenas, jojobas, sapos, duendes, elfos, sertões, cantorias, grilos, caiporas, curupiras, latinoamericanidade: profunda sintonia com os fios da Teia da Vida!

Agorinha, minha caríssima amiga Leu, do Grupo Garra e da Fundação das Artes de São Gabriel -, por onde Dércio tantas vezes fora ali passou participar de cantorias -, foi quem me deu a "notícia" de que Dércio "encantou" nessa terça-feira (26 de junho), partindo de vez para ser uma estrela, um rio, um ramo, uma flor, um aroma... nas dimensões celestes!

O mundo ficou mais pobre, pobre, pobre. Muita gente, o mundo inteiro - precisavam conhecê-lo - embora com sua obra essencial, brilhante, muito, muito, muito acima das mercadorias musicais que tanto atraem as midiocridades, os investimentos perversos na cultura e os empresários inescrupulosos que por certo muito dificultaram e ainda dificultam apoio e acesso a obras com as de tantos artistas da dignidade e magnitude do Dércio Marques.
Sobretudo, quando, por aqui nos lembrarmos dele e cantá-lo com certeza esse mundo volta a fulorar, a fulejar, rio abaixo, rio acima - repletos dos elementos e elementais que tanto ele cantou e com eles conversou nas beiras de rio, nas beiras das estradas, nas noites, nos dias e madrugadas.

Lembro-me sempre, quando eu e Solange Damasceno o acompanhamos numa visita a sítio no coração de uma mata e pelas estradas íamos pelo noite adentro com um andar silencioso para que Dércio fosse gravando os sapos, grilos e outros entes daquele lugar e para depois cantarem junto com ele em suas músicais geniais!!!

Ouça a música Natureza Oculta de Milton Edilberto na voz desse menestrel máximo:


Eh, Dércio, mano Dércio, viva, viva, viva agora os espaços inauditos, as glórias dos céus! Voe, voe, voe pássaro-hermano-kybyra-malungo! O mundo aqui continuará precisando de ti. Então, manda de vez em quando um raio, um ramo, um verso, um acorde - pois, você plantou sementes e muito amor entre nós. Nos tornamos pessoas melhores, mais humanas, mais felizes quando tocados pela tua beleza sem par! Por ti e para ti escrevi tantos poemas, tantas músicas e ainda outras tantas escreverei...
Estrelas, rios, passaros, folhas, frutas, flores: segredos revelados pelo Amor de Dércio Marques.

Abaixo, as fotos que Leu Rocha, nossa amiga em comum, gentilmente nos enviou por e-mail:






Veja então as notícias abaixo...

O violeiro, cantor e compositor mineiro Dércio Marques morreu na noite de terça-feira (26), em Salvador, por insuficiência renal, devido a complicações de um câncer no pâncreas. O cantor estava internado há três semanas no Hospital Ana Nery, onde se recuperava da operação de retirada do pâncreas, vesícula e baço.

Segundo Sônia Machado, secretária do músico, Dércio Marques começou a dar sinais da doença em dezembro do ano passado, mas só no início do ano foi diagnosticado com câncer. O corpo do compositor está sendo velado no cemitério Jardim da Saudade e será cremado na quinta-feira (28). A família ainda vai decidir se suas cinzas serão jogadas em um rio ou no mar, duas paixões do músico.
Dércio Marques alternava sua residência entre sua cidade natal, Uberaba, no Triângulo Mineiro, e Salvador. Ele deixa uma companheira e quatro filhos.

















Durante a carreira, o artista buscou retratar a música raiz brasileira. Pesquisador das tradições da terra, Dércio Marques percorreu o Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, para buscar cantigas que retratassem a cultura popular. Dessas andanças pelo vale, ele lançou o CD Fulejo.

Jornal A Tarde, 28 de junho de 2012.

4 comentários:

  1. Que pena! Perdemos um poeta dono de lindas canções de alma mineirana... Que continue poetizando por lá!
    Sandra

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  2. Estimada Sandra, que terno é tê-la mais uma vez aqui -, inda mais quando estamos experimentando esse conturbado momento da perda do nosso mano Dércio, pessoa, poeta e menestrel no mais alto significado destas palavras!

    Gratidão!

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  3. Caríssimo Ademario,
    Muito teria a dizer se soubesse cantar, chorar, sorrir, brincar e lutar simultaneamente como fez o nosso Dércio. No entanto o meu jeito "de comun" não é disfarce e assim do auto da normalidade canto, choro,rio, brinco e luto sem preocupação com cortinas, palcos, chuva, sol, pedra, pau, ipês floridos ou dormência, São Gabriel, Minas, Mundo e etc e, junto-me te nesse momento de sangria pela amputação de um pedaço de nós que parte par alegar os céus e os santos.

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  4. Leu Rocha escreveu:

    "Meu caríssimo Ademario,
    Cheguei a pouco em casa e ao invés de dormir depois do banho, procurei ficar o mais perto de ti o máximo que pudesse. Mas ao "entrar" no seu blog, conformei o que já esperava e dei de cara com texto que escreveras sobre Dércio e também estava lá de presente "Natureza Oculta" que é a minha preferida. No momento os grilos do meu quintal fizeram o oposto: pararam de cantar, talvez, para ouví-lo, enquanto eu chorava. Até a cadela que uivava se pôs em silêncio.

    Como eu não sei escrever bonito como fazes então, procurei umas fotos que tiramos no ano passado, quando da participação dele na XXI Cantoria. Parece mentira que não poderemos mais tê-lo aqui cantando com as nossas crianças. Mas, fazer o que... senão agradecê-lo pela magnitude de sua obra, que como ele, será eterna.

    Seguem algumas fotos:

    1ª ele iniciava o show;
    2ª cantava o “Colar de Carolina” a pedido meu para uma amiga que estava internada no Hospital Stª Izabel;
    3ª eu ele e José Eurípedes (a tiara e o colar foram feitos pela amiga mencionada, especialmente para eu os usassem nesse show);
    4ª ele e Sosô, depois do show.

    Um grande abraço,
    Boa noite meu querido!

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