quarta-feira, 8 de junho de 2011

Oscar da yby ao ybaka & Kasutemi do aiyé ao òrùn

























Raimundo Kasutemi, era malungo de tod@s e muito em particular daqueles (as) que fossem das bandas da cultura popular, que fossem das bandas das matrizes africanas, das bandas das questões ambientais -, aí, Raimundo era só braços abertos. Ele era diretor do Bloco Kankoma, sediado em Lauro de Freitas - RM de Salvador. Era Taata do Terreiro São Jorge Filhos da Goméia, neto de Mãe Mirinha de Portão.


Eu e Raimundo nos encontramos em muitas lutas dentro e fora do nosso Estado em favor das essências acima citadas. Conversamos muito sobre os povos indígenas - tão irmãos e ou amalungados com os povos de Mama África no Brasil invadido, saqueado e revirado a ferro, fogo, cruz e arcabuz e abusos...


Agora no início de março, ele levantou vôo do aiyé e foi para o òrùn. Como ele tinha noção do relativismo cultural, e, juntos intentávamos as conexeções entre índio(a)s e negro(a)s, digo da yby ao ybaka -, respectivamente, Yorubá e Tupi.

Lembro-me que falávamos muito sobre a nossa ONG ARUANÃ e do nosso Quilombo de Pitanga de Palmares e das várais manifestações culturais desse povo, destacando a foeça da Dança de São Gonçalo. Ele, Katusemi, destacava as tradições de sua comunidade do Candomblé em Portão e do seu Grupo Cultural, o Bloco Bankoma. Ele gostava muito do poema nosso Bubuia que foi musicado por Gil Assis e cantamos juntos algumas vezes. Alguns dos versos:

(...) Negro e índio se amaram
de cocares, meias-luas, enfeitados
Luas cheias e de prata
Índio e negro, enfeitiçados
(cúmplices) na Luta e Fé, se misturaram (...)


Comentei sempre sobre o axé de Kasusemi e sua extrema importância por sua participação/cumplicidade em que Luta e Fé nos misturamos, mas, que sabemos estar, também em Unidade e Diversidade. A última vez que estivemos juntos foi quando o bsuquei para visitar e entrevistar seu povo e lideranças acerca da Renovação do Comitê de Bacias Hidrográficas, quando também, conheci e passei a ser amigo e admirador de outro companheiro das lutas pela cultura, arte, questões ambientais e AmerÍndia. Ele, em fevereiro deste ano passou a ser também uma estrela: Oscar Baccino Charrúa. Oscar montou com esforços próprios a primeira "Casa de Marina" na Bahia.

Enfim, companheiros, Raimundo Kasutemi e Oscar Charrúa, na dimensão de onde estão, sabemos -, vocês continuam vivos na eternidade e enviando à Terra (Yby ou Aiyé) os fluídos para nos ajudar na travessia!
Curiosidade: desde os anos 70 que creio nesta utopia: negros e índios/índios e negros em lutas que se igualam ou que se retroalimentam, daí, eu e Kasutemi nso encontramos. Ora, Ele e Oscar se encontraram. Eu não tive tempo para planejar este texto e nem tampouco "finalizar" assim. Então é assim -, o que não é um fim.



Fontes das fotos: (1: Oscar) - Google imagem. 2: Kasutemi - Google imagem.

6 comentários:

  1. Mano Ademrio: comungo da sua tristeza, da sua poética cheia de vida, apesar do luto; pois atravez da sua poesia, mesmo sem ter conhecido o Oscar e o Raimundo sinto que eles estão pulsando em "Bubuia". Ah, meu irmão. As vezes viver é tão perigso...! Ainda bem que Ñanderu está sempre por perto acolhendo os nosso momentos. Bjos,
    Graça, graúna, grão...

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  2. Ôi GG, mana sempre atinada na tessitura da essencialidade, eles se foram mas deixaram semeaduras que servirão às presentes e futuras gerações! Viver É mesmo muito perigoso, mas, a sintonia com com os irmãos da sintonia e comunhaão com Ñanderu que tem outros nomes -, cantamos: " A gente vai levando... a gente vai levando... essa...".

    Beijos!!!

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  3. Caro Ademario, eu também gostava muito dele, nos encontramos diversas vezes em momentos de construções coletivas onde sua bravura foi marcante.

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  4. Ademário, a tua sensibilidade é tocante, és capaz de nos apresentar em meio a poética e uma espécie de choro ritual, estas pessoas que se esforçaram para fazer o melhor, longe dos holofotes, sem o apoio necessário ao cumprimento das metas a que se propunham, mas que certamente construíram um legado, que se comprova em tuas palavras. És também um malungo.

    Seguir em frente.
    Altair Ramos

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  5. Pois é malungo meu,
    Esses dois cabras do Bem
    animaram as lutas
    e que não fiquem no breu
    na Memória de quem vem
    nas realidades abruptas...

    Tá perigoso viver o Brasil de agora
    com tantas aves de rapina no poder
    rasgando vidas na lida camponesa
    arrastando jovens ao extermínio afora
    massacrando a cultura, a natureza
    e fazendo Raoni perder a fé
    em quem devia nos proteger!...

    Amigo, que venhamos a parir outra possibilidade!!!

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  6. Prezado (a) Amigo (a)

    Todos sabem a dor que neste momento estamos vivendo, pois Tata Kasutemi mais conhecido como Raimundo do Bankoma, dedicou à sua vida apontando vários caminhos para que a sua comunidade alcançasse condições básicas para a sua própria sobrevivência. Foi um guerreiro astuto e um grande estrategista na arte da busca incansável da oportunidade. Idealizador incondicional das formas convencionais em defesa das lutas e batalhas frente à bandeira social em prol da nossa necessidade humana, expressada na vontade de ser gente reconhecida pelos nossos direitos. A voz de Tata Kasutemi ecoa a todo canto, emanada na certeza de uma contínua caminhada. Hoje, nossos Muxima (corações) choram pela ausência física. Choram pela falta dessa alegria contagiante que soava em momentos felizes vividos por seu povo. Choram também porque foste um herói, e a morte de um herói deve ser chorada sim, ainda mais quando esse herói escolheu viver por amor e morrer em prol dele. E é por esse comprometimento que reconhecemos os sentimentos dos amigos ao expressar a sua dor juntamente com a família do Terreiro São Jorge Filho da Goméia e Família Bankoma pela perda lastimável deste baluarte da cultura negra bantu. E mais, é por esse sentimento é que nos manteremos coesos e firmes na certeza de dar continuidade a sua filosofia de vida, a sua visão de interpretação da vida cosmológica, dos embates contra a intolerância religiosa, das injustiças socioculturais e tantas outras impertinências atribuídas à comunidade tradicional. Enfim, agradecemos a todos e todas pela palavra amiga e de conforto neste momento de profunda tristeza que passa o povo de Tata Kasutemi ou Raimundo do Bankoma. Porém esse sentimento nos fortalece e nos edifica na certeza dessa caminhada que Kasutemi apenas iniciou. Os Ngomas do Terreiro São Jorge Filho da Goméia e os Tambores do Bloco Afro Bankoma rufam com um canto de paz reverenciando a chegada deste ilustre MESTRE ao plano espiritual que só os iluminados conseguem alcançar.
    Muito Obrigada a todos e todas e a luta continua!

    Eis as idealizações edificadas e/ou fortalecidas por Tata Kasutemi

    Terreiro São Jorge Filho da Goméia
    Associação São Jorge Filho da Goméia
    Bloco Afro Bankoma
    Ponto de Cultura Bankoma
    Museu Comunitário Mãe Mirinha de Portão
    Biblioteca Comunitária Mãe Mirinha de Portão (em implantação)
    Kula Tecelagem - Núcleo de referência do Pano da Costa (em implantação)

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