RELATO DOS ATOS DE APOIO AO POVO TUPINAMBÁ E XIII CAMINHADA TUPINAMBÁ - SETEMBRO / 2013
&
AGRADECIMENTOS AOS QUE PARTICIPARAM E TENHAM CERTEZA: COM NOSSOS ENCANTADOS E ANCESTRAIS SOMOS FORTES E NÃO TEMOS O QUE TEMER
“É Tupã no céu
Índio na Terra
Bora vê quem pode mais”
OBS: não é nenhum evento e sim um relato e agradecimento. Esta foi a forma mais rápida de fazer isto. Portanto, não existe nenhum evento no dia 31/10/2013
Ouvindo e acompanhando pelos espaços virtuais nestes últimos dias as palavras e imagens dos Parentes e daqueles que participaram dos Atos de Apoio ao Povo Tupinambá, bem como da XIII Caminhada Tupinambá, dialogando com algumas das pessoas que mais diretamente participaram da organização, resolvi escrever o relato a seguir na terceira pessoa. Não tenho a pretensão de ser porta voz, mas possuo neste momento o desejo de partilhar coletivamente palavras e ações que ouvi durante e após o evento, especialmente de alguns de seus organizadores: Katu, Nicolau, Gel, Del, Binho, Gigi, Roberta, Jaborandy, Fátima, Bakurau, Atã, Jules e outros tantos que somaram nesta trajetória.
... Somos Todos Índios Marcelinos ...
Somente agora encontramos forças espirituais para tentar descrever as vigorosas manifestações de Apoio ao Povo Tupinambá que ocorreram entre os dias 24 – 29 de setembro de 2013 aqui no Território Indígena de Olivença. Desde já deixamos nosso mais profundo reconhecimento aos que participaram pela coragem da presença num momento tão difícil, cuja suposta prudência fez alguns não comparecerem.
Sabemos que muitos não puderam comparecer por vários motivos: para estes deixamos nosso desejo no sentido de que tais barreiras sejam superadas e que venham entre os dias 23 – 28 de setembro de 2014. Todas e todos serão muito bem recebidos porque suas energias são fundamentais para nosso espírito e corpo.
Deixamos também uma reflexão aos que ficaram com receio: estamos protegidos pelos encantados e por isto cantamos “... é Tupã no céu e os Índios na terra; bora vê quem pode mais”. Superem os receios e venham em 2014 à este Território Sagrado manifestar seu apoio e participar da troca de saberes. Tenho certeza que saíram daqui também fortalecidos.
Aos que torceram para que o encontro não ocorresse e/ou são contrários à nossa luta, cantamos na sua ausência: “quebra a cabaça espalha a semente; corta a língua e arranca os dentes de quem fala mal da gente”.
Os Atos de Apoio ao Povo Tupinambá foram realizados sem nenhuma ajuda governamental a não ser a utilização dos ônibus e espaço da Escola Estadual Indígena Tupinambá de Olivença - EEITO. Portanto, como já vem ocorrendo, um evento auto gestionário em todos seus sentidos, desde sua preparação. Moradia e comida foram por nossa conta e/ou realizadas a preços que podemos considera-los justos. Vale frisarmos: o evento é totalmente gratuito.
A forma como é organizado o evento demonstra uma atitude indígena de buscar autonomia em nossas vidas, pensamentos e ações: sem Estado e empresas privadas. Somos índios e precisamos viver do que produzimos de forma autônoma e autodeterminada. Acreditamos que a luta pelo Território passou e ainda passa pela autodeterminação e autonomia. Assim, cada vez mais este encontro ganha alma indígena em sua organização, formato e realização.
As barreiras foram muitas, como quase sempre acontece. Neste ano era para acontecer a V Trajetória/Seminário Índio Caboclo Marcelino. Porém, precisamos adiar a V Trajetória/Seminário em decorrência da violência causada pelos ruralistas, elite, mídia local e, acima de tudo, pela demora proposital do governo federal e de sua justiça de demarca imediatamente o Território Indígena Tupinambá. Caso a Trajetória/Seminário ocorresse pairava ameaça de nos criminalizarem. Estrategicamente mudamos a V Trajetória/Seminário Índio Caboclo Marcelino para Atos de Apoio ao Povo Tupinambá, tornando o evento mais direto em seu objetivo neste momento de luta. Ao fazermos isto percebemos também que não precisamos do "apoio" de instituições universitárias e órgãos de fomento a pesquisa. Em 2012 a Trajetória/Seminário Índio Caboclo Marcelino foi retomado pela Comunidade Indígena e agora, em 2013, percebemos que não precisamos de instituições a não se que as mesma desejem realmente contribuir. Como dizem: "é nos momentos difíceis que conhecemos nos amigos".
Fizemos arrecadação entre nós e os participantes (este sim nossos verdadeiros aliados) no sentido de confeccionar cartazes, banner, xerox, alugar carro, gasolina, faixas, etc. As refeições durante o evento só foram possíveis com o apoio da Comunidade Indígena, da Escola Indígena Tupinambá de Olivença-EEITO e da Thydêwá. Agradecemos a todas e todos, especialmente aquelas que com grande carinho e dedicação fizeram as refeições sempre saborosas.
Na preparação do evento, ao convidarmos órgãos e entidades, fomos barrados em algumas das portarias e até mesmo interrogados quando chamávamos algumas das autoridades a participarem: Ministério Público Federal, Procuradoria Federal, Procuradoria Estadual, IBAMA, FUNAI, SESAI, OAB, Justiça Federal, Policia Federal, Força de Segurança Nacional, Secretaria Estadual da Educação - Direc, Secretaria Municipal (Ilhéus) do Meio Ambiente, Secretaria Estadual do Meio Ambiente, Sindicatos. O desejo da presença destes organismos era o de cobrar atitude em relação à violência contra os Tupinambá e em relação a demarcação do seu Território Indígena.
Destes órgãos somente a Força de Segurança Nacional compareceu (fortemente armada, fotografando, filmando). No primeiro dia (25/09) quando oferecemos almoço para alguns deles, atendendo pedido de uma das Anciãs, a resposta foi curta e grosseira, oferecendo o tom da presença deles: “não queremos comer com vocês”. As demais autoridades não compareceram e nem justificaram a ausência. Isto não nos causou nenhum espanto porque este desrespeito vem ocorrendo em todos os anos que organizamos nossos eventos. Aparentemente não querem nos ouvir e nem serem ouvidos. Mesmo assim continuaremos cantando:
“senhor(a) presidente
devolva nossas terras
oh, devolva nossas terras
porque estamos em pé de guerra
nela mataram e ensanguentaram
os nossos pobres parentes”
O evento, sem as autoridades, em seu primeiro dia (25/09/13) no Centro Cultural de Olivença ocorreu com a participação e fala da comunidade local através dos Anciãs/Anciões (Dona Nivalda, Seu Amaral e Domingão), Caciques/Representantes, Lideranças, Juventude (fizeram uso da palavra, cantaram e recitaram poesia: Cacique Abá Porang, Vice-Cacique Curupati, Jacarandá representando Cacique Nani, Jaborandy, Del, Nicolau, Bruno, Laís, Juninho, Katu, Casé Angatu entre outros), Curumins, Cunhatãs, Professores/Alunos/ Direção
da EEITO, Parentes de outros Povos (Fernando Pankararu, Bu’ú Tukano,
Joel Pataxó, Marlene Pataxó, Maria Muniz Pataxó, Pataxó Hã Hã Hãe) e
participantes não indígenas (estudantes da UESC como Gabriel e Marcolino
- foram poucos mais importantes, Prof. Jules - além de Casé, foi o
único professor da UESC presente, Bruno e Laila do Projeto Tupi Vivo,
Elisabeth do Reúne Ilhéus, representante do Coletivo de Mulheres da UESC
e da ADUSC).
Destaque para a presença das Professoras, acompanhada por seus filhos, vindas de São Paulo (Roberta, Cristina, Isadora, Cleide, Bruno, Liz, Clarissa, Geise, Lia e Rosa). Aqui vale um reconhecimento a Roberta Villa por sua espiritual capacidade de nos apoiar e buscar apoiadores por outras terras.
Aliás, importante também destacar que ao lado da presença das Anciãs/Anciões a presença das mulheres foi fundamental. Lembro da fala de Joel Pataxó ao reconhecer que foi sua taty (esposa), Marlene Pataxó, quem tomou a decisão de virem ao evento e caminhada.
Cunhãs, Cunhatãs e Sy
Gwarinis Atãs
demonstraram sua coragem,
num momento de grande luta
para o Povo Tupinambá
não recuaram,
tornaram os Apoios
Atos marcados
pelo espírito de Jacy
Uma outra marca, em grande parte por causa da grande presença das Cunhãs e Cunhatãs, foi a força espiritual dos rituais (Porancy) realizados todos os dias no início e fim do evento. Os rituais foram fortes e comoventes em espiritualidade.
No segundo dia (26/09/13) as atividades foram na Escola Estadual Indígena Tupinambá de Olivença - EEITO. Aliás, fica nosso realce a participação dos estudantes, professores, funcionários e direção da EEITO, apesar da ausência de alguns. Novamente (e desejamos que sempre) as Anciãs/Anciões, Lideranças e Juventude Tupinambá e de outros Povos, acima citados, nos orientaram com suas falas. Ouvimos incialmente o “Cordel para os Anciões” feito pelo Cordelista Tupinambá Roquelino.
A TV Santa Cruz, filiada a Rede Globo, tentou nos gravar e ouviu um sonoro e argumentado: NÃO. Não: porque aquela TV nos trata como supostos índios e invasores. Não: porque somos guerreiros e nossas armas são outras. Não: porque somos todos Índios Caboclos Marcelinos orgulhosos, geniosos e espiritualmente guerreiros. Um dos componentes da equipe tentou até nos seduzir no sentido de conseguirmos uma entrevista com um de nossos Caciques. Dissemos mais um “não e quando nossos Caciques desejarem uma entrevista ... eles quem irão chamar”. Porém, sem querer a dita TV nos proporcionou reflexões sobre os meios de comunicação e nossa relação com os mesmo. Aliás, nossa independência em relação a esta mídia porta voz das elites já existe: o evento possui cobertura da Rádio Tupinambá (Jaborandy) e da Oca Digital, além disso existe a rede social e sites que divulgam nossa luta de forma independente.
Neste dia exibimos e ouvimos a produção de indígenas e não indígenas sobre os Tupinambá: documentário “Tupinambá Digital” (realizado pelos jovens, Lemuel Santos, Gessiane Santos, Maria Rita, Wilker Santana e Laís Eduarda); documentário sobre Índio Caboclo Marcelino (realizado por alunos da EEITO e Projeto PIBID-UESC-História-EEITO) ;
Projeto Tupi Vivo (apresentado por Jaborandy, Bruno e Laila). No
primeiro dia exibimos também “Festa da Puxada do Mastro” e “Somos
Tupinambá”. Ocorreu ainda a participação da A.A.T.R. (Associação de
Advogados dos Trabalhadores Rurais) falando sobre sua atuação e
envolvimento com a luta indígena (presença de Duda, Bia e,
posteriormente, Mauricio). Por fim, lembramos dos nossos artesãos e
apresentaram sua arte: Bakurau Tupinambá, Marlene Pataxó, Gel Tupinambá.
Vale observar que neste segundo dia (26/09/13), supostamente, seria mais “perigoso” porque ocorreu na Escola Indígena que fica próxima a áreas de retomada. Porém, a Força de Segurança Nacional não nos acompanhou. Perguntamos: será que foram no primeiro dia somente para nos filmar e fotografar? Seja como for já possuímos nossa proteção que são os encantados e força de nossas ancestrais. Finalizamos o dia aprovando um manifesto de apoio (segue cópia) assinado por nossos apoiadores. Tanto o ritual inicial como de encerramento foram mais intensos ainda ... os encantados chegaram várias vezes e fortaleceram nosso corpo e alma.
No dia 27/09/13 fomos entregar o manifesto pela imediata demarcação do Território Indígena Tupinambá assinado pelos participantes não indígenas ao Ministério Público Federal-MPF e Justiça Federal. Somou força a participação dos apoiadores participantes do evento a Associação dos Advogados dos Trabalhadores Rurais – AATR. Tanto na porta do MPF como da Justiça Federal realizamos rituais para tentar “desamarrar a corrente” que impede a demarcação territorial já.
No dia 28/09/13 visitamos a Aldeia Gwarini Taba Atã. Os participantes viram as Okas, a Natureza Tupinambá, como vive parte da Comunidade Indígena local em sua relação com o meio ambiente e luta pela demarcação. Muitas conversas, encontros e reencontros. Em nossa caminhada tenho certeza que os encantados nos acompanhavam. Novamente fechamos a atividade com ritual para nos preparamos para a Caminhada de domingo.
O domingo chegou (29/09) com toda energia. Iniciamos com o Porancy enfrente à Igreja de Nossa Senhora da Escada. Logo de início percebia-se que a caminhada seria forte porque assim foi o ritual. A caminhada começou pegada, cantada e espiritualizada. A presença ostensiva da Força de Segurança Nacional destoava das nossas energias. Quem nos protegia, como sempre, eram nossos encantados e ancestrais. Caminhamos, cantamos, rameamos e chegamos ao Cururupe para lembrarmos e saudarmos os heróis massacrados nos séculos XVI pela coroa portuguesa e Caboclo Marcelino – uma de nossas referencias de luta. A caminhada terminou como começou: com um ritual forte espiritualmente.
Finalizo este relato agradecendo a Todas e Todos que participaram dos Atos de Apoio ao Povo Tupinambá. Nesta ocasião todos foram verdadeiros Abas e Cunhatãs Gwarini Atãs.
Desejamos o retorno de vocês em 2014 para participarem da V Trajetória/Seminário Índios Caboclo Marcelino e XIV Caminhada Tupinambá entre os dias 23 – 28 de setembro de 2013. Queremos também a vinda daqueles que não puderam participar neste ano.
VENHAM NOS VISITAR QUANDO DESEJAREM E DIVULGUEM O MANIFESTO DE APOIO A SEGUIR RESULTANTE DOS ATOS DE APOIO:
http:// www.indiosonline.net/ manifesto-de-apoio-ao-povo- tupinamba-resultante-dos-a tos-de-apoio-realizado-ent re-25-29-de-setembro-de-20 13/
- PELA IMEDIATA OFICIALIZAÇÃO DA DEMARCAÇÃO DO TERRITÓRIO INDÍGENA TUPINAMBÁ DE OLIVENÇA PELO GOVERNO E JUSTIÇA FEDREAL
- PELO FIM DAS INJUSTAS “REINTEGRAÇÕES” (INVASÕES) DE POSSE
- PELO FIM DA VIOLÊNCIA, PERSEGUIÇÃO, CRIMINALIZAÇÃO DO POVO TUPINAMBÁ
- PELA NÃO APROVAÇÃO DA PEC 215
- PELA REVOGAÇÃO DA PLP 227
- PELA REVOGAÇÃO DA PORTARIA 303 DA AGU
- PELO NÃO SUCATEAMENTO DA FUNAI E ALTERAÇÃO DO PROCESSO DE DEMARCAÇÃO
- PELA DEMARCAÇÃO DE TODOS TERRITÓRIOS INDÍGENAS E GARANTIAS AOS TERRITÓRIOS JÁ DEMARCADOS
“AMA MBA’É TABA AMA / SUPY ATÃ TUPÃ / AMA MBA’É TABA AMA / AMAÉ TUPÃ PIAIN NDÊTÃ / AMA MBA’É TABA AMA / AMA PAUI BETÃ / AMA MBA’É TABA AMA / TABA TUPINAMBÁ”
SOMOS TODOS ÍNDIOS MARCELINOS
AWERE!
&
AGRADECIMENTOS AOS QUE PARTICIPARAM E TENHAM CERTEZA: COM NOSSOS ENCANTADOS E ANCESTRAIS SOMOS FORTES E NÃO TEMOS O QUE TEMER
“É Tupã no céu
Índio na Terra
Bora vê quem pode mais”
OBS: não é nenhum evento e sim um relato e agradecimento. Esta foi a forma mais rápida de fazer isto. Portanto, não existe nenhum evento no dia 31/10/2013
Ouvindo e acompanhando pelos espaços virtuais nestes últimos dias as palavras e imagens dos Parentes e daqueles que participaram dos Atos de Apoio ao Povo Tupinambá, bem como da XIII Caminhada Tupinambá, dialogando com algumas das pessoas que mais diretamente participaram da organização, resolvi escrever o relato a seguir na terceira pessoa. Não tenho a pretensão de ser porta voz, mas possuo neste momento o desejo de partilhar coletivamente palavras e ações que ouvi durante e após o evento, especialmente de alguns de seus organizadores: Katu, Nicolau, Gel, Del, Binho, Gigi, Roberta, Jaborandy, Fátima, Bakurau, Atã, Jules e outros tantos que somaram nesta trajetória.
... Somos Todos Índios Marcelinos ...
Somente agora encontramos forças espirituais para tentar descrever as vigorosas manifestações de Apoio ao Povo Tupinambá que ocorreram entre os dias 24 – 29 de setembro de 2013 aqui no Território Indígena de Olivença. Desde já deixamos nosso mais profundo reconhecimento aos que participaram pela coragem da presença num momento tão difícil, cuja suposta prudência fez alguns não comparecerem.
Sabemos que muitos não puderam comparecer por vários motivos: para estes deixamos nosso desejo no sentido de que tais barreiras sejam superadas e que venham entre os dias 23 – 28 de setembro de 2014. Todas e todos serão muito bem recebidos porque suas energias são fundamentais para nosso espírito e corpo.
Deixamos também uma reflexão aos que ficaram com receio: estamos protegidos pelos encantados e por isto cantamos “... é Tupã no céu e os Índios na terra; bora vê quem pode mais”. Superem os receios e venham em 2014 à este Território Sagrado manifestar seu apoio e participar da troca de saberes. Tenho certeza que saíram daqui também fortalecidos.
Aos que torceram para que o encontro não ocorresse e/ou são contrários à nossa luta, cantamos na sua ausência: “quebra a cabaça espalha a semente; corta a língua e arranca os dentes de quem fala mal da gente”.
Os Atos de Apoio ao Povo Tupinambá foram realizados sem nenhuma ajuda governamental a não ser a utilização dos ônibus e espaço da Escola Estadual Indígena Tupinambá de Olivença - EEITO. Portanto, como já vem ocorrendo, um evento auto gestionário em todos seus sentidos, desde sua preparação. Moradia e comida foram por nossa conta e/ou realizadas a preços que podemos considera-los justos. Vale frisarmos: o evento é totalmente gratuito.
A forma como é organizado o evento demonstra uma atitude indígena de buscar autonomia em nossas vidas, pensamentos e ações: sem Estado e empresas privadas. Somos índios e precisamos viver do que produzimos de forma autônoma e autodeterminada. Acreditamos que a luta pelo Território passou e ainda passa pela autodeterminação e autonomia. Assim, cada vez mais este encontro ganha alma indígena em sua organização, formato e realização.
As barreiras foram muitas, como quase sempre acontece. Neste ano era para acontecer a V Trajetória/Seminário Índio Caboclo Marcelino. Porém, precisamos adiar a V Trajetória/Seminário em decorrência da violência causada pelos ruralistas, elite, mídia local e, acima de tudo, pela demora proposital do governo federal e de sua justiça de demarca imediatamente o Território Indígena Tupinambá. Caso a Trajetória/Seminário ocorresse pairava ameaça de nos criminalizarem. Estrategicamente mudamos a V Trajetória/Seminário Índio Caboclo Marcelino para Atos de Apoio ao Povo Tupinambá, tornando o evento mais direto em seu objetivo neste momento de luta. Ao fazermos isto percebemos também que não precisamos do "apoio" de instituições universitárias e órgãos de fomento a pesquisa. Em 2012 a Trajetória/Seminário Índio Caboclo Marcelino foi retomado pela Comunidade Indígena e agora, em 2013, percebemos que não precisamos de instituições a não se que as mesma desejem realmente contribuir. Como dizem: "é nos momentos difíceis que conhecemos nos amigos".
Fizemos arrecadação entre nós e os participantes (este sim nossos verdadeiros aliados) no sentido de confeccionar cartazes, banner, xerox, alugar carro, gasolina, faixas, etc. As refeições durante o evento só foram possíveis com o apoio da Comunidade Indígena, da Escola Indígena Tupinambá de Olivença-EEITO e da Thydêwá. Agradecemos a todas e todos, especialmente aquelas que com grande carinho e dedicação fizeram as refeições sempre saborosas.
Na preparação do evento, ao convidarmos órgãos e entidades, fomos barrados em algumas das portarias e até mesmo interrogados quando chamávamos algumas das autoridades a participarem: Ministério Público Federal, Procuradoria Federal, Procuradoria Estadual, IBAMA, FUNAI, SESAI, OAB, Justiça Federal, Policia Federal, Força de Segurança Nacional, Secretaria Estadual da Educação - Direc, Secretaria Municipal (Ilhéus) do Meio Ambiente, Secretaria Estadual do Meio Ambiente, Sindicatos. O desejo da presença destes organismos era o de cobrar atitude em relação à violência contra os Tupinambá e em relação a demarcação do seu Território Indígena.
Destes órgãos somente a Força de Segurança Nacional compareceu (fortemente armada, fotografando, filmando). No primeiro dia (25/09) quando oferecemos almoço para alguns deles, atendendo pedido de uma das Anciãs, a resposta foi curta e grosseira, oferecendo o tom da presença deles: “não queremos comer com vocês”. As demais autoridades não compareceram e nem justificaram a ausência. Isto não nos causou nenhum espanto porque este desrespeito vem ocorrendo em todos os anos que organizamos nossos eventos. Aparentemente não querem nos ouvir e nem serem ouvidos. Mesmo assim continuaremos cantando:
“senhor(a) presidente
devolva nossas terras
oh, devolva nossas terras
porque estamos em pé de guerra
nela mataram e ensanguentaram
os nossos pobres parentes”
O evento, sem as autoridades, em seu primeiro dia (25/09/13) no Centro Cultural de Olivença ocorreu com a participação e fala da comunidade local através dos Anciãs/Anciões (Dona Nivalda, Seu Amaral e Domingão), Caciques/Representantes, Lideranças, Juventude (fizeram uso da palavra, cantaram e recitaram poesia: Cacique Abá Porang, Vice-Cacique Curupati, Jacarandá representando Cacique Nani, Jaborandy, Del, Nicolau, Bruno, Laís, Juninho, Katu, Casé Angatu entre outros), Curumins, Cunhatãs, Professores/Alunos/
Destaque para a presença das Professoras, acompanhada por seus filhos, vindas de São Paulo (Roberta, Cristina, Isadora, Cleide, Bruno, Liz, Clarissa, Geise, Lia e Rosa). Aqui vale um reconhecimento a Roberta Villa por sua espiritual capacidade de nos apoiar e buscar apoiadores por outras terras.
Aliás, importante também destacar que ao lado da presença das Anciãs/Anciões a presença das mulheres foi fundamental. Lembro da fala de Joel Pataxó ao reconhecer que foi sua taty (esposa), Marlene Pataxó, quem tomou a decisão de virem ao evento e caminhada.
Cunhãs, Cunhatãs e Sy
Gwarinis Atãs
demonstraram sua coragem,
num momento de grande luta
para o Povo Tupinambá
não recuaram,
tornaram os Apoios
Atos marcados
pelo espírito de Jacy
Uma outra marca, em grande parte por causa da grande presença das Cunhãs e Cunhatãs, foi a força espiritual dos rituais (Porancy) realizados todos os dias no início e fim do evento. Os rituais foram fortes e comoventes em espiritualidade.
No segundo dia (26/09/13) as atividades foram na Escola Estadual Indígena Tupinambá de Olivença - EEITO. Aliás, fica nosso realce a participação dos estudantes, professores, funcionários e direção da EEITO, apesar da ausência de alguns. Novamente (e desejamos que sempre) as Anciãs/Anciões, Lideranças e Juventude Tupinambá e de outros Povos, acima citados, nos orientaram com suas falas. Ouvimos incialmente o “Cordel para os Anciões” feito pelo Cordelista Tupinambá Roquelino.
A TV Santa Cruz, filiada a Rede Globo, tentou nos gravar e ouviu um sonoro e argumentado: NÃO. Não: porque aquela TV nos trata como supostos índios e invasores. Não: porque somos guerreiros e nossas armas são outras. Não: porque somos todos Índios Caboclos Marcelinos orgulhosos, geniosos e espiritualmente guerreiros. Um dos componentes da equipe tentou até nos seduzir no sentido de conseguirmos uma entrevista com um de nossos Caciques. Dissemos mais um “não e quando nossos Caciques desejarem uma entrevista ... eles quem irão chamar”. Porém, sem querer a dita TV nos proporcionou reflexões sobre os meios de comunicação e nossa relação com os mesmo. Aliás, nossa independência em relação a esta mídia porta voz das elites já existe: o evento possui cobertura da Rádio Tupinambá (Jaborandy) e da Oca Digital, além disso existe a rede social e sites que divulgam nossa luta de forma independente.
Neste dia exibimos e ouvimos a produção de indígenas e não indígenas sobre os Tupinambá: documentário “Tupinambá Digital” (realizado pelos jovens, Lemuel Santos, Gessiane Santos, Maria Rita, Wilker Santana e Laís Eduarda); documentário sobre Índio Caboclo Marcelino (realizado por alunos da EEITO e Projeto PIBID-UESC-História-EEITO)
Vale observar que neste segundo dia (26/09/13), supostamente, seria mais “perigoso” porque ocorreu na Escola Indígena que fica próxima a áreas de retomada. Porém, a Força de Segurança Nacional não nos acompanhou. Perguntamos: será que foram no primeiro dia somente para nos filmar e fotografar? Seja como for já possuímos nossa proteção que são os encantados e força de nossas ancestrais. Finalizamos o dia aprovando um manifesto de apoio (segue cópia) assinado por nossos apoiadores. Tanto o ritual inicial como de encerramento foram mais intensos ainda ... os encantados chegaram várias vezes e fortaleceram nosso corpo e alma.
No dia 27/09/13 fomos entregar o manifesto pela imediata demarcação do Território Indígena Tupinambá assinado pelos participantes não indígenas ao Ministério Público Federal-MPF e Justiça Federal. Somou força a participação dos apoiadores participantes do evento a Associação dos Advogados dos Trabalhadores Rurais – AATR. Tanto na porta do MPF como da Justiça Federal realizamos rituais para tentar “desamarrar a corrente” que impede a demarcação territorial já.
No dia 28/09/13 visitamos a Aldeia Gwarini Taba Atã. Os participantes viram as Okas, a Natureza Tupinambá, como vive parte da Comunidade Indígena local em sua relação com o meio ambiente e luta pela demarcação. Muitas conversas, encontros e reencontros. Em nossa caminhada tenho certeza que os encantados nos acompanhavam. Novamente fechamos a atividade com ritual para nos preparamos para a Caminhada de domingo.
O domingo chegou (29/09) com toda energia. Iniciamos com o Porancy enfrente à Igreja de Nossa Senhora da Escada. Logo de início percebia-se que a caminhada seria forte porque assim foi o ritual. A caminhada começou pegada, cantada e espiritualizada. A presença ostensiva da Força de Segurança Nacional destoava das nossas energias. Quem nos protegia, como sempre, eram nossos encantados e ancestrais. Caminhamos, cantamos, rameamos e chegamos ao Cururupe para lembrarmos e saudarmos os heróis massacrados nos séculos XVI pela coroa portuguesa e Caboclo Marcelino – uma de nossas referencias de luta. A caminhada terminou como começou: com um ritual forte espiritualmente.
Finalizo este relato agradecendo a Todas e Todos que participaram dos Atos de Apoio ao Povo Tupinambá. Nesta ocasião todos foram verdadeiros Abas e Cunhatãs Gwarini Atãs.
Desejamos o retorno de vocês em 2014 para participarem da V Trajetória/Seminário Índios Caboclo Marcelino e XIV Caminhada Tupinambá entre os dias 23 – 28 de setembro de 2013. Queremos também a vinda daqueles que não puderam participar neste ano.
VENHAM NOS VISITAR QUANDO DESEJAREM E DIVULGUEM O MANIFESTO DE APOIO A SEGUIR RESULTANTE DOS ATOS DE APOIO:
http://
- PELA IMEDIATA OFICIALIZAÇÃO DA DEMARCAÇÃO DO TERRITÓRIO INDÍGENA TUPINAMBÁ DE OLIVENÇA PELO GOVERNO E JUSTIÇA FEDREAL
- PELO FIM DAS INJUSTAS “REINTEGRAÇÕES” (INVASÕES) DE POSSE
- PELO FIM DA VIOLÊNCIA, PERSEGUIÇÃO, CRIMINALIZAÇÃO DO POVO TUPINAMBÁ
- PELA NÃO APROVAÇÃO DA PEC 215
- PELA REVOGAÇÃO DA PLP 227
- PELA REVOGAÇÃO DA PORTARIA 303 DA AGU
- PELO NÃO SUCATEAMENTO DA FUNAI E ALTERAÇÃO DO PROCESSO DE DEMARCAÇÃO
- PELA DEMARCAÇÃO DE TODOS TERRITÓRIOS INDÍGENAS E GARANTIAS AOS TERRITÓRIOS JÁ DEMARCADOS
“AMA MBA’É TABA AMA / SUPY ATÃ TUPÃ / AMA MBA’É TABA AMA / AMAÉ TUPÃ PIAIN NDÊTÃ / AMA MBA’É TABA AMA / AMA PAUI BETÃ / AMA MBA’É TABA AMA / TABA TUPINAMBÁ”
SOMOS TODOS ÍNDIOS MARCELINOS
AWERE!
Relato de Libertad Volant Casé Angatu, via Facebook, acessado às 21h24 do dia 07.10.2013.
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