terça-feira, 15 de outubro de 2013

Feliz Dia dos que Lutam Educando - Feliz Dia dos que Educam Lutando

FELIZ DIA DOS QUE LUTAM EDUCANDO
FELIZ DIA DOS QUE EDUCAM LUTANDO

Por Casé Angatu

Bem... falam que hoje (15/10/2013) é o dia do professor. Meus educadores familiares eram e continuam sendo meus pais e parentes: quase todos não dominavam/dominam a escrita e a leitura formais. Sy Cida e Ubi Artur não sabiam escrever e nem ler na linguagem oficial. Aliás, não ligavam muito para estas coisas...eu também.

Vou contar um segredo...fica entre nós: foi um custo eu desejar estudar estes tais conhecimentos. Não gostava e nem queria: ainda criança fui colocado numa sala especial por causa de minha rejeição, timidez e dificuldade de falar da forma que queriam. Acho que também por causa da minha origem indígena, nordestina (Tupy) e caipira (Guarany).

Acabei gostando de ser especial e só interessei em estudar quando (consciente e/ou inconscientemente) percebi que poderia ser uma forma de ganhar a vida (maldito trabalho, "mas quem é pobre tem que se virar") e mudar o mundo (bendita luta, "mas quem é pobre tem que lutar"). Até hoje, muitas vezes, eu mesmo me questiono sobre a validade de vários destes conhecimentos que "ensinaram".

Entretanto, Sy Cida e Ubi Artur, bem como meus parentes, possuiam muita sabedoria assim como muitos que conheci ao longo desta vida e onde aqui hoje moro (Território Indígena de Olivença-Ilhéus/Bahia)

A grande maioria dos meus educadores (anciãs, anciões, cunhãs, abas, cunhatãs e curumins), incluindo os de hoje, não dominam estas linguagens formais. Bijupirá (Del Tupinambá) que parece na foto aqui comigo é um destes educadores sem a escrita e leitura formal. Isto sem falar dos encantados e ancestrais que educam em outros planos. Porém, todos eles, entre os quais alguns poucos educadores na escola e universidades onde me formei, ensinaram a lutar pela vida, contra as injustiça, por direitos, respeito à diferença e pela liberdade - eis algumas das minhas orientações.

Assim, a melhor mensagem para este que dizem ser professor (tenho até título de doutor, apesar de preferir o de guerreiro - Aba Gwarini Atã) é compartilhar a nossa luta pelo Território Indígena e por direitos. A primeira vez que entrei para lecionar foi em 1988 e diziam para eu "me conformar que as coisas são assim mesmo". Já se passaram quase 25 anos tentando ser educador e nesta lição (a de "me conforma") foi reprovado porque não me conformei. Aliás, não me esforcei nenhum pouco para aprender esta e outras tantas "lições".

Ensinar sem tentar modificar as injustiças ... é ensinar para o conformismo. Tornem suas salas de aulas e espaços em lugares de transformação. Esta é minha homenagem a muitos que me educaram e/ou foram supostamente meus alunos. Eles me educaram assim.

Compartilhem a nossa luta e de outros tantos lutadores divulgando as informações que passamos neste espaço.

Saudações aos vários educadores da vida, formados ou não nas escolas e universidades.

Tenham certeza que precisamos de vocês na luta por um mundo melhor.

AWÊRÊ! Educadores que lutam.

AWÊRÊ! Lutadores que educam.
Fonte: Via Facebook do Libertad Volant Casé Angatu

2 comentários:

  1. .
    Katuara, Ademario.

    Uma das coisas boas deste ano (2013) foi ter conhecido você e sua linda família. Uma alegria foi visitar sua casa. Uma verdadeira oka de afetividade e cultura. Sua família e a forma como nos trataram fazem parte de boas memórias. Sua generosidade intelectual e cultura é grande por isto são sabedorias que você adquiriu e dividi conosco.

    Quando desejar visitar Olivença...minha casa (oka) e nossa casa (oka). Venha quando desejar. Agende também para entre os dias 23 - 28 de setembro vir para nosso Seminário/Trajetória Índios Caboclo Marcelino.

    Sua presença virá com saberes e energias positivas que você emana. Que os encantados iluminem seus caminhos e de sua família.

    Grato por publicar meu pequeno texto em seu blog – espaço de reflexões e ações

    Awêrê, meu Parente e Irmão de espírito!

    Casé Angatu

    ResponderExcluir
  2. Estimado Libertad Volant Casé Angatu, Casé Angatu, ené pixuna!
    Tua alma sempre fala por vocês, pelos Encantados, pelos Ancestrais e por nós! Tem sido uma alegria e uma honra a tua presença em nossas vidas.

    Beije a educadora e poeta Roberta Villa por nós!

    A nossa oka aqui está sem portas para vocês e quanto ao Seminário/Trajetória Índios Caboclo Marcelino - meu coração deseja. Vamos agendar!

    Na língua ancestral do meu povo Payayá:
    Bure'du po'o! “Muito obrigado!”.

    ResponderExcluir