segunda-feira, 7 de abril de 2014

Cacique Lázaro Kiriri faz aniversário e recebe amigos

Ao completar 73 anos de idade, 43 dos quais dedicados à defesa do povo Kiriri do aldeamento de Mirandela, situado no Município de Banzaê, o cacique Lázaro Gonzaga de Souza viveu mais um dia especial, com a visita de muitos amigos e autoridades dos mais diversos órgãos governamentais que foram à aldeia de Mirandela parabenizá-lo pela data natalícia.

Lázaro liderou a luta do povo Kiriri para retomar as terras indígenas ocupadas pelos brancos e, como todas as lutas travadas pela posse da terra causa sentimento e dor, com o povo Kiriri de Mirandela não foi diferente.

De estatura mediana, porém, inteligente e bravo lutador, o cacique Lázaro ganhou notoriedade ao defender com muita determinação aqueles que acreditaram na sua capacidade de negociação com as autoridades responsáveis, a permanência dos indígenas em terras de onde jamais deveriam ter sido praticamente expulsos.

Com muita simplicidade, o cacique, em companhia do pajé José Miguel da França e o conselheiro e artesão da aldeia Genival receberam em sua residência os repórteres José Dilson Pinheiro e Jaciel Correia, que na companhia do professor e pesquisador José Plínio de Oliveira - que tem relação de amizade com o cacique, o pajé e conselheiros Kiriris, estava de retorno à aldeia em um momento muito especial.

Em meio a tantas visitas de amigos que foram levar o seu abraço e parabenizá-lo pelo seu dia feliz, um cafezinho foi servido e alguns fatos importantes foram relatados sobre a história Kiriri, especialmente aqueles que marcaram a retomada das terras indígenas.

Um momento emocionante narrado pelo cacique diz respeito a uma visita que fazia ao Ministério da Justiça em Brasília, onde seria recebido em audiência, quando recebeu a informação de que o índio Adão havia sido assassinado.

“Adão era mudo, pacífico, bom companheiro. A triste notícia apressou o meu retorno à Mirandela e só aumentou a minha vontade de não desistir jamais de lutar pela reconquista da terra para o meu povo. Não posso mais ficar batendo de porta em porta, de conversa em conversa. Agora, temos que agir com força.” Disse.

Sobre a visita do cantor Carlinhos Brown à aldeia, Lázaro falou bem e disse ter sido muito importante para o fortalecimento da luta do povo kiriri. “Carlinhos Brown é um artista de renome internacional e o seu apoio à causa Kiriri chegou na hora certa e trouxe consigo a televisão, que foi muito importante para nós”.

Enquanto a conversa rolava na sala da casa muito simples, a esposa do cacique e outras pessoas da comunidade cuidavam do almoço a ser servido igualmente aos indígenas, convidados e não convidados. Estes recebiam um convite assinado na hora pelo próprio cacique. “São todos meus amigos e estão sempre por aqui. Por isso não preciso mandar convite”. Disse.

Na praça, à sombra de uma amendoeira, a banda de pífanos tocava músicas indígenas e até sucessos populares. O desafio entre pífanos, tambores, caixas e taró era constante e muito bacana, especialmente para quem gosta da cultura popular.

Entre os músicos estavam jovens que assumiam o instrumento quando o músico mais velho parava de tocar para descansar um pouco, ou quando a vontade de pitar um fuminho no cachimbo de madeira de angico, grande ou pequeno produzido artesanalmente na própria aldeia, era mais forte, assim como todo e qualquer viciado em tabagismo. Aliás, vício muito comum entre os indígenas.

A presença dos jovens na banda é uma tentativa de renovação e perpetuação da cultura musical indígena, já que a influência da música do homem branco é cada vez maior, principalmente na massificação, destas, nos veículos de comunicação influentes, da chamada cultura pop-brega, sertanejos universitários e forrós que não os são.

Nas barraquinhas de artesanato, produtos da cultura indígena: arco e flecha, colares e pulseiras confeccionados com sementes, brincos com pena de aves silvestres, panelas, frigideiras e potes de barro ou cerâmica; além de iguarias derivadas da mandioca: sequilho, biscoito, beiju, etc., produzidos sob orientação da Companhia de Ações Regional (CAR) órgão do Governo do Estado da Bahia, por meio do Programa Terra de Valor, que atua na aldeia.

À tarde, de acordo com a vasta programação cultural contida na 2ª FCK (Feira de Cultura Kiriri), com duração de dois dias (20 e 21), o cacique reuniu lideranças indígenas, convidados e palestrou sobre a Cultura e Idioma Kiriri.

Liderança indígena de reconhecimento internacional, o cacique Lázaro - que já fez palestras na Alemanha, Grécia, Portugal e Israel, falou sobre a importância da preservação da cultura indígena, especialmente a Kiriri, idioma, etc.

Em sua fala, o cacique fez um breve relato da luta do povo Kiriri que há três séculos habita o lugar e após 43 anos de luta finalmente o governo reconheceu a legitimidade da posse da terra e determinou a desocupação da área, sem, contudo, deixar de pagar indenização justa aos “invasores”, muitos dos quais souberam aplicar bem os valores recebidos e até melhoraram de vida.

“Posso dizer que a relação entre índios e ex-posseiros é muito boa e não parece que tivemos atritos que geraram mortes”, disse.     

Lázaro condenou o trabalho escravo e a exploração do trabalho infantil; Lei 601 de
amparo ao índio e citou três classes de pessoas, para ele, infelizes: “a que sabe e não ensina; a que não sabe e não pergunta; a que não sabe ensinar”.

Ao final, a palavra foi franqueada e o pajé José Miguel, o conselheiro Genival e alguns convidados aproveitaram para parabenizar o cacique e incentivá-lo a continuar na luta em defesa do seu povo.

Sábio, simples, quem o vê sem camisa o tempo todo circulando pela aldeia não acredita que aquele homem de estatura mediana e pele tostada pelo sol inclemente é uma liderança respeitada pelo seu povo, pelas autoridades, artistas, especialmente àqueles ligados às causas populares e indígenas.

Em defesa da cultura indígena Kiriri, um grupo de jovens estudantes do Ensino Médio liderados por José do Carmo de França, que conta com o apoio da professora Mônica, filha do cacique Lázaro, desenvolve pesquisa baseada na Tradição Oral que potencializa a memória Kiriri de Mirandela.

Uma longa e proveitosa conversa foi registrada pela equipe do site euclidesdacunha.com envolvendo estes alunos indígenas com o professor e pesquisador José Plínio de Oliveira, que tem buscado elementos substanciais para ajudar no desnvolvimento e preservação da Cultura Indígena envolvendo também os indígenas Kaimbé do aldeamento de Massacará, em Euclides da Cunha, onde atua como professor de Literatura no Campus XXII da Universidade do Estado da Bahia – Uneb.

Além de incentivar o aprofundamento da pesquisa e potencializar a memória da cultura indígena kiriri, o ilustre professor Plínio estimulou o grupo a desenvolver ações pela instalação da ‘Casa do Índio’ em Euclides da Cunha, para que os indígenas ao concluírem o Ensino Médio possam ter um local de hospedagem ao ingressarem para o Ensino Superior.

A sugestão foi muito bem aceita e as relações de amizade com o povo Kiriri de Mirandela cada vez mais fortalecidas.

Além de as autoridades representativas de órgãos governamentais: Funai, Funasa, Instituto Mauá, CAR, entre outras, a presença da prefeita Patrícia e comitiva de Banzaê, foi registrada.

Nos dois dias de festa aconteceram várias atividades culturais e esportivas, café da manhã e almoço para os presentes, finalizando as atividades do dia 20 com apresentação dos Cantos e Toré, em homenagem ao aniversariante do dia.
 
Fonte:  http://www.euclidesdacunha.com/noticias/cacique-lazaro-kiriri-faz-aniversario-e-recebe-ami/289#.U0Lq5aItqZQ

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