sábado, 1 de março de 2014

Metade dos documentos de posse de terra no Brasil é ilegal

A afirmação é do geógrafo Ariovaldo Umbelino, para quem o programa Terra  Legal permitirá que terras do patrimônio público ocupadas ilegalmente se  transformem em propriedade privada.

*por Marcella Lourenzetto
Publicado 20/06/2013 14:46, última  modificação 20/06/2013 14:51*

 *Ariovaldo: "há diversas formas de burlar a lei. Em São Félix do Xingu,  quase 100% dos documentos do cartório têm que ser anulados."*

O geógrafo, pesquisador e professor da USP Ariovaldo Umbelino fala sobre a  situação de propriedades que utilizam terras retiradas do patrimônio  público ilegalmente, os famosos casos de grilagem, e também se diz  contrário ao programa "Terra Legal" do Governo Federal.

"Nós temos no Brasil hoje um numero elevadíssimo de escrituras onde não há  fazendas", comenta o geógrafo. Ele explica que no país existe um número alto de fraudes na documentação de terras, principalmente em municípios com  importância econômica, como em São Félix do Xingu, no Pará, que possui o  segundo maior rebanho de carne bovina do país.

No começo de 2012, o geógrafo integrou um grupo que realizou um comparativo  entre o processo de retomada das terras devolutas do portal do Paranapanema, em São Paulo, com o que estava acontecendo em São Félix do  Xingu. Advogados da Faculdade de Direito do Pará também participaram do  projeto e o pesquisador liderou a equipe que foi a campo analisar a  situação da região.

"Nós verificamos que, na realidade, praticamente 100% dos documentos legais  do cartório têm que ser anulados, porque são falsos. A corregedoria do Pará  anulou todas as escrituras registradas no cartório de registro de imóveis  de São Félix do Xingu", afirma. E também indaga: "Ninguém é dono das terras  mais. Bem, dono do papel. Mas quem está lá na fazenda hoje?".

Umbelino alerta que o problema não é uma situação isolada ao norte do  Brasil. Atualmente ele enfrenta a mesma realidade em outros estados do país. "Isso tem em todos os municípios do Brasil. Estou fazendo esse trabalho lá em Minas Gerais, em Riacho dos Machados, é a mesma coisa.
Metade dos documentos é ilegal", afirma.

*Programa Terra Legal*

O programa é uma iniciativa do Ministério de Desenvolvimento Agrário que visa promover a regularização fundiária de ocupações em terras públicas  federais situadas na Amazônia Legal. Teve início em 2009, durante o governo  Lula e, de acordo com o Governo Federal, a meta se baseia em legalizar as  terras ocupadas por cerca de 300 mil posseiros. Com o projeto, o governo  também busca reduzir o desmatamento, ampliar as ações de desenvolvimento de  forma sustentável na região e reduzir os casos de grilagem.

Entretanto, para o geógrafo, não é bem isso o que acontece. Ariovaldo  acredita que as medidas provisórias propostas pelo ex-presidente Luiz  Inácio Lula da Silva, que autorizam a doação de porções de terras públicas  e aceleram os processos de regularização das propriedades, permitem a
legalização de mil e quinhentos hectares. Para ele, isso é um ato  inconstitucional e que também contribui na legalização dos grilos. "O  direito a legitimação de posse só pode ser feito para cinquenta hectares.  Como eu elevo para mil e quinhentos? Estou ferindo a Constituição", diz.

Ele ainda afirma que há formas de burlar a lei: "Coloco mil e quinhentos no  nome de um filho, depois mil e quinhentos no nome de outra filha, e  legalizo dez mil, vinte mil hectares". Umbelino defende que há o princípio baseado na ilegalidade e outro baseado na justiça social. "Quem tem terra
não tem que ter mais terra", conclui.
Fontes: Anaind - e-mail
http://www.cartacapital.com.br/sustentabilidade/metade-dos-documentos-de-posse-de-terra-no-brasil-e-ilegal-7116.html

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