REFLEXÕES SOBRE A TENDENCIOSA MATÉRIA DO JORNAL DA BAND - BANDEIRANTES ATÉ NO
NOME
Por Casé Angatu
Por Casé Angatu
A primeira consideração é que não
vemos nenhum mal um veículo de comunicação assumir posição. Digo isto porque
todo ponto de vista é um olhar parcial. Ou em outras palavras, a imparcialidade
é uma impossibilidade humana. Mesmo a lei e a justiça tem sua parcialidade.
Isto é, a lei é feita por homens para atender determinados interesses. Por
exemplo, a defesa quase absoluta da grande propriedade privada rural neste
país.
O problema é que o Jornal da
Band, bem como quase todos os veículos de comunicação, não assumi junto ao
público sua parcialidade, como fazemos em nossos espaços na rede social
virtual. Um bom exemplo é este nosso perfil que defende abertamente: a
Demarcação Já do Território Tupinambá de Olivença (Ilhéus/Bahia) por sermos
indígenas e acreditarmos na ancestralidade do Povo que reivindica seus direitos
originários.
A Band, cujo nome inteiro diz
muito sobre os que a constituem (Grupo Bandeirantes), tenta demonstrar que é
imparcial em suas matérias e pontos de vista. Porém, neste caso particular em
sua matéria jornalística joga a opinião pública contra o Povo Tupinambá e o
processo de Demarcação de seu Território. O problema é que a mesma não assumiu
sua parcialidade como fazemos neste espaço. Esta é impressão que fica explicita
na nossa leitura também parcial da matéria denominada: “BA: pessoas são
coagidas a fazer cadastro na FUNAI”.
Todo ponto de vista é uma
semiologia ou semiótica sobre a realidade que se deseja retratar, como analisam
Charles Peirce, Jacques Lacan, Slavoj Žižek, Noam Chomsky, Saussure, Michel
Foucault, Darton, entre outros pensadores cuja linhas deste texto seriam poucas
para denominá-los.
Aliás, uma discussão que já não é nova como alguns podem pensar. A semioticidade e/ou relatividade do olhar humano e de sua capacidade analítica já encontra respaldo nos filósofos pré-socráticos, isto sem considerarmos toda tradição filosófica e de sabedoria dos Povos Originários, Africanos e Asiáticos. Diziam meus ancestrais: “quem conta um conto aumenta um ponto”.
Porém, os autores da matéria do Jornal da Band e os proprietários daquele veículo devem ter fugidos das aulas de semiótica/semiologia, filosofia, história e antropologia. Ou talvez, buscam mesmo camuflar os interesses a que servem. Observem que não estou afirmando e sim ponderando, algo que a matéria do referido jornal não faz.
Aliás, uma discussão que já não é nova como alguns podem pensar. A semioticidade e/ou relatividade do olhar humano e de sua capacidade analítica já encontra respaldo nos filósofos pré-socráticos, isto sem considerarmos toda tradição filosófica e de sabedoria dos Povos Originários, Africanos e Asiáticos. Diziam meus ancestrais: “quem conta um conto aumenta um ponto”.
Porém, os autores da matéria do Jornal da Band e os proprietários daquele veículo devem ter fugidos das aulas de semiótica/semiologia, filosofia, história e antropologia. Ou talvez, buscam mesmo camuflar os interesses a que servem. Observem que não estou afirmando e sim ponderando, algo que a matéria do referido jornal não faz.
Segundo o pensador francês Michel
Foucault, oferecer conceitos, classificar e apresentar versões sobre as coisas
e os homens é uma forma de exercer poder. Todos nós fazemos isto, consciente ou
inconscientemente, de acordo com interesses individuais e coletivos. Então
pergunto: porque não assumir nossas imparcialidades? Porque levarmos aos nossos
leitores e/ou ouvintes uma visão parcial como a única possível?
O historiador Robert Darton contribui com esta percepção ao analisar que “a classificação é, portanto, um exercício de poder” (DARTON, Robert. O grande massacre de gatos. Rio de Janeiro: Graal, 1986, p. 249)
O tempo todo a referida matéria
denomina, adjetiva, classifica e generaliza a partir de uma única versão: a
daqueles que são contrários à Demarcação do Território Tupinambá de Olivença.
Vejamos alguns trechos e nossas reflexões sobre os mesmos. Reafirmamos que são nossas e não as únicas possíveis; até porque não somos bandeirantes:
Vejamos alguns trechos e nossas reflexões sobre os mesmos. Reafirmamos que são nossas e não as únicas possíveis; até porque não somos bandeirantes:
- Jornal da Band: “pessoas são
coagidas a fazer cadastro na Funai”.
Perguntamos: o Jornal da Band ouviu todas as pessoas que se cadastraram? Que pessoas são estas? Mesmo existindo: formam a maioria?
Perguntamos: o Jornal da Band ouviu todas as pessoas que se cadastraram? Que pessoas são estas? Mesmo existindo: formam a maioria?
- Jornal da Band: “Moradores eram
recrutados para se inscreverem como se fossem índios para engrossar invasões de
terra no sul da Bahia” e/ou “Centenas de moradores são coagidos a fazer
cadastro na Funai (Fundação Nacional de Índios) como se fossem índios para
engrossar invasões de terra no sul da Bahia.”
Questionamos: o Jornal da Band
ouviu todos os moradores de Olivença cadastrados? Quais são estes moradores
coagidos ao cadastramento? Mesmo existindo: formam a maioria? Os jornalistas
contaram quantos eram para chegarem ao dado de centenas?
- Jornal da Band: “A área pretendida
pela Funai fica numa região conhecida como Costa do Cacau e do Dendê. São
terras ocupadas tradicionalmente há séculos por mestiços, descendentes de
índios, brancos e negros que povoaram o Brasil desde os tempos do
descobrimento.”
Analisamos: Será que os responsáveis pelo Jornal da Band leram a Constituição
Brasileira e/ou ouviram falar da “Convenção n° 169 da Organização Internacional
do Trabalho - OIT - Sobre Povos Indígenas e Tribais 07/06/1989”? Vale frisar
que o Brasil é consignatário desta Convenção. Porém, caso os responsáveis pelo
Jornal da Band não ouviram falar da mesma e/ou faltaram às aulas de
antropologia e história irei ajuda-los. O texto da Convenção 169, entre outras
dimensões, diz o seguinte:
“A auto identificação como
indígena ou tribal deverá ser considerada um critério fundamental para a
definição dos grupos aos quais se aplicam as disposições da presente
Convenção.”
- Jornal da Band: “(...) mais de 100 propriedades já foram invadidas por grupos armados liderados por caciques que se dizem índios Tupinambá”; “Para aumentar o exército de invasores, os caciques fora da lei forjam cadastros de não índios.”
- Jornal da Band: “(...) mais de 100 propriedades já foram invadidas por grupos armados liderados por caciques que se dizem índios Tupinambá”; “Para aumentar o exército de invasores, os caciques fora da lei forjam cadastros de não índios.”
Discutimos: Nestas duas frases o
Jornal da Band abusa então das classificações: “propriedades invadidas”;
“caciques que se dizem índios Tupinambá”; “exército de invasores”; “cadastro de
não índios”. Percebe-se que em nenhum momento existe a perspectiva de uma
análise sobre estas denominações ou sua contextualização. Caso os jornalista do
Jornal da Band morassem em Olivença e região iriam perceber (se é que não
perceberam) que as mesmas são usualmente aplicadas pelos ruralistas e os
contrários à demarcação. Talvez a leitura do Relatório Demarcatório da FUNAI de
2009 seria uma ótima indicação para os atores da matéria. Porém, pensamos que
não adiantaria porque o filtro ideológico do jornal é claramente contra a
Demarcação Territorial e para isto precisa desqualificar os indígenas
Tupinambá.
- Jornal da Band: “(...) mais de 100 propriedades já foram invadidas por grupos armados liderados por caciques”; “Os conflitos aumentaram desde que uma base da Polícia Federal foi atacada no início do ano. Os índios são apontados como autores dos disparos. No início do mês, um agricultor foi morto a tiros e teve a orelha cortada. Quatro suspeitos são procurados, mas até agora ninguém foi preso.”
- Jornal da Band: “(...) mais de 100 propriedades já foram invadidas por grupos armados liderados por caciques”; “Os conflitos aumentaram desde que uma base da Polícia Federal foi atacada no início do ano. Os índios são apontados como autores dos disparos. No início do mês, um agricultor foi morto a tiros e teve a orelha cortada. Quatro suspeitos são procurados, mas até agora ninguém foi preso.”
Pensamos: Por fim, a matéria
criminaliza o Povo Tupinambá sem provas, reproduzindo as versões que estão
presentes em parte da mídia local e criminal, bem como nas falas dos
proprietários. Ou seja, o Jornal da Band faz acusações graves sem demonstrar
provas. Perguntamos: quais as provas para estas acusações? Os caso citados
foram apurados? Isto é legal?
Reparem também que em nenhum momento a matéria cita: os quatro indígenas mortos somente neste ano (2014); os carros incendiados; as ameaças contra a comunidade indígena que até suspenderam as aula na Escola Indígena Tupinambá; as “reintegrações” de posse violentas; os quebra-quebras promovidos pelos ruralistas em Buerarema. Perguntamos mais uma vez: será que a forma como o texto do Jornal da Band foi realizado não é uma contribuição à criminalização que vivem os Tupinambá em Olivença? Caso sim novamente indagamos: porque então não assumem sua parcialidade? Respondemos: sempre a partir de nossa ótica, para ajudar na (des)informação da opinião pública.
Reparem também que em nenhum momento a matéria cita: os quatro indígenas mortos somente neste ano (2014); os carros incendiados; as ameaças contra a comunidade indígena que até suspenderam as aula na Escola Indígena Tupinambá; as “reintegrações” de posse violentas; os quebra-quebras promovidos pelos ruralistas em Buerarema. Perguntamos mais uma vez: será que a forma como o texto do Jornal da Band foi realizado não é uma contribuição à criminalização que vivem os Tupinambá em Olivença? Caso sim novamente indagamos: porque então não assumem sua parcialidade? Respondemos: sempre a partir de nossa ótica, para ajudar na (des)informação da opinião pública.
Lembrei então de algo semelhante
também descrevendo os Tupinambá: “(...) são os mais cruéis e desumanos de todos
os povos americanos, não passando de uma canalha (...) Os mais dignos dentre
eles não são merecedores de nenhuma confiança”. OBS: este trecho não feito
escrito pelo Jornal da Band, apesar das semelhanças.
Estes trechos foram escrito por
André Thévet, frade fransciscano francês, que esteve no Brasil entre 1555-1556.
Portanto, os Tupinambá de Olivença vivenciaram e ainda vivenciam um histórico
processo de criminalização e perseguições que os fizeram, por vezes,
calarem-se. Quando assumiam-se como Índios e seus direitos foram brutalmente
perseguidos como foi a história do Índio Caboclo Marcelino – preso por duas
vezes entre as décadas de 1930-1940. Porém, os Índios de Olivença nunca
deixaram de serem Índios e reivindicam seus direitos originários ao Território
Ancestral.
O que sabemos, como o próprio texto do Jornal da Band em suas entrelinhas
admite, é que as terras de Olivença são “ocupadas tradicionalmente há séculos”
por seus habitantes. Muitos moradores que, em grande parte, foram coagidas a se
calarem em sua ancestralidade indígenas através da histórica violência.
Por isto ponderamos: não façam como
os responsáveis pela matéria do Jornal da Band, leiam o Relatório de Demarcação
da FUNAI de 2009; a Convenção 169 da OIT; os artigos da Constituição Brasileira
a relativos aos Povos Indígenas; procurem a literatura antropológica e
histórica sobre Povos Originários; leiam o Livro de Susana de Matos Veiga -
“Terra Calada: os Tupinambá na Mata Atlântica do Sul da Bahia”; o livro “Índios
na Visão dos Índios – Memória”; entre outros estudos valiosos, comprometidos e
sérios sobre Olivença e o Povo Tupinambá de Olivença.
Pensamos: o que incomoda o Jornal da Band e os contrários à Demarcação não é o reconhecimento étnico dos moradores de Olivença como Tupinambá, mas sim o direito ao Território Ancestral.
Pensamos: o que incomoda o Jornal da Band e os contrários à Demarcação não é o reconhecimento étnico dos moradores de Olivença como Tupinambá, mas sim o direito ao Território Ancestral.
Deste modo, seria bom que o
referido Jornal assumisse sua parcialidade e posturas para que seus leitores
não leiam suas matérias como “retrato fiel da realidade”. Ou seja, deixo uma
sugestão: Jornal da Band faça como nós em nossos espaços da rede sócia, assumindo
posições e concepções.
Afinal, não é por acaso que a
emissora carrega em sua denominação o nome Bandeirantes. Será que como os
bandeirantes dos anos de colonização primeiro é necessário criminalizar e
demonizar os Povos Originários para depois justificar o massacre e a invasão de
suas terras? Será que a Bandeirantes segue a trilha dos bandeirantes que na
falta de esmeralda caçavam os Índios?
Para finalizarmos, apesar da história nunca ter fim, deixamos uma foto do Gwarini Atã Índio Caboclo Marcelino que também foi criminalizado e preso entre as décadas de 1930-1940. O Jornal o Estado da Bahia de 06/11/1936 colocava como destaque: "Era uma vez Caboclo Marcellino". Porém, seu espirito guerreiro permanece presente. Na foto, tirada quando ele foi preso, aparecem da direita para a esquerda os Índios: Caboclinho, Marcionillo, Marcellino, Pedro Pinto; e Marcos Leite.
Para finalizarmos, apesar da história nunca ter fim, deixamos uma foto do Gwarini Atã Índio Caboclo Marcelino que também foi criminalizado e preso entre as décadas de 1930-1940. O Jornal o Estado da Bahia de 06/11/1936 colocava como destaque: "Era uma vez Caboclo Marcellino". Porém, seu espirito guerreiro permanece presente. Na foto, tirada quando ele foi preso, aparecem da direita para a esquerda os Índios: Caboclinho, Marcionillo, Marcellino, Pedro Pinto; e Marcos Leite.
Assim como ele e seus Parentes
resistiremos e cantaremos:
"quebra cabaça,
espalha semente ...
cai a língua
de quem fala
mal da gente"...
espalha semente ...
cai a língua
de quem fala
mal da gente"...
Awerê!
OBS: a referida matéria do Jornal da Band encontra-se no endereço: http://noticias.band.uol.com.br/cidades/noticia/100000666624/ba-moradores-sao-coagidos-a-fazer-cadastro-como-indios-.html
Fonte: e-mail
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