Assirati é contra demarcação passar para o Legislativo, pois, segundo ela, atrasaria processos de regularização
No comando do órgão há sete meses, ela só teve uma rápida reunião com a presidente até hoje
PATRÍCIA BRITTODE SÃO PAULO No
comando de uma área repleta de conflitos, a presidente interina da
Funai (Fundação Nacional do Índio), Maria Augusta Assirati, 36, diz que a
violência contra indígenas está se "banalizando".
Cacique Raoni com Maria Augusta Assirati na sede da Funai, em Brasília _ Foto Agência Brasil/Arquivo |
Em entrevista à Folha,
ela admite que, sozinho, o órgão não consegue lidar com o barril de
pólvora das disputas entre índios e produtores rurais. Há sete meses no
cargo, ela só teve uma reunião com a presidente Dilma Rousseff.
Anteontem,
um dia após a entrevista, cinco índios foram presos no AM sob suspeita
de matar três homens. Em nota, a Funai disse desconhecer os motivos das
prisões e afirmou monitorar a situação.
A seguir, os principais trechos da entrevista.
Folha - Os conflitos indígenas no Brasil têm se agravado. Por que se chegou a esse ponto?
Maria Augusta Assirati -
De uns anos para cá, as demarcações de terras indígenas estão
concentradas na porção sul e centro-sul do país. São regiões difíceis de
se trabalhar, porque muitos agricultores têm títulos das terras.
O governo Dilma foi o que menos homologou terras indígenas desde FHC. Por quê?
Sobretudo
por essa intensificação dos conflitos. Para evitar conflitos com
desfecho negativo, o governo estabeleceu mesas de diálogo.
Há
na Funai sete estudos sobre terras indígenas que esperam a sua
assinatura para ter continuidade na demarcação. Por que não assina?
Um
pouco em função dessa orientação; onde o governo compreendeu que
pudesse gerar conflito, se pensou em fazer um diálogo prévio.
Isso não agrava os conflitos?
O
governo federal é composto por diversos órgãos. A nossa posição nesses
diálogos é no sentido da defesa dos direitos indígenas. Mas o governo
federal é mais amplo.
Segundo
o Cimi [Conselho Indigenista Missionário], a média anual de índios
assassinados passou de 20,9 nos mandatos de FHC para 56 nas gestões de
Lula e de Dilma. Há descaso do governo?
Os
indígenas ainda estão no centro de ação de grande preconceito, de
racismo, e são vítimas, ainda, de uma violência grande no país.
O que o governo tem feito para resolver esses conflitos?
Essa
iniciativa da mesa [de negociação] foi interessante porque é justamente
voltada para a redução dos conflitos, mas é um caminho longo. Acredito
que se chegou a um ponto de uma banalização desse tipo de violência.
A estrutura da Funai é insuficiente?
A
Funai tem atuação em todo o Brasil e atende segmentos da população que
estão em lugares com logística difícil de acesso. Precisamos ter
presença mais frequente do ponto de vista da proteção territorial;
garantir que áreas já regularizadas não sejam ocupadas para exploração
ilícita de recursos naturais.
O que acha da proposta de dar ao Legislativo a atribuição de demarcar terras indígenas?
Na
perspectiva da Funai, é bastante negativa, porque atrasaria em muito os
processos e traria uma série de componentes políticos, de disputas
entre segmentos que integram o Congresso.
E da proposta do Ministério da Justiça de incluir outros órgãos nas demarcações?
O
decreto que rege a regularização fundiária das terras indígenas já tem
um dispositivo que prevê a possibilidade de consulta a outros órgãos. A
portaria propõe a regulamentação da forma de participação desses órgãos.
Se eles tiverem efetivamente a capacidade de contribuir, a ação é
bem-vinda.
Os
conflitos na construção de Belo Monte vão se repetir na região do rio
Tapajós (PA), onde o governo quer licitar novas hidrelétricas?
Esperamos que não. Por termos aprendido com a experiência de Belo Monte, esperamos fazer melhor.
Existe pressão do governo para ser permissiva em áreas onde há interesse em realizar obras de infraestrutura?
É
evidente que existe uma necessidade de priorizar ações. Todos os órgãos
intervenientes, como o Ibama, são sempre instados a ter manifestações
céleres em ações prioritárias para o governo.
Fonte: http://odescortinardaamazonia.blogspot.com.br/2014/02/violencia-contra-indio-esta-banalizada.html
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