domingo, 11 de abril de 2010

Fronteira da Educação - História do Município de Simões Filho


SOBRE OS PORQUES DO "PREFÁCIO"

Vários textos já escrevi sobre o Município de Simões Filho, Estado da Bahia, na tentativa de contribuir pelo resgate e valorização da sua história, cultura, educação, economia, cidadania, meio ambiente, etc. Aqui, aproveito-me deste espaço para oferecer o prefácio abaixo em virtude do livro no qual ele está inserido ter sido publicado com edição reduzida em analisando o número de escolas e instituições existentes no município - assim como pela busca constante por estudantes, professores, pesquisadores, empresas e governos sobre aspectos referentes à história deste município.

Eu e Sr. Apolinário, hoje com aproximadamente noventa aninhos e morando fora da cidade - temos sido convidados a palestrar sobre este tema. Enfim, para cobrir um tiquinho esta grande lacuna no que diz respeito ao resgate e valorização da História de Simões Filho, antes Água Comprida, distrito de Salvador e, muito antes, incrustada no século XVII era a região conhecida por Cotegipe. Veremos isto em seguida e nos meus dedinhos de prosa (textos) que ainda pretendemos publicizar aqui em PensamentAções & suas Fronteiras.

Boa leitura, e, se quiser, indique e comente.

AR


PREFÁCIO
(Livro História Comprida de Antonio Apolinário da Hora).

As histórias oral e escrita de Simões Filho não diferem entre si – delas se conhecem detalhes e vieses. Quando muito, encontramos poucas fontes e minutas referências. Muito do que teve e tem este município, podia e pode ser propulsor de crescimento e desenvolvimento – porém, enquanto, perdurar a mentalidade fragmentadora, mais o alheamento –, estes descaminhos vão dar numa encruzilhada, – comprometendo o tecido sócio-cultural, o humano e a sua cultura e nesta perplexidade as gerações que já nos avizinham.

Município bem servido pela natureza: colinas, tabuleiros, rios e matas que se juntam aos manguezais da Baía de Aratu, espécies de restinga e remanescentes de mata atlântica denotam um cenário de integração bafejado pelos ventos marinhos. A nossa terra foi habitada por etnias da grande massa dos Tapuia* nos primórdios de Pindorama e bem antes da colonização, pelas etnias de linhagem dos Tupi com a predominância dos Tupinambá, que tiveram participação nas lutas pela consolidação da Independência do Bahia em 2 de julho de 1823, ao lado dos africanos e brasileiros, que almejavam um Brasil livre da tirania.

Do Forte do Barbalho saíam as grandes boiadas pela Estrada Geral do Sertão, antes passando sobre a Ponte das Boiadas, situada na estratégica falha geológica, ali nas imediações do viaduto da BR 324 e da ponte ao lado, atravessando e alcançando outros estados. Resgatar esses rasgões no tecido histórico é respeitar esse passado e a identidade, oferecendo ao presente uma contribuição cidadã, promovendo um futuro promissor.

Não só dos habitantes seculares, mas resgatar as manifestações populares e artísticas daquele período até os nossos dias, aqui introduzidas com a chegada dos imigrantes portugueses e africanos e os migrantes de vários pontos do país, principalmente do Nordeste, Sertão e Recôncavo baiano.

Bumba-meu-boi, ternos de reis, lindro amor, maracatu, rezas, simpatias, artesanato e violas e tambores que “vestiam” de sons e percussões as danças, inclusive a Dança de São Gonçalo, e seu conjunto de saber herdado por Seo Mathias, (de saudosa memória) dos quilombolas da Fazenda Mocambo seus ancestrais do recôncavo, em Pitanga dos Palmares.

Os folguedos, rezas e cultos que se comunicavam pelo Oiteiro, Dambe, Cotegipe, Muriqueira (atual Góes Calmon), Matoim, com fiéis e cortejos de populares do Recôncavo e da Região Metropolitana de Salvador. Os migrantes perderam as fazendas e engenhos e se foram para a capital ou para o sul do país. Foi um fluxo e um refluxo –vinda e ida, – retirada e debandada. A cidade e a cidadania estonteiam! Cadê as Grandes Boiadas com sua Estrada e sua Ponte? Cadê o Ipê-do-Brejo que tinha aqui? Cadê os Povos que cultuavam ao redor daquelas Gameleiras (Iroko-Ioko-Tempo) na estrada dos Eucaliptos e que é “morada” de um Orixá ou Encantado, marcando, assinalando um tempo místico e mítico? Cadê o Rio Joanes, agonizando com o seu assoreamento, mas ainda “servindo” várias cidades? Cadê as palmeiras imperiais e remanescentes da mata atlântica na Unidade Ecológica de Cotegipe?... Ciranda, cirandinha, vamos todos resgatar?!...

Mapear esses mananciais, riquezas folclóricas e artísticas. Desenvolver projetos de arte, cultura e educação a partir da história e da geografia de Simões Filho que já foi Água Comprida e que bem antes era Cotegipe: Caminho das Cotias. Fazer uma “ponte” entre as ruínas da Paróquia de São Miguel de Cotegipe e do cais à sua frente, Igreja construída em 1608 pelo quarto bispo do Brasil – D. Constantino Barradas. Os manguezais, os tantos rios, lagoas, lagos e cachoeiras. Associar esta valorização a programas de educação ambiental que contemplem estas questões, preservando e educando a sociedade para uma ação proativa e de consciência eco-histórico-cultural. A cidade é de todos. Desde o período das tribos primevas até às tribos que ainda estão chegando. Mesmo com sua geografia acentuada e descarrilada a sua história, é preciso sonhar, desconstruir e reconstruir o Município sem a sanha das Aves de Arribação: Xô! Xô desalmado carcará! “Trocar o logus da posteridade pelo ‘logo’ da prosperidade : …” (Gilberto Gil).

A municipalidade é a pulsação da sociedade. A contemporaneidade exige o resgate dessa herança, a construirmos sua face identitária com sua pluralidade e diversidade, pois, como esfinges, - as Gameleira e as Três Pontes, - nos inquirem, tomada de rumo e garantia de afirmação!

Desta comprida história, existe um obstinado homem, Sr. Antonio Apolinário da Hora, Seo Tuninho, que entre o atendimento a um freguês e outro, vivia anotando, escrevinhando, rascunhando estas tantas pernas e rasgões no seu Bazar Estrela. Ele que tanto viveu as lutas pela emancipação desta terra ao lado de Hermínio Bonifácio, Walter Tolentino Álvares, Noêmia Meirelles e Altamirando Ramos, oferece-nos neste momento o seu livro HISTÓRIA COMPRIDA – lume aceso de sua ‘lamparina’ sempre azeitada de memórias, seriedade e muito esforço! Sua agenda de serviços prestados a esta municipalidade é quem mede a sua contribuição. Seo Tuninho estava sempre resolvido a trazer para o presente estas páginas e para este livro, - ele fez diversas recorrências: são histórias e mais histórias relatadas com apaixonamentos pela terrinha e sua gente – que fazem-me citar alguns versos da poesia Infância de Carlos Drummond de Andrade: “...comprida história que não acaba mais...e eu não sabia que minha historia era mais bonita que a de Robinson Crusoé “ !

Só um líder genuíno não dá meia-volta às dificuldades ou senta-se na pedra esperando a banda passar! Tranqueiras de pau obstruem a sua estrada, mas, a mente não tem fronteiras, e, ele, obstinado, gritou vivas aos Tupinambá, ao Ipê do Brejo, aos Engenhos, aos Ternos de Reis, à Dança de São Gonçalo, à Pedra do Caboclo, ao Milagre de Santa Luzia, ao Dambe e ao Tanque do Coronel! Ele não é nuvem branca, nunca foi Ave de Arribação, (é sim), o que nos escreveu o poeta, Mário Quintana em seu Poeminha do Contra:
“Todos esses que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!”.

Esse homem, este líder, merece mais que cortesia (embora carecemos demais de civilidade!), mas de respeito pela sua batalha nesta Terra e pela sua Gente, pela generosidade em memória trazida no seu HISTÓRIA COMPRIDA, - que os sinos dobrem por suas páginas de Resgate e Paixão: Vivamos a Simões Filho que queremos!

Ademario Ribeiro
Ps.: A montagem acima a partir da foto de Dinei com a ruina da Matriz em referência, sobre o quadro da 1ª missa no Brasil de Victor Meireles.

8 comentários:

  1. Que bom que ainda existam pessoas que se preocupam em manter viva as nossas memórias!

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  2. Poxa, Ademario parabéns para você e para a professora Ana Boaventura e para o CESA como um todo por estas ativiaddes: "Oficina da Celebração", realmente é uma prática de Arte Educação na Sala de Aula e eu vou tentar colocar na ordem do dia nas escolas por onde eu passar.

    Parabéns mais uma vez! Assim a educação vai ser realemnte criativa e significativa!

    Marileide do Nascimento, pedagoga.

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  3. Boa noite companheiros e companheiras acontecerá em Quijingue na proxima sexta-feira uma audiencia para a implantação de escola tecnologica e uma sonhada universidade Federal

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  4. Caro Ademário,

    Fico cada dia mais surpreso com sua desenvoltura no que tange à Informática.
    É óbvio que em relação ao conteúdo dos seus trabalhos me sinto com liberdade suficiente para avaliar, pois o conheço há muito. Fomos parceiros e somos (fomos e seremos) sempre...
    Quero no entanto, agendar se possível, um encontro para traçarmos metas para implementação de uma ONG, uma vez que nesta minha nova caminhada, encontrei uma companheira que se dedica plenamente na construção de uma atividade com este perfil.
    Diga quando e onde fica melhor para este encontro, e tenha certeza de que envidarei esforços para fazê-lo acontecer.
    Aguardarei notícias suas.
    Beijos ardentes e abraços calorosos do amigo Gramacho.

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  5. Sou amante da cidade de Simões Filho e lamento o fato de termos mudado nossa identidade que outrora era Água Comprida. Percebo que esse fato seguiu na contramão da manutenção de nosso legado histórico. Tanta riqueza rabiscada na parede da memória de nossa gente...Somos os brasis que o Brasil desconhece...
    simonesmile@gmail.com

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  6. lamento que pessoas como vc não esteja envolvido na secretaria de cultura desse municipio. Como sempre, quem muito sabe, fica sempre a margens e vão contando o que querem do nosso municipio, parecendo que não tem passado.

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  7. Estimado ou estimada? Havemos de sobreviver. Que os munícipes ou melhor, os cidadãos, tomem com amor as suas cidades e façam escolhas sensatas e não apenas, fiquem quais insetos em volta das supostas lâmpadas dos senhores feudais: supostos "homens bons" na cultura colonial. Eles mandam e desmandam. DEUS e o POvo, porém têm como reverter processos. Oxalá!

    Grato pela a atenção e se identifique, por favor, se quiser.

    Paz!!!

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  8. Prezado Ademário,

    O que seria de Simões Filho sem a sua existência? Uma história viva dessa cidade, aliás não só de Simões Filho, mas da Bahia e do Brasil! O ponto de partida para resgatar a história de Água Comprida começa por esse Avá. Esperemos que um dia o seu reconhecimento seja reconhecidos pelos próprios moradores dessa adormecida cidade.
    Anauê Ademário!

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