sábado, 9 de maio de 2015

CNBB suspeita de crimes em série contra índios no Nordeste

Carlos Madeiro

Do UOL, em Maceió

  • Cimi/Divulgação
    Protesto contra a morte de Adenilson da Silva Nascimento, do povo Tupinambá, na Bahia
    Protesto contra a morte de Adenilson da Silva Nascimento, do povo Tupinambá, na Bahia
O assassinato de três lideranças indígenas no Nordeste em uma intervalo de oito dias causou preocupação aos povos que vivem na região e fez o Cimi (Conselho Indigenista Missionário) --entidade ligada à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil)-- levantar a hipótese de que as mortes sejam "seletivas" e tenham relação entre si por envolver índios que se destacavam na luta pela terra.  
As mortes ocorreram no Maranhão e na Bahia. A primeira vítima foi Eusébio Ka´apor, morto no dia 26 de abril, noMaranhão. Depois, foram assassinados Adenilson da Silva Nascimento, no dia 1º; e Gilmar Alves da Silva, no dia 3 de maio --ambos os crimes na Bahia.
"Avaliamos que os ataques covardes não são fatos isolados. Trata-se de assassinatos sequenciais e seletivos de líderes e integrantes de povos indígenas no Brasil", afirmou o Cimi, que emitiu um manifesto nessa quarta-feira (6) demonstrando preocupação e pedindo a investigação dos casos.
Para o Cimi, os assassinatos "atestam o aprofundamento do processo de violação de direitos e de violências contra os povos indígenas no Brasil".
A entidade alega que é fundamental que os assassinos sejam identificados e punidos.
Para o órgão, três fatores principais justificariam as mortes: "Os discursos racistas proferidos por parlamentares ruralistas do Congresso Nacional, a paralisação dos procedimentos de demarcação e a omissão quanto à proteção das terras indígenas por parte do governo Dilma e decisões da 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), que anularam atos administrativos de demarcação de terras nos últimos meses".
No dia 29, o secretário-executivo do Cimi, Cleber Buzatto, denunciou ao Fórum Permanente para Questões Indígenas ONU (Organização das Nações Unidas), em Nova York, a insegurança de lideranças indígenas que lutam por seus territórios e pediu providências pela retomada das demarcações das terras indígenas no Brasil.
Também pediu uma "ampla consulta com os povos indígenas e construção uma legislação inclusiva sobre biodiversidade".

As mortes

O agente indígena de saneamento Eusébio Ka'apor, 42, da aldeia Xiborendá, da Terra Indígena Alto Turiaçu (MA), foi assassinado no dia 26 de abril com um tiro nas costas. Ele voltava de uma aldeia onde mora o filho e estava de carona em uma moto, quando dois homens encapuzados abordaram o veículo, pediram que parasse e, em seguida, o acertaram um tiro.
Testemunhas afirmam que o crime foi cometido por madeireiros do município de Centro do Guilherme.
Eusébio era integrante do Conselho de Gestão Ka'apor e teria sido morto em retaliação a ações de fiscalização e vigilância territorial iniciadas em 2013 pelos índios. Em março, a tribo fechou todos os ramais de invasão madeireira da Terra Indígena Alto Turiaçu. Eusébio era considerado um líder combativo contra a exploração ilegal de madeira.
Diante da repercussão, o Ministério Público Federal no Maranhão requisitou abertura de inquérito à Polícia Federal para investigar o caso. Os índios afirmam que temem prestar queixa na delegacia da cidade por conta de possível apoio da polícia local aos madeireiros.
O agente indígena de saúde Adenilson da Silva Nascimento, conhecido como "Pinduca", 54, foi assassinado no dia 1º, numa estrada que liga Ilhéus ao município de Una, nas proximidades da aldeia Serra das Trempes, Terra Indígena Tupinambá de Olivença (BA).
Segundo o Cimi, o assassinato de Adenilson ocorreu em situação semelhante ao de Eusébio. Dois homens encapuzados cercaram e atingiram Eusébio com um tiro nas costas. A Polícia Civil ainda investiga o caso.
Em protesto pelo crime, cerca de 300 indígenas tupinambás fecharam, na última segunda-feira (4), a ponte que liga o distrito de Olivença a Ilhéus.
Já o indígena Gilmar Alves da Silva, 40, foi morto enquanto ia à aldeia Pambú, povo Tumbalalá, no município de Abaré (BA).
Ele também pilotava uma moto, que foi interceptada por um automóvel. Com o impacto, Gilmar caiu e foi alvejado por uma sequência de tiros. Ele ainda conseguiu voltar a sua a aldeia, mas não resistiu e morreu.
A Polícia Militar conseguiu apreender o carro usado. O suspeito do crime está sendo procurado, mas não teve o nome revelado.

Funai acompanha

Ao UOL, a Funai (Fundação Nacional do Índio) informou que está acompanhando as investigações das mortes de Eusébio Ka'apor e Adenilson da Silva Nascimento, mas que em relação à morte de Gilmar Alves não tem conhecimento do caso.
Sobre as demarcações, o órgão disse que a orientação do governo federal "é no sentido de promover o maior dialogo possível entre os órgãos da administração pública federal e entes federados eventualmente atingidos pela demarcação de terras indígenas, de forma a minimizar os conflitos de interesse, construir consensos, contribuindo para a redução de conflitos".
A Funai ainda disse que, com essa orientação, o resultado, em um curto prazo, é o "retardamento da edição dos referidos atos administrativos".
Fonte: http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2015/05/08/cnbb-suspeita-de-crimes-em-serie-contra-indios-no-nordeste.htm

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