Controle social na saúde indígena: a experiência da OPAN em Brasnorte, MT | |
Baixar aquivo (18.035,40kb)
| |
Apresentação
No âmbito e contexto das Conferências
Nacionais de Saúde Indígena e no processo de ampliação das ações que o
Estado brasileiro oferecia em consequência das mesmas, a OPAN foi
procurada pelo Ministério da Saúde, via DESAI/Funasa, em 1999, para
contribuir de maneira inicial no estabelecimento de serviços de saúde
que chegassem até as aldeias como serviços que pudessem ser
caracterizados como atenção primária de saúde.
Realizamos esse serviço e essa atenção
com as pessoas, com as famílias, com as comunidades indígenas, a partir
de um modelo de atuação atento às especificidades social e cultural dos
povos Enawene Nawe e Myky/Irantxe (Manoki), em um modelo diferenciado
daqueles oferecidos ao conjunto da sociedade nacional. Nesse sentido,
fortalecer a organização desses povos e os DSEIs (DSEI Cuiabá) na
concretização do subsistema de saúde indígena, contribuindo
para a consolidação de uma Política Nacional de Saúde Indígena (PNASI),
foi sempre nosso interesse mais amplo.
Para registrar esta experiência, seguem
os produtos gerados em 2011, previstos na execução do último ano do
convênio, relativos ao encerramento desse trajeto de 12 anos de
trabalho. A OPAN encomendou a especialistas análises sobre séries
temporais, para subsidiar os rumos que serão dados daqui por diante na
PNASI com base na experiência vivida pela Operação Amazônia Nativa na
atenção à saúde dos Povos Myky/Manoki e Enawene Nawe no Polo Brasnorte
em Mato Grosso – agora em 2013 trazidos a público por ocasião da 5ª
Conferência Nacional de Saúde Indígena.
Em nossa atuação, destacamos o diálogo
permanente com as comunidades, com os profissionais de saúde contratados
e com os chamados conselhos do controle social. Sempre entendemos que
esses conselhos precisam ter autonomia e liberdade para exercer suas
funções não apenas como espaço de cobranças, mas como um conselho que
orienta e observa primeiramente quais são os fatores que geram saúde nas
comunidades indígenas. Os conselhos locais podem indicar quais são as
verdadeiras “causas das doenças”, dizendo se são doenças provocadas por
espíritos, por problemas de má alimentação, de desorganização social,
por conflitos entre gerações, por falta de perspectivas e esperança da
sociedade ou ainda outras causas. O Condisi, por sua vez, zela e
garante que os planos de trabalho sejam pensados e aprovados para
execução mediante essas discussões realizadas nos conselhos locais das
aldeias.
Neste sentido, a gestão da saúde é, antes de tudo, uma responsabilidade das famílias e das comunidades.
E, a fim de resolver o que a falta de
saúde provoca, todos são responsáveis em união de esforços, considerados
sempre os papéis das autoridades locais e da entidade
gestora. A atenção diferenciada depende, portanto, desse diálogo
permanente e da capacidade dos DSEIs se constituírem como unidades
gestoras autônomas a partir do estabelecimento de relações de respeito
mútuo onde o controle social seja efetivamente capaz de construir
orientações precisas para o desenvolvimento das equipes de profissionais
e de um trabalho integrado às realidades locais.
Ao gerir recursos públicos no campo da
saúde indígena, a OPAN buscou cumprir com sua responsabilidade de
gestora e, ao mesmo tempo, informar as comunidades indígenas sobre todos
os trâmites burocráticos que implica um convênio com um órgão público.
Neste diálogo constante com as
comunidades, nesta parceria também com os profissionais contratados (e
nos planos de trabalho e pactos construídos coletivamente), em 12 anos
de convênio não registramos nenhuma ação trabalhista
contra a OPAN. Concluímosnossa missão com boa avaliação dos povos Myky,
Manoki e Enawene Nawe não obstante as limitadas condições oferecidas
pela Funasa nos últimos anos de convênio para uma gestão mais autônoma.
Assim, esse conjunto de quatro trabalhos
constitui-se como uma retrospectiva histórica da execução dos serviços
pela conveniada, quanto da perspectiva demográfica, epidemiológica,
antropológica e nutricional desses povos resultante da organização e
execução dos serviços a eles (e com eles) prestados.
Esperamos que os resultados aqui
apresentados, bem como as proposições e recomendações registradas,
possam inspirar a atuação dos diversos agentes e órgãos envolvidos
com a PNASI consolidando o direito reservado e reconhecido aos povos
indígenas a uma atenção diferenciada.
Ivar Luiz V. Busatto
Coordenador Geral da OPAN
Fonte: http://amazonianativa.org.br/biblioteca/2/3/36.html
|
terça-feira, 28 de janeiro de 2014
Controle social na saúde indígena: um livro de leitura urgente e balizadora
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário