terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Soneto de um Payayá ao Pataxó, Galdino...

SONETO AOS HEROIS: GALDINO PATAXÓ*
Juvenal Payayá





Galdino te vitimaram assim:
Em madrugada lúdica e fria;
Tal mendigo, o viver se nega, enfim,
Pois, ao covarde é figura espúria;

Galdino Pataxó e Jão Cravim,
Filhos de Minarvina e seu Jó
Guerreiros, vítimas dos mandarim,
Revoltam no tronco os manitó

Vida severa forjada em luta:
Buscar a terra por juta causa
Das mãos infames -, covarde, bruta!

Na paz guerreira alegria é musa
Não rende o espírito, a fé não abate,
Se a vida é vivida no combate.

*Galdino Pataxó, liderança do indígena do Povo Pataxó Hãhãhãe, da reserva indígena Paraguaçu Caramuru em Pau Brasil, Ba. Cruelmente incendiado vivo em 20 abril de 1967, enquanto dormia em um ponto de ônibus de Brasília. Os quatro assassinos são: Tomás Oliveira de Almeida, Max Rogério Alves, Eron Chaves Oliveira e Antônio Novely Cardoso Vilanova.

Saber mais:
www.juvenal.teodoro@uol.com.br
http://mais.uol.com.br/juvenalpayaya
https://twitter.com/Jpayaya

2 comentários:

  1. O Cacique Juvenal escreveu:
    "Grato meu caro Ademário. A postagem fica por sua generosidade, na há de melhor para um poeta que o reconhecimento de um poeta amigo.
    Abraço
    Cacique Payayá".

    www.juvenal.teodoro@uol.com.br
    http://mais.uol.com.br/juvenalpayaya
    https://twitter.com/Jpayaya

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  2. As Chamas de Almas Mortas

    (Para o Pataxó: Galdino Jesus dos Santos - em memória)


    As chamas de almas mortas
    Se movem - Mais um índio cai inerte
    Envolto pelas chamas ignotas
    De um desdenhar que perverte.
    Almas que se ocultam entre as chamas
    Para o destilar do ódio, da amargura...
    E, surdas, em noite escura,
    Não ouvem um ser que clama!

    Em meio àquelas labaredas, terminal
    De sonhos, esperanças, calor...
    Que viraram tochas em macabro ardor
    De madrugada seca e infernal

    Vislumbramos a solidão do deserto
    Que há em todos nós, que navegamos
    Em mar vermelho e incerto
    De tubarões gélidos que encontramos.

    Era um Pataxó que quisera ser
    Mendigo de suas próprias heranças
    Destronado que fora dos sonhos de ter
    Suas matas, habitadas de lembranças.

    Recebeu sua parte comendo o pão
    Buscado sob mesas fartas,
    O seu pedaço de chão:
    Em chamas, à semelhança de suas matas.



    Nota: o autor é neto de uma Pataxó, Ana Maria de Jesus, falecida em 2005 aos 95 anos.

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